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Publicado em 15 de maio de 2025 às 15:30
Um legado de resistência, arte e ancestralidade toma o palco do Mucane - Museu Capixaba do Negro, no Centro de Vitória. Nesta sexta (16), sábado (17) e domingo (18), sempre às 16h, o espetáculo “Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista” estará em cartaz com entrada gratuita. >
A montagem, protagonizada pela atriz e bailarina Ivanna Cruz, homenageia Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Com uma trajetória marcada pela quebra de barreiras e pela valorização da cultura afro-brasileira, Mercedes foi pioneira na criação do balé afro-brasileiro e se tornou um símbolo da dança moderna no país.>
O espetáculo mistura teatro, música ao vivo e dança para recontar essa trajetória inspiradora. Com direção artística de Luiz Antônio Rocha, coreografias de Diego Rosa e texto assinado por Ivanna Cruz, Pedro Sá Moraes e Luiz Rocha, a peça já passou pelo Rio de Janeiro e São Luís (MA), e agora chega à capital capixaba como parte do projeto patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura.>
A encenação traz ao palco ritmos ancestrais como o Jongo e a Mana Chica, entrelaçando memória, espiritualidade e resistência. A trilha sonora e as interpretações das musicistas e atrizes Geiza Carvalho e Lelê Benson ajudam a construir uma atmosfera que remete aos terreiros de candomblé, berço de parte importante da pesquisa de Mercedes.>
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A conexão entre Mercedes Baptista e Ivanna Cruz vai além da homenagem: ambas nasceram em Campos dos Goytacazes (RJ), uma cidade marcada pelo passado escravocrata e pela resistência negra. Com meio século de diferença, essas duas mulheres transformaram seus corpos em instrumento de luta e expressão artística. Ivanna segue os passos de Mercedes não apenas como bailarina, mas também como criadora, produtora e militante da cultura negra. >
“Mercedes foi uma visionária. Ela criou, coreografou, administrou e fez sua arte acontecer em uma época em que ser mulher e negra era sinônimo de portas fechadas. Eu vejo nela a força que preciso para continuar”, afirma Ivanna.>
A atriz destaca que a montagem é também um processo de cura e reencontro com as raízes. “Espero que o público se sinta tocado, que reconheça em Mercedes sua própria força e entenda que a arte negra não é resistência apenas – é potência, é base, é construção coletiva.”>
Ao longo da apresentação, o público é convidado a refletir sobre o papel da cultura negra na formação da identidade brasileira. O espetáculo celebra não só a vida de uma artista, mas um patrimônio cultural forjado na luta e na ancestralidade. >
O diretor Luiz Antônio Rocha reforça o caráter político e educativo do projeto: “Mercedes é uma pedra fundamental da dança afro-brasileira. Ao resgatar ritmos que estão sendo esquecidos, como o Jongo e a Mana Chica, estamos também preservando uma memória que a colonização tentou apagar.”>
Já o músico e ator Pedro Sá Moraes, também autor da peça, vê o projeto como um gesto de reparação histórica: “A arte de Mercedes foi uma forma de gritar com o corpo. De afirmar que sua presença nos palcos era legítima, necessária e transformadora. Contar sua história é impedir que ela seja apagada.”>
Mercedes Baptista fez história não apenas por ocupar um espaço inédito no ballet clássico, mas por ousar fundir a técnica eurocêntrica com a riqueza dos movimentos de matriz africana. Criou um vocabulário próprio, estruturou o Ballet Folclórico Mercedes Baptista e se tornou referência internacional. Recebeu prêmios, homenagens e reconhecimento, mas nunca perdeu o foco: mostrar que o corpo negro tem lugar de destaque na dança, não à margem. >
Mercedes esteve no Espírito Santo em 1977, onde colaborou com o grupo de capoeira Beribazu e com a escola Lenira Borges Ballet Studio. A partir dessa vivência, criou um espetáculo que se tornou um marco na história cultural capixaba. Em Vitória foi criado o Dia Municipal da Dança Afro, celebrado em 18 de agosto, em homenagem a data de falecimento da artista.>
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