Repórter / aline.almeida@redegazeta.com.br
Publicado em 19 de abril de 2025 às 09:00
Em 2025, o Brasil celebra os 60 anos da Jovem Guarda, movimento musical que sacudiu os cabelos, os costumes e as vitrines das lojas nos anos 1960. Misturando guitarras elétricas, jaquetas de couro, calhambeques enfeitados e muito amor juvenil, a Jovem Guarda não foi só um estilo musical — foi um jeito novo de viver a juventude brasileira. E engana-se quem pensa que esse movimento tinha sotaque só paulista ou carioca: o Espírito Santo teve participação de peso na trilha sonora dessa revolução comportamental.
O marco inicial foi a estreia do programa de TV “Jovem Guarda”, em 22 de agosto de 1965. Apresentado por Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos, o programa virou fenômeno entre os jovens, com músicas que falavam de amor, liberdade, rebeldia “do bem” e muitos sonhos juvenis. O movimento trouxe ao centro da cultura nacional artistas jovens, guitarras elétricas, um estilo de vida urbano e moderno e ajudou a popularizar o rock brasileiro nos anos 1960.
Que o "Rei" Roberto Carlos, o maior ícone da Jovem Guarda, é cachoeirense, não é nenhuma novidade. Mas ele não foi o único capixaba a fazer história no movimento. Outro nome essencial foi o de Carlos Imperial, também de Cachoeiro de Itapemirim. De acordo com o pesquisador musical Tarcísio Faustini, Imperial era produtor musical, apresentador, compositor e uma espécie de “agitador cultural” antes mesmo de a expressão existir.
Foi Carlos Imperial quem acreditou em Roberto Carlos ainda no início da carreira e ajudou a formatar o estilo que se tornaria a Jovem Guarda. "Imperial apresentava programas na televisão carioca e ajudou Roberto Carlos no início de carreira. Foi ele quem produziu o primeiro disco de Roberto, que não autoriza a regravação porque não ficou satisfeito com o resultado", contou o pesquisador.
Com seu jeito irreverente e visão ousada, Imperial foi um dos motores nos bastidores da juventude que pedia mais ritmo e menos caretice. Além de impulsionar a carreira de Roberto Carlos, Carlos Imperial teve atuação marcante em várias frentes da cultura brasileira. Produziu discos, escreveu músicas, comandou programas de TV e rádio, participou de filmes e até se envolveu com política.
Carlos foi responsável por lançar nomes como Elis Regina e Wilson Simonal, e tinha faro apurado para identificar tendências e talentos. Com seu estilo provocador, chegou a ser chamado de “pai da Jovem Guarda” por sua influência direta na sonoridade, na estética e na atitude do movimento. Seu papel foi fundamental para abrir espaço à música jovem brasileira em um mercado até então dominado por estilos mais tradicionais.
Outro personagem importante, ainda que menos conhecido do grande público, foi o compositor Rossini Pinto, natural de Mimoso do Sul. "Rossini teve papel fundamental nos bastidores, adaptando letras de sucessos internacionais para o português e compondo músicas que estouraram nas rádios. Se muitos hits grudaram na cabeça dos fãs da Jovem Guarda, é porque teve capixaba por trás afinando as palavras", diz Tarcísio.
Rossini Pinto escreveu para nomes como Jerry Adriani, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, Paulo Sérgio e Wanderléa, deixando sua marca em canções que embalaram uma geração. Entre seus maiores sucessos estão "A Carruagem", "Meu Coração Ainda É Seu", "Amor e Desprezo", "Carta de Amor" e versões como “Michelle”, dos Beatles, que ajudaram a aproximar o público brasileiro do rock internacional.
Além de compositor, atuou como produtor musical e jornalista, sendo uma figura estratégica na construção do repertório da Jovem Guarda. Seu talento nos bastidores fez dele uma peça-chave do movimento, mesmo sem a projeção dos astros do palco. "Suas versões musicais fizeram muito sucesso na Jovem Guarda, especialmente gravadas pelos conjuntos - bandas - Golden Boys e The Fevers", completou o pesquisador.
Aos 60 anos, a Jovem Guarda continua sendo referência. Seus hits ainda embalam festas, trilhas sonoras e corações. Suas gírias — como “broto”, “carango” e “barra limpa” — hoje soam um pouco vintage, mas marcaram uma época em que ser jovem era, acima de tudo, se divertir ao som da guitarra. E o Espírito Santo pode dizer com tranquilidade que teve parte importante nessa história.
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