Publicado em 26 de novembro de 2024 às 16:22
Uma cidade sem trânsito, onde tudo pode ser feito a pé ou de bicicleta em até 15 minutos. Pode parecer um sonho, mas esse modelo urbano, criado pelo urbanista colombiano Carlos Moreno, já existe em cidades como Paris, Barcelona e Melbourne e vem ganhando adeptos ao redor do mundo. >
Em uma cidade assim, escolas, mercados, parques e centros de saúde estão estrategicamente posicionados perto das residências, permitindo que os moradores realizem suas atividades diárias sem a necessidade de um carro. >
Essa ideia não só promete reduzir congestionamentos e a poluição, mas também promove um estilo de vida mais saudável e sustentável, incentivando o uso de transportes não motorizados.>
Para o diretor-geral do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira, sim. Ele acredita que o relevo da capital, as ciclovias presentes na cidade e a Política Nacional de Mobilidade são fatores que incentivam a implementação do conceito em terras capixabas. >
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“Olhando a Região Metropolitana da Grande Vitória eu entendo que é perfeitamente aplicável esse conceito aqui. Tem a questão do relevo, que é mais plano, facilitando a utilização de bicicletas ou a locomoção a pé em curtas distâncias, além do governo do Estado ter realizado grandes entregas de obras estruturantes favorecendo o transporte cicloviário. A própria Política Nacional de Mobilidade Urbana de 2012 também tem incentivado a implementação de ações para fortalecer a malha cicloviária nos municípios”, afirma.>
De acordo com Pablo Lira, bairros como São Pedro e Jardim Camburi já se assemelham ao modelo de “15 minutos”.>
“Um exemplo é o bairro Jardim Camburi, com 48 mil habitantes concentrados num território que tem desde residências a comércio e serviços especializados, até instituições de ensino e hospitais. Outro exemplo é a região de São Pedro, cuja população consegue resolver boa parte das suas demandas no próprio bairro. Ali tem estabelecimentos financeiros, bancários e diversos equipamentos de comércio”, pontua.>
O primeiro passo é o planejamento urbano. A principal ferramenta de ordenamento territorial brasileiro é o Plano Diretor Municipal, responsável pelo planejamento das cidades, norteando as políticas que serão elaboradas para os municípios. >
Para Mariany Abreu, arquiteta e urbanista do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento do Espírito Santo (IAB-ES), um planejamento sustentável que inclua políticas habitacionais e de mobilidade é essencial para a criação das cidades de 15 minutos.>
“Para transformar a Grande Vitória em uma cidade de 15 minutos, é crucial desenvolver políticas habitacionais inclusivas, promover parques urbanos, ruas exclusivas para pedestres e diversificar o transporte público. É possível construirmos esses espaços através de estratégias de desenvolvimento urbano sustentável, como o planejamento participativo, melhorias na mobilidade urbana e a criação de mais espaços verdes públicos. Políticas habitacionais sociais que garantam habitações dignas e acessíveis são de extrema importância”, afirma. >
Além disso, o presidente da Central Única das Favelas no Espírito Santo (Cufa-ES), Gabriel Nadipeh, destaca que a cidade precisa ser pensada de forma integrada.>
“A cidade precisa ser pensada como um todo conectado, integrada entre diferentes regiões por meio de um transporte público eficiente, acessível e sustentável. É necessário também incentivar a mobilidade ativa, como caminhadas e o uso de bicicletas, sempre respeitando o meio ambiente e a preservação da natureza”, pontua.>
Como condomínios e construtoras podem ajudar? >
Para aproximar produtos e serviços dos moradores, Construtoras e incorporadoras têm lançado empreendimentos com espaço para áreas comerciais. Barbearias, clínicas, mercearias e lojas de roupa podem ser acessadas sem precisar de carro ou um deslocamento maior: estão no próprio prédio. É o que diz o arquiteto e urbanista e diretor do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Espírito Santo (Sinduscon-ES), Sandro Pretti.>
"Antes as pessoas não queriam morar em prédios com salas comerciais, tinham até medo; hoje as pessoas procuram prédios com esses estabelecimentos. O setor da construção também tem priorizado fazer essas edificações mistas ou até mesmo entregar o edifício já com o espaço para os mercadinhos dentro do próprio condomínio", destaca.>
De acordo com a diretora da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Espírito Santo (Ademi-ES), Aline De Martin, os condomínios podem colaborar para que produtos e serviços estejam cada vez mais perto.>
"Os condomínios podem muito contribuir com isso por meio de algumas facilidades que a gente já vê hoje em dia, principalmente os mercadinhos. Então, se faltar alguma coisa em casa, o morador já tem a facilidade de descer no próprio condomínio e comprar feijão, arroz, frutas. O mesmo a gente vê com os espaços de coworking, que muitos condomínios já têm disponibilizado para as pessoas que trabalham no modelo home office ou híbrido", pontua. >
Desafio para as favelas >
Atualmente, 15% da população capixaba vive em favelas, que, ao todo, abrigam mais de 600 mil pessoas no Estado, de acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). >
Mesmo concentrando grande parte da população, segundo Gabriel Nadipeh, historicamente, as cidades não foram planejadas para incluir as favelas e seus moradores. Por isso, produtos e serviços tendem a se concentrar em áreas economicamente mais desenvolvidas. Mesmo sem uma assistência consistente do poder público, os moradores buscam maneiras de resolver os próprios problemas.>
"Esses territórios cresceram à margem do desenvolvimento urbano, e à margem dos investimentos de infraestrutura e serviços públicos essenciais. Isso faz com que os produtos e serviços se concentrem em áreas economicamente mais desenvolvidas, distantes das periferias. A questão é que as favelas são dinâmicas e criam um ecossistema próprio de sobrevivência, movimentando uma economia com serviços diversos, buscando solucionar os próprios problemas", pontua.>
Segundo Gabriel, os maiores desafios estão na dificuldade de acesso a produtos e serviços de qualidade, além da distância dos serviços básicos dessas regiões.>
"O grande desafio está na oferta de produtos e serviços com qualidade, quantidade e acessibilidade adequadas, uma vez que as favelas geralmente estão distantes dos centros de distribuição e das áreas onde o Estado concentra sua atuação. Além disso, falta um compromisso efetivo do poder público em garantir que serviços básicos, como saúde, educação e transporte, estejam próximos dessas comunidades", afirma.>
A arquiteta e urbanista Mariany Abreu reforça que a chave para viabilizar as cidades de 15 minutos é a regulamentação de políticas públicas que promovam uma cidade mais equitativa. Investimentos em educação e capacitação de qualidade, construção de equipamentos comunitários de saúde, lazer, segurança e educação, além de políticas urbanas que priorizem a qualidade dos espaços públicos são essenciais. >
“Esses esforços, a médio e longo prazo, podem construir uma cidade mais interativa, segura e sustentável, capaz de acomodar novas demandas populacionais de forma saudável”, defende a arquiteta. >
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