• Aquiles Reis

    Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Adriana Gennari deixa brasilidade fluir por entre 'jazzismos' em novo disco

Publicado em 25/04/2023 às 10h01
A cantora Adriana Gennari

A cantora Adriana Gennari . Crédito: Guima Carvalho/Divulgação

  • De: Aquiles
  • Para: Adriana Gennari


Olá, cantora carioca radicada em Araraquara Adriana Gennari! Escrevo para lhe dizer que tenho cá comigo o seu sétimo álbum "Sobre a Cor das Harmonias – Convida Pó de Café" (com recursos do Proac-SP). Logo após ouvir as dez canções inéditas do CD, li sua descrição a respeito: “'Sobre a Cor das Harmonias' é sobre os cromatismos das notas, o encadeamento dos acordes, a potência subjetiva e emocional dos modos gregos e sua atuação no jogo musical do jazz (...) Enquanto a melodia é a espinha dorsal de uma canção (...), a harmonia traduz um movimento emocional (...).”

Um texto afetivo sobre os labirintos da criação musical – ainda que ela nasça simples como o voo da borboleta. Além disso, o resultado do seu disco é a tradução de um objetivo claro: você, Adriana, que compôs apenas uma das composições que gravou, buscou canções com versos de que sua alma carece para melhor se fazer entender como mulher no presente.

O sexteto instrumental Pó de Café ajudou você a se entregar e evidenciar a cantora com pegadas jazzísticas e bossanovistas que é. Seus vocalises têm a garra de quem valoriza a harmonia da composição que está improvisando. Me amarrei nos graves, e nos agudos percebi a afinação que permite ir às notas direto à mosca, incisiva como faca na manteiga.

Percebi com prazer que Roberto Menescal tem participação especial em “Be My Song”, música de sua autoria, Adriana, em parceria com o próprio Menescal, Z.H. Martiniano e Murilo Barbosa. Há outra participação especial, a de André de Souza, com quem você canta em duo em “Crio” (Daniel Conti e Bruno Kohl).

Bacana notar que no repertório, melódica e harmonicamente bem construído, a brasilidade flui por entre “jazzismos” criativos, com você e o Pó de Café arrasando como se fossem, e são, um septeto. E falando no Pó de Café, ele esbanja o talento de Murilo Monteiro (que trabalha com você há mais de 10 anos, e aqui esteve à frente do piano Rhodes e dos arranjos), Bruno Barbosa (baixos acústico e elétrico), Duda Lazarini (bateria), Marcelo Toledo (sax) e Rubinho Antunes (trompete).

Trompete e teclado iniciam “Sobre a Cor das Harmonias”, de Murilo Barbosa. O baixo, junto com a batera, que trisca levemente as peças, estão lá para bulir o som. Logo sua voz, Adriana, inicia a jornada de cantora amadurecida. E sobre a batera que se esbalda e o trompete que brilha, você arrepia nos vocalises, até entregar para o piano improvisar. A melodia retoma seu curso e você e o sexteto conduzem ao final, não sem antes ouvirmos um belo solo do sax e novos vocalises.

Sua voz soa delicada em “Esqueço de Mim”, de Marina Marchi. Seu timbre se adequa com correção à harmonia, que por sua vez vem envolta num arranjo com caprichada atmosfera instrumental. Mas é sua voz que é a dona do pedaço. Veja, Adriana, que eu estou falando apenas das duas primeiras faixas do CD... que coisa!

Bem, moça, deixo aqui uma carinhosa felicitação para você. Ao Pó de Café, minha saudação musical. Um forte abraço a todos. Fui!

Aquiles.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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