Repórter de HZ / [email protected]
Publicado em 28 de julho de 2023 às 18:12
Neste sábado (29), a 6ª edição do Festival de Cinema de Santa Teresa (FECSTA) chega ao fim! No último dia de evento, que começou na quinta (27), rodas de conversas, desfile de moda, exibição de filmes e documentários prometem aquecer a cidade, na Região Serrana do Estado. O encerramento fica por conta da cantora Angela Ro Ro, que se apresenta no Auditório do Senac, a partir das 22h20.>
Além dos sucessos "Amor Meu Grande Amor" e "Compasso", a cantora, compositora e pianista, de talento inquestionável, promete um repertório de memórias, que vai da Bossa Nova ao Jazz. "Passeio por tudo um pouco, espero que o povo goste!", contou, durante bate-papo com HZ.>
Nascida no Rio de Janeiro, Ro Ro começou a chamar atenção pelo seu talento na década de 1970, mas já se interessava pela música bem antes, aos 5 anos. Durante quatro décadas de carreira, bateu ponto no Espírito Santo inúmeras vezes, principalmente nas cidades de Vitória e Cachoeiro de Itapemirim. >
Angela detalhou, entre outros assuntos, a expectativa de se reencontrar com o público capixaba, o que mais gosta no cinema nacional (e internacional), os próximos passos na carreira e (em seu ponto de vista) qual a relação entre o meio ambiente e cultura. Confira: >
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A expectativa é de me apresentar o melhor possível em um festival tão importante e tão simpático quanto esse de cinema de Santa Teresa. Já tem um tempo que eu não vou aí...
Já faz realmente um tempo que eu não vou ao Espírito Santo, mas Vitória e Cachoeiro de Itapemirim são duas presenças muito constantes durante uma boa parte da minha carreira. Nas décadas de 1980 e 1990, frequentei muito o Estado e fui sempre bem recebida. A minha relação é de ser nosso vizinho. A gente é vizinho, né?(risos) Rio de Janeiro e Espírito Santo têm muito em comum. Gosto muito do público capixaba.
É, mas não é essa coisa de "anemia". Sempre tive um equívoco em banalizar a palavra "anemia". Qualquer coisa meia desbotada, chamava de anemia. De repente fiquei fraca, fraquinha do nada e foi piorando. Fui ao meu plano de saúde, dei um pulo lá no hospital para ver o que estava acontecendo e detectaram uma anemia profunda (risos). Filosoficamente tinha que ter alguma coisa profunda. Me afetou, sim. Fiquei mais de três meses sem trabalhar e estou tomando ferro ainda, comendo bem mais, comendo coisas mais fortes, botando muito ferro para dentro, né? Um bom feijão é sempre bom! Minha saúde, graças ao esforço, graças à vida, está bem, está indo bem, mesmo. Estou me sentindo bem, já fiz três shows, após ter uma certa alta. Estou me sentindo cada vez mais forte. Espero que continue (risos).
Estou levando um repertório que gosto muito porque é um passeio desde a Bossa Nova até o Jazz, sempre aquela lembrança de Leni Andrade, de Tom Jobim, Vinícius, Aloísio de Oliveira e Donato. Então, sempre levo um pouquinho de Bossa Nova, do meu jeito. Passeio em um pouquinho de francês. No mais, tenho sucessos graças ao público. O artista só faz sucesso se o público gostar, né? E tenho a graça de ter um público que gosta de mim desde o início da carreira e vou renovando através das gerações. Que bom que as pessoas curtem a gente, porque o sucesso depende da plateia. Tenho sucessos como "Compasso", "Amor, meu grande amor", "Simples Carinho", do João Donato, e "Fogueira", gravada já por Maria Bethânia e Ana Carolina. Passeio por tudo um pouco, espero que o povo goste.
Me sinto feliz porque cultura, educação e saúde são alicerces, a meu ver, de qualquer nação. Não só pensando na minha profissão, no meu ganha-pão, mas a cultura é importantíssima. Tanto quanto a saúde e a educação. Estou muito feliz das pessoas voltarem a fazer e assistir arte e todas as formas de comunicação cultural.
Acho o cinema uma arte fantástica. É uma arte dispendiosa, que dá uma trabalheira danada, porque já tive grandes amigos, como Glauber Rocha. Tive a sorte ser uma mascote de uma turma de gente bem bacana. Gosto muito de filmes musicais. Um dos que mais curto é "Hair" (1967), de Milos Forman. O cinema brasileiro é muito importante, mais do que as pessoas achavam na época. Agora acho que estão dando mais valor. Mas clássicos como do Joaquim Pedro, "Macunaíma", são imperdíveis. Arnaldo Jabor é maravilhoso em tudo que fez. "Eu te Amo" é esplêndido. As coisas doidinhas do meu querido, amado e saudoso amigo Glauber Rocha também são ótimas. "Terra em Transe" é fenomenal. Gosto de tanta coisa... de Hitchcock a "Hair" e de suspense ao Rock. A nossa fábrica de cinema é maravilhosa, tem tantos filmes, títulos e talentos maravilhosos. Gosto muito de ser brasileira nesses momentos que a gente lembra dos talentos que a gente tem.
Ligo diretamente à preservação do meio ambiente, que costuma ser o tema do festival, sempre puxando a atenção do público para a ecologia. Há uma relação direta entre a preservação do meio ambiente e a preservação da cultura: são condições básicas para matar a sede. Por exemplo, com a água e a natureza, que nos dá tantos frutos, temos que deixá-la produzir em paz. E a sede de conhecimento, de divertimento, de sabedoria e de experiências que a cultura traz? Quer dizer, a cultura é uma água para o espírito. E tão importante quanto a natureza.
A natureza, quando me inspira de alguma forma para fazer alguma música, sou eu reclamando (risos). Tenho um blues que chama "Eu Não", em que "descasco" tudo que está errado e condeno a omissão das pessoas, sempre dizendo "eu não". "Eu não vou ficar calada, eu não vou ficar parada, eu não vou ser omissa". É um dos blues que fala sobre a natureza e suas destruições, sempre dando um toque. Sempre sou mais crítica. Não faço muitas músicas do "piu" do passarinho, da sombra de uma árvore, não é bem assim (risos). Reclamo pela natureza. Essa é a inspiração mais forte em relação às minhas músicas com o meio ambiente.
Não busco despertar nada com minhas músicas não, para ser sincera. Elas saem fisiologicamente, é uma necessidade, vem a inspiração. Na minoria das vezes, tenho parceiros, como meu maestro e pianista, que está indo comigo, Ricardo Maccord. Ele é também um compositor de mão-cheia e a gente gosta de fazer umas coisinhas juntos. Na realidade, a gente não busca. A gente tem a inspiração e quando vê, está encaminhado. O que despertar nas pessoas será sempre bem-vindo porque a música e a arte mexem com as emoções. Mas não procuro uma fórmula para atingir as pessoas, não. Sou mais espontânea mesmo. Sair o que sair e, se agradar, agradou.
Aí é que mora o probleminha, porque tenho uma preguiça absurda (risos). Estou para fazer um livro, ou dois, ou três. Séculos que digo que vou fazer uma biografia eu mesma, porque já falaram tudo que tinham que falar sobre mim e agora chegou minha vez. Continua difícil, não fiz meu primeiro livro. Acho que se fizer o primeiro vai sair logo mais uns dois. E quero continuar trabalhando, quero ter saúde, vigor, inspiração e paz interior para poder trabalhar. Gosto muito de uma brincadeira também. A minha parte comediante, de humor, é o que me salva a vida. Aliás, o humor, para mim, é o irmão mais esperto do amor. O amor, às vezes, fica tolo, mas o humor salva qualquer coisa. Quero sempre motivar as pessoas. Com a minha parte comediante, quero continuar na ativa fazendo umas brincadeiras no palco. Ver se consigo botar esses livros de pé e escritos. Ver se "tomo vergonha na cara" e paro com a minha preguiça. No mais, quero seguir minha vida feliz, pois tenho o dom da arte cênica e da música desde pequenininha. É o que dediquei a vida inteira, é o meu grande amor.
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