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Publicado em 9 de setembro de 2025 às 10:00
A partir de terça-feira (09), às 19h, o Palácio Anchieta, em Vitória, abre as portas para a exposição “Línguas africanas que fazem o Brasil – Itinerância Espírito Santo”. A mostra convida o público a conhecer, por meio de instalações interativas, esculturas, videoinstalações, filmes, registros históricos e obras contemporâneas, a influência decisiva das línguas africanas na formação do português e na cultura brasileira. A entrada é gratuita. >
Idiomas de povos da África Subsaariana, como o iorubá, o ewe-fon e as línguas do grupo banto, moldaram profundamente o vocabulário, a pronúncia e a entonação do português falado no Brasil, mesmo que muitos falantes desconheçam essa origem. >
Esse legado é fruto da presença forçada de cerca de 4,8 milhões de africanos trazidos ao país entre os séculos 16 e 19, no período escravocrata. Além do idioma, essa influência se manifesta na música, nas festas populares, na arquitetura e nas práticas religiosas.>
Logo na entrada, o público será recebido por 15 palavras de origem africana , entre elas marimbondo, dendê, canjica, minhoca e caçula, impressas em estruturas ovais de madeira suspensas no espaço. Elas também poderão ser ouvidas.>
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Outro destaque é o tecido criado pelo artista baiano J. Cunha, estampado com a frase “Civilizações Bantu”, que vestiu o bloco afro Ilê Aiyê no Carnaval de 1996. Suspensos pelo espaço, 20 mil búzios reforçam a conexão espiritual das culturas afro-brasileiras, enquanto símbolos adinkras espalhados pelas paredes remetem à tradição do povo Ashanti, ainda hoje presente em elementos arquitetônicos no Brasil.>
Entre as obras em destaque estão as videoinstalações da artista fluminense Aline Motta. Em Corpo Celeste III, projetada em larga escala no chão, a artista valoriza grafias centro-africanas do povo bakongo. Já em Corpo Celeste V, criada especialmente para o Museu da Língua Portuguesa, provérbios em diferentes idiomas africanos ganham movimento nas paredes, dialogando com o trabalho anterior.>
A escultora baiana Rebeca Carapiá, reconhecida pela nova geração das artes visuais, apresenta criações em metal que evocam frequências e grafias afrocentradas. A mostra também revisita músicas populares como Escravos de Jó e Abre a roda, tindolelê, revelando raízes africanas nos versos. >
Segundo o curador Tiganá Santana, apoiado nas pesquisas da professora Yeda Pessoa de Castro, a convivência entre escravizados crioulos, ladinos e mulheres negras foi decisiva para a integração linguística e cultural.>
A exposição também explora expressões não-verbais das culturas africanas. Tranças que serviam como mapas de fuga durante a escravidão, turbantes que indicam posições hierárquicas no candomblé e criações da designer Goya Lopes, inspiradas nas capulanas de Moçambique, evidenciam a força estética e simbólica dessa herança.>
A cenografia traz ainda tambores acompanhados por projeções de mar e trechos da obra de Lélia Gonzalez, nos quais a intelectual cunhou o termo “pretuguês”. Esse ambiente se conecta às esculturas de Rebeca Carapiá e convida à imersão. Já em uma sala de cinema interativa, os visitantes ativam imagens ao pronunciar palavras como axé, afoxé, zumbi e acarajé.>
A mostra reúne registros de Clementina de Jesus, materiais da Missão de Pesquisas Folclóricas liderada por Mário de Andrade, entrevistas de linguistas como Félix Ayoh’Omidire, Margarida Petter e Laura Álvarez López, além de apresentações do bloco Ilú Obá De Min e da Orkestra Rumpilezz. Também será exibido o vídeo Encomendador de Almas, de Eustáquio Neves, que retrata a vida de Crispim, liderança quilombola no Vale do Jequitinhonha.>
Entre os sons que ecoam pela mostra estão os cânticos em iorubá, fom, quimbundo e quicongo, gravados nos anos 1940 na Bahia pelo linguista Lorenzo Dow Turner e preservados pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Dois filmes sobre o Quilombo Cafundó, incluindo um inédito, aprofundam o estudo sobre a língua cupópia.>
Com curadoria do músico e filósofo Tiganá Santana, a itinerância reúne importantes nomes da arte contemporânea brasileira e também artistas capixabas como Castiel Vitorino Brasileiro, Natan Dias e Jaíne Muniz. A exposição fica aberta ao público até 14 de dezembro de 2025, com recursos de acessibilidade como audiodescrição, Libras e acessibilidade motora.>
Após receber mais de 240 mil visitantes no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, “Línguas Africanas” chega ao Espírito Santo em uma ação do Instituto Cultural Vale e do Museu Vale, com concepção do Museu da Língua Portuguesa. A mostra conta ainda com apoio da Secult-ES, patrocínio da Vale e realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.>
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