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Três gerações de arquitetos apontam as tendências da decoração

Três gerações de arquitetos apontam as tendências da decoração

Personalização, conforto visual e tátil e flexibilidade são aspectos que traduzem as tendências de decoração para atender a novas demandas contemporâneas

Publicado em 27 de novembro de 2023 às 18:00

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No ambiente assinado por Renzo Cerqueira, é ossível ver elementos da natureza que trazem alívio para a alma e conta com mobiliários escolhidos a dedo para trazer aconchego junto a composição de cores e texturas. (Caio Cesar)

Uma casa possui muitas camadas, seja essa moradia, na verdade, um casarão, seja um apartamento grande, seja um studio, seja até mesmo uma quitinete. Isso porque o lar reflete as diversas facetas da vida dos moradores, indivíduos que carregam histórias únicas e que transmitem, na decoração, os “caquinhos”, que, juntos, resumem os diferentes aspectos de suas vidas.

Pensando nisso e nas atuais questões sociais, que vão da maior preocupação com a saúde mental até as discussões de como a tecnologia pode ser uma aliada para os novos conceitos de viver, conversamos com três arquitetos de, praticamente, três gerações: José Daher, de 67 anos, Renata Modenesi, 55 anos, e Renzo Cerqueira, de 32 anos.

A partir de suas experiências profissionais, os especialistas contam o que anda ganhando o coração de seus clientes e o que eles mais valorizam na decoração de seus ambientes no momento. E, embora tenham apontado questões diferentes, eles concordam em muitos pontos.

Na avaliação deles, o que as propostas de projeto têm em comum é o foco central na criação de espaços para relaxar o corpo e a mente. Ao mesmo tempo, esses ambientes são pensados a partir de pilares como autenticidade, conforto, além de aspectos táteis e visuais e objetos afetivos.

Harmonia entre corpo e alma

No apartamento do ex-BBB Lucas Bissoli, Renzo Cerqueira apostou em alguns pontos de cores para personalizar o apartamento com um conceito único
No apartamento do ex-BBB Lucas Bissoli, Renzo Cerqueira apostou em alguns pontos de cores para personalizar o apartamento com um conceito único. (Renzo Cerqueira/Divulgação)

O que todas as tendências têm em comum é que, a cada dia que passa, a casa está desempenhando um papel cada vez mais importante em nossas vidas: um lugar de refúgio pessoal para o corpo e para a alma, uma forma de expressão da nossa própria personalidade, um local para receber quem amamos e, por vezes, ainda funciona como um home office.

Por isso, o segmento de Arquitetura e Decoração está inovando para entregar um catálogo repleto de opções de materiais, revestimentos, luzes e móveis; enquanto os arquitetos estão com a missão de planejar espaços sob medida e que atenda as necessidades da vida contemporânea. Conheça algumas dessas tendências:

Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo

O arquiteto Renzo Cerqueira, que assina o ambiente Studio Oásis na CASACOR Espírito Santo 2023 (que discute o tema “Corpo e Morada”), relata que, assim como nas demais edições da mostra em que visitou ao redor do país, os profissionais estão, progressivamente, saindo de um ponto totalmente minimalista e seguindo para a inclusão minguada de mais elementos nos ambientes.

Renzo Cerqueira assina o ambiente Studio Oásis na CASACOR Espírito Santo 2023
Renzo Cerqueira assina o ambiente Studio Oásis na CASACOR Espírito Santo 2023 . (Bruno Coelho)
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Estamos vendo um pouco mais de informação na decoração, com alguns pontos de cores e, em vez de um estilo único, uma mistura de conceitos. Tudo isso com um intuito de trazer uma identidade única aos espaços.

Renzo Cerqueira
Arquiteto
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Na visão dele, os clientes não estão, necessariamente, saindo do estilo minimalista, e sim, agregando, aos poucos, outros elementos complementares. “Os ambientes estão mais clean e com cores neutras. Enquanto isso, os clientes optam por trazer pontos de cor na roupa de cama e nas almofadas, por exemplo, coisas que são fáceis de reverter”, elucida.

Ele define que, no geral, os estilos contemporâneo, minimalista e industrial – inclusive com alguns elementos pretos e de cimento queimado, por exemplo – continuam em alta, mas raramente são usados individualmente em um espaço.

O arquiteto José Daher não poderia concordar mais. O profissional enxerga que há maior diversidade, o que permite maior conforto, praticidade e flexibilidade para diferentes gostos e gerações.

José Daher procura sempre trazer a tendência do artesanato e da biofilia em seus projetos
José Daher procura sempre trazer a tendência do artesanato e da biofilia em seus projetos. (Arquivo pessoal)
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Apesar de haver uma preferência maior por tons claros, espaços simplificados e, muitas vezes, monocromáticos, nem todo mundo quer isso, e o mercado precisa oferecer diferentes opções de decoração.

José Daher
Arquiteto
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Novos produtos no mercado

O diretor de compras da Colodetti Material de Construção, Ícaro Colodetti, aponta que parte dessa versatilidade na decoração é reflexo da popularização dos “mini formatos”. “O catálogo de revestimentos e porcelanatos em formatos menores permite infinitas personalizações”, comenta.

Além disso, o diretor de marketing da marca, Fernando Colodetti, comenta que a aplicação de metais com cor, em especial em preto e dourado (o popular gold) em torneiras e porta-toalhas de banheiros, permite maior autenticidade nos projetos arquitetônicos.

“Isso mostra que as pessoas querem fugir do convencional e as tecnologias permitem que decoradores usem uma paleta de cores única tanto em linhas de luxo quanto as mais econômicas”, analisa.

No escritório de Renata Modenesi, embora a cor preta seja o fio condutor, o projeto recebeu diversos toques brancos e amadeirados, além de contar com
mobiliários arredondados
No escritório de Renata Modenesi, embora a cor preta seja o fio condutor, o projeto recebeu diversos toques brancos e amadeirados, além de contar com mobiliários arredondados . (Camila Santos)

A arquiteta da Dalla Home Center, Lorena Erlacher, também enxerga que a busca pelos materiais corretos é um trabalho crucial. “A escolha de materiais como pedras naturais, tijolos, marmorizados e cimentícios, reflete o desejo por autenticidade e simplicidade”, analisa.

Na mesma linha, o diretor-executivo da Bremenkamp, Bryan Bremenkamp, conta que é justamente por esses motivos que os produtos precisam se adaptar a essas demandas.

“Um exemplo é o piso retificado, que é mais barato e possui acabamento reto e preciso; enquanto o piso vinílico é um excelente isolante térmico, um material impermeabilizado e produz menos barulho”, detalha.

Flexibilidade

O arquiteto José Daher também analisa que a Arquitetura está caminhando para uma macrotendência de foco na flexibilidade e na adaptabilidade de ambientes, e os elementos decorativos estão se voltando aos interesses específicos e particulares.

Espaços integrados, como este projetado por José Daher, permitem várias atividades
Espaços integrados, como este projetado por José Daher, permitem várias atividades. (José Daher/Divulgação)

“Por exemplo, são os diferentes usos de uma sala. Hoje, existem salas de TV, que, de uma hora para outra, viram uma brinquedoteca para distrair crianças ou um home office, caso você precise trabalhar de casa. Isso é um reflexo direto das novas rotinas que vêm mudando desde o começo do século XXI”, comenta.

Por esse motivo, as pessoas estão em busca de mesas ou escrivaninhas confortáveis em salas e quartos, adaptadas para o estudo ou para o trabalho – entretanto, sem deixar de lado a qualidade e a beleza do mobiliário. Esses espaços, aliás, quase sempre, são acompanhados de uma série de objetos pessoais.

Suavidade nos formatos

Na Suíte do Casal, Renzo Cerqueira apostou em tons verdes e materiais amadeirados no espaço, mas manteve as cores neutras na cama, no sofá e no tapete, por exemplo
Na Suíte do Casal, Renzo Cerqueira apostou em tons verdes e materiais amadeirados no espaço, mas manteve as cores neutras na cama, no sofá e no tapete, por exemplo. (Camila Santos)

Embora as pessoas continuem preferindo as formas e linhas mais convencionais e retas, é inegável que os elementos mais arredondados, as curvas e os formatos mais orgânicos têm ganhado espaço.

O arquiteto José Daher vai além e acredita que essas formas arredondadas vêm sendo mais procuradas, principalmente no mobiliário como causa e consequência das transformações sociais. “Isso é uma tendência que reflete as novas configurações familiares existentes hoje, que demandam menos quinas e mais conforto visual”, analisa.

Resgate de memórias

O retrô e o vintage nunca estiveram tão em alta. Esses estilos, que começam dos anos 1920 e vão até meados de 1990, caíram no gosto de muitas pessoas, ainda mais para quem deseja rememorar as épocas antigas e ter uma decoração que foge do convencional. E muito disso é explicado pela nostalgia e pela valorização dos bons momentos em família.

O arquiteto Renzo Cerqueira defende que as pessoas também estão expondo cada vez mais as suas histórias. “As obras de artes estão sendo mais valorizadas pelos clientes, que dão oportunidade para objetos atemporais na decoração”, conta.

José Daher lembra que outra questão que está interligada à memória coletiva é a preservação da história familiar por meio dos itens de decoração da cultura brasileira. “O artesanato nunca foi tão incorporado nos ambientes, e o design brasileiro está em alta no mundo todo”, argumenta.

Sem tempo para nada

Como Byung-Chul Han chamou em seu ensaio, a sociedade do cansaço segue pela procura por produtos na mesma tônica: o conforto. Os itens mais procurados são os que proporcionam maior praticidade na manutenção e na limpeza.

Pelo mesmo motivo, a iluminação em LED veio para ficar, visto que, além do baixo consumo de energia, é pensado para complementar o projeto e deixá-lo mais aconchegante.

“A luz destaca os pontos-chaves do ambiente e o deixa mais funcional e aconchegante, trazendo maior conforto visual em momentos em que não é preciso tanta concentração”, ressalta Renzo Cerqueira.

Renata Modenesi defende o uso de iluminação quente para dar maior aconchego à casa
Renata Modenesi defende o uso de iluminação quente para dar maior aconchego à casa. (Arquivo pessoal)
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A iluminação está fugindo daquela usada em redes de farmácias, e os produtos estão valorizando mais o design e as lâmpadas quentes e amarelas.

Renata Modenesi
Arquiteta
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Casa mais conectada

A automação residencial vai continuar crescendo, passando por produtos com controle por voz, cortinas e aparelhos de ar-condicionado comandados por apps até robôs funcionais. “Talvez o mercado de automação não esteja só evoluindo, como ficando mais próximo das pessoas, e elas estão enxergando que isso é necessário para trazer facilidade para os dias corridos”, reflete o arquiteto Renzo Cerqueira.

E a tecnologia também não precisa ser de ponta. “O acesso a eletrodomésticos de cozinha também virou algo que os clientes procuram para facilitar a vida”, observa.

Modenesi mostra que é possível obter um equilíbrio entre o conforto que a biofilia traz e as tecnologias que levou para o dia a dia do seu escritório
Modenesi mostra que é possível obter um equilíbrio entre o conforto que a biofilia traz e as tecnologias que levou para o dia a dia do seu escritório. (Camila Santos)

A arquiteta Renata Modenesi também lembra que os materiais de revestimento, por exemplo, estão cada vez mais modernos e refinados, o que permite maior possibilidade de usos dentro de casa, e o consumidor é quem mais se beneficia com isso.

“Esses materiais ganharam mais plasticidade. Um exemplo são as peças de porcelanato, que, antes eram usadas somente para revestimento, hoje ganham novos usos e são encontradas nas lojas com mais variedade de tipos e formatos de lastras. Hoje, podemos facilmente aplicá-las em bancadas de cozinha, por exemplo, algo impensável há alguns anos”, relembra.

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