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Atriz, cineasta e homenageada: conheça a trajetória da capixaba Verônica Gomes

Atriz, diretora e ativista cultural, Verônica recebe homenagem no Festival de Cinema de Vitória por sua trajetória no teatro, no cinema e na militância artística

Publicado em 14 de julho de 2025 às 19:30

Verônica Gomes, a homenageada capixaba do 32º FCV
Verônica Gomes, a homenageada capixaba do 32º FCV Crédito: Andie Freitas

Verônica Gomes é mais do que uma artista: é símbolo de resistência, sensibilidade e construção coletiva na cena cultural capixaba. Atriz, diretora, produtora e ativista, ela marcou gerações com sua atuação firme nos palcos, nas telas e nos bastidores. Agora, a trajetória ganha reconhecimento no Festival de Cinema de Vitória, que dedica a ela uma homenagem especial, não apenas pela obra, mas pelo impacto humano e social que construiu ao longo dos anos.

Ela celebra o reconhecimento como uma consagração de sua caminhada artística e pessoal. “Acho que todo artista quer ser reconhecido, principalmente em vida. Parece que valeu a pena, sabe? A resistência, a gente não ter desistido. Foi uma das coisas mais lindas que aconteceu na minha vida”, conta, emocionada.

O anúncio da homenagem chegou como um presente inesperado. “Eu estava assistindo uma aula, quando encontrei a Lúcia Caus, que é diretora do festival. Aí, no meio do papo, ela falou: ‘Verônica, não vou aguentar esperar. Você vai ser a homenageada do Festival’. Eu gritei na hora. Fiquei tão feliz! Lembrei da minha mãe, do meu pai, dos meus filhos. Um filme passou na minha cabeça”, relembra.

Verônica no filme
Verônica no filme "Os Primeiros Soldados", de 2021 Crédito: Reprodução filme "Os Primeiros Soldados"

No sábado, 19 de julho, ela receberá o Troféu Vitória e o Caderno da Homenageada, publicação biográfica escrita pelos jornalistas Leonardo Vais e Paulo Gois Bastos.

Palco e pertencimento

Nascida em Aracruz e radicada em Vitória desde os quatro anos de idade, Verônica teve o primeiro contato com a arte ainda criança, através da música e da cultura popular. “Meus tios eram músicos. A gente vivia em meio a cantoria, costura, poesia, cresci com isso tudo me formando”, recorda.

Foi no Teatro Skav, atual Teatro Edith Bulhões, construído por seu pai, que era pedreiro, que assistiu à sua primeira peça. “Antígona, dirigida por Tadeu Teixeira. Aquele teatro era como um grande quintal para mim.”

A estreia nos palcos veio em 1986, com A Gang do Beijo. Nos anos seguintes, atuou em peças que marcaram o teatro capixaba, como Eu Sou Vida, Eu Não Sou Morte e Negritude. Mas não parou por aí. Produziu, dirigiu, formou elenco e criou estruturas para sustentar os próprios projetos e os de colegas. “Eu pensei: além de ser atriz, vou ser produtora para cuidar dos artistas. A gente tem que ser cuidado”, diz.

Bastidores da gravação do filme
Bastidores da gravação do filme "Ciclo da Paixão", de 1999 Crédito: Acervo Pessoal Verônica Gomes

Entre tantos trabalhos, um ocupa lugar especial: o solo O Mistério da Casa Amarela, inspirado em Mulher Sozinha, de Dario Fo e Franca Rame. “Foi um monólogo que falava de violência contra a mulher. Transformamos um terraço numa casa-cenário, que existe até hoje. Fiquei seis meses mergulhada na construção dessa personagem. Levei pra cena as memórias das mulheres do entorno. Me marcou demais”, revela.

Cinema e vocação

A relação com o cinema começou atrás das câmeras, como segunda assistente de direção e produtora de elenco no longa Lamarca (1993), de Sérgio Rezende. Mas foi só anos depois que Verônica se permitiu atuar diante das lentes. “A linguagem do cinema é outra, mais contida. Tive que me preparar muito. Fiz cursos no Rio, em São Paulo. Queria chegar com segurança”.

O empurrão decisivo veio do cineasta Luiz Carlos Lacerda, o Bigode. “No final de um curso, ele criou uma personagem para mim num curta. Depois me disse: ‘Menina, você tem vocação para o cinema, a câmera gosta de você’. Aquilo me deu uma força enorme. Nunca mais parei.” Desde então, soma participações marcantes em filmes como Cais dos Cães, Uma Faca Só Lâmina, Não Deixa Cair e Camile — este último, premiado em festival internacional.

Verônica Gomes, no papel de Yara, no longa Margeado
Verônica Gomes, no papel de Yara, no longa Margeado Crédito: Renato Ogata

Mas foram dois longas que a tocaram profundamente: Os Primeiros Soldados (2021), de Rodrigo de Oliveira, e Margeado (2025), de Diego Zon. “Norma, em Os Primeiros Soldados, me fez reviver os anos 80, quando perdi amigos para a AIDS. Já Margeado... é uma dor coletiva. Eu interpreto Yara, uma pescadora que vive as consequências da lama da barragem. Gravei com o coração. Levei pra cena a dor dessas mulheres que perderam tudo.”

Militância cultural e legado

Além da atuação, Verônica é um nome essencial da militância cultural capixaba. Foi fundadora e presidente do Sated-ES, integrou o Conselho Estadual de Cultura e atuou por décadas como servidora pública na Secretaria de Cultura de Vitória. Hoje preside o Centro de Apoio e Memória ao Circo e comanda sua própria produtora, o Teatro Du Beco.

A homenagem, para ela, é mais do que um prêmio — é a validação de um ciclo inteiro. “Essa homenagem consolida minha trajetória. Me sinto reconhecida como atriz, como produtora, como militante. É o carimbo que diz: cheguei, Verônica. Mas eu continuo. Tenho 64 anos, tô na segunda faculdade, estudando teatro. Eu não parei e nem pretendo parar.”

O cinema capixaba em expansão

Festival de Cinema de Vitória abre inscrições para 32ª edição
Exibição de filme no Festival de Cinema de Vitória em 2024  Crédito: Acervo Galpão IBCA

Com um olhar atento para o cenário audiovisual local, Verônica comemora os avanços. “O cinema capixaba cresceu muito. Temos uma geração jovem e talentosa produzindo com qualidade. Os filmes estão ganhando festivais, circulando lá fora. Mas ainda falta investimento, principalmente para os longas. E falta distribuição. A gente precisa que nossos filmes cheguem às salas e às pessoas.”

Essa visão estratégica vem de quem construiu, tijolo por tijolo, seu espaço na arte e na vida. “Foram 39 anos de resistência, de fé. Eu nunca desisti. E agora, viver esse momento, ser homenageada em vida... é potente demais. Eu só tenho gratidão.”

A coletiva de imprensa e o lançamento do Caderno da Homenageada acontecem no sábado (19), às 17h, no Hub ES+. Às 19h, será realizada a Cerimônia de Homenagem, no Teatro Glória, dentro da programação oficial do 32º Festival de Cinema de Vitória. A entrada é gratuita.

Serviço

  • 32º Festival de Cinema de Vitória
  • Data: 19 a 24 de julho
  • Locais: Sesc Glória, Hotel Senac Ilha do Boi e Hub ES+
  • Entrada: Gratuita

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