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Universitários acusam empresa de formatura de golpe de mais de R$ 300 mil no ES

Universitários acusam empresa de formatura de golpe de mais de R$ 300 mil no ES

Estudantes do curso de Engenharia Civil da Ufes e da Multivix, além de uma turma de Odontologia, da Faesa, se dizem lesados e por pouco não ficaram sem a festa de formatura

Publicado em 17 de outubro de 2019 às 13:25

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Colação de grau da turma de Engenharia Civil da Ufes 2019/1 . (Arquivo Pessoal)

A festa de formatura marca o encerramento perfeito de anos de dedicação à graduação, mas por pouco o sonho de 61 formandos de duas turmas de Engenharia Civil, da Ufes e da Multivix,  e outra de Odontologia, da Faesa, não foi concretizado por não cumprimento de contratos por parte da empresa contratada para organizar a cerimônia conjunta. Agora o imbróglio virou caso de polícia e vai parar na Justiça.

O baile de gala aconteceu no dia 5 de outubro (sábado), mas até pouco dias antes da data marcada, os integrantes das três comissões de formatura, formandos, familiares e amigos viviam momentos de tensão sem a certeza se conseguiriam ou não realizarem a festa. Ao todo foram 32 formandos da Ufes, 19 da Faesa e 10 da Multivix.

INÍCIO DA DESCONFIANÇA

Segundo os estudantes, o contrato com a empresa de formaturas foi firmado em 2016 e eles pagavam mensalmente uma quantia entre R$ 100,00 e R$ 200,00 por meio de boletos bancários. Os valores eram diferenciados, pois cada aluno poderia optar por um pacote simples ou completo. No total, o valor investido poderia chegar aos R$ 7,2 mil no pacote completo, e cerca de R$ 1,8 mil no básico. Essas quantias são relativas apenas à turma de Engenharia Civil da Ufes.

Rafael Costa, estudante de Engenharia Civil da Ufes. (Arquivo pessoal)

Ainda de acordo com os universitários, apesar de alguns pequenos contratempos, até meados de abril não havia desconfiança em relação à realização da festa. O cenário, porém, se alterou quando a comissão de formatura da turma de Civil da Ufes descobriu uma dívida por parte da empresa junto ao cerimonial, na Serra, onde seria realizado o baile de gala. A partir desse momento, o alerta foi acionado em relação à Forma-X, como detalhado pelo formando Rafael Matos Costa, de 25 anos.

"Os problemas começaram a surgir e percebemos que não poderia ter festa. Descobrimos que essa empresa tinha uma dívida alta de uma festa realizada em fevereiro com cerimonial onde originalmente seria nossa festa. Depois soubemos que o cerimonial havia notificado extrajudicialmente a Forma-X por não ter pago o que estava acordado para nossa festa. Quando tomamos ciência disso, entramos (a comissão) em contato com outros fornecedores, que relataram a mesma situação de não recebimento. Por contrato, o aluguel do cerimonial para nossa festa seria de R$ 50 mil, mas apenas R$ 10 mil havia sido repassado. Isso nos foi dito pelo dono do espaço", ressaltou o universitário.

POR CONTA PRÓPRIA

Diante dessa situação, os estudantes, nessa altura já com orientação jurídica, cessaram o pagamento dos boletos e passaram a recolher os valores que seriam destinados às mensalidades em uma conta própria. Essa foi a alternativa encontrada para seguir juntando valores e manter os planos da festa. Iniciava também uma intensa rotina de tratativas com a Forma-X em busca de explicações e posterior devolução do dinheiro já arrecadado, segundo os formandos.

"Antes de procurarmos a empresa, pesquisamos com todos os fornecedores sobre os pagamentos. No início de maio, marcamos uma primeira reunião com ele (proprietário da Forma-X), mostramos as dívidas relativas aos fornecedores e pedimos explicações, até mesmo para entender o que estava acontecendo. Além disso exigimos que o dinheiro que já havia sido acumulado (via boletos) nos fosse devolvido. De início, ele nos deu uma desculpa aparentemente convincente e nos orientou a fazer uma conta para transferirmos esse dinheiro porque alegava que tinha problemas com cartório. Ele apontou esse caminho, dizia estar em separação judicial da esposa e isso poderia prejudicar de alguma forma as turmas que contratavam a Forma-X. Exigimos nosso dinheiro, mas eles nunca tiveram controle financeiro sobre o que receberam. Fizemos detalhadamente todas as contas dos valores que tínhamos que receber deles. Ele alegava já ter pago algumas coisas, como bebidas, locação de palco, mas nunca apresentou uma nota sequer. Depois de muita discussão, ele topou pagar um valor em três parcelas. A primeira ele quitou, com muito custo, porém depois nada. Pelos nossos cálculos, só a nossa turma deveria ter recebido mais de R$ 100 mil".

CONTRATO ENCERRADO

Após meses tentando uma solução e buscando reaver os valores, que no somatório total das três turmas se aproximava dos R$ 400 mil reais, os advogados dos formandos formalizaram um acordo (aditivo de contrato) junto à Forma-X, que teria de devolver os R$ 100 mil reais pagos pela turma de Civil, como explicado por um dos advogados que representa a turma, Gabriel Sardenberg.

Aspas de citação

Havia um contrato com a Forma-X, que vinculava à empresa a realização das festividades de formatura. Em junho, houve uma reunião com o senhor Luís, da qual participaram representantes da comissão e também meu sócio, na figura de advogado dos estudantes, na tentativa de obter alguma garantia de ressarcimento, pois os indicativos de que não haveria a festa eram grandes. Então foi feito um acordo nesse intuito, mas o mesmo não foi respeitado. Essa reunião ocorreu no dia 18 de junho e ele teria de devolver o dinheiro até 22 de julho, o que não ocorreu

Gabriel Sardenberg
Advogado
Aspas de citação

Após intermediações por meio de advogados, no dia 01 de outubro, quatro dias antes da festa, os estudantes obtiveram uma cessão de crédito por parte do representante da Forma-X, Luís Carlos, no valor de R$ 30 mil reais. Parte desse valor seria destinado à realização da colação de grau da turma da Ufes, visto que os estudante das faculdades particulares tiveram a cerimônia realizada pelas instituições de ensino.

Com esse valor em mãos, os formandos assinaram um distrato com a Forma-X relativo apenas ao montante, como detalhado pelo advogado. "O referido distrato de fato foi assinado, mas ele não deu quitação à Forma-X Formaturas. Esse abrangeu apenas a cessão de um crédito de R$ 30 mil que a Forma-X Formaturas possuía graças ao dinheiro das turmas. Esse contrato apenas serviu para garantir que os alunos e a terceira empresa que os auxiliou pudessem valer-se desse crédito para viabilizar o baile de gala, que aconteceria quatro dias depois. A quitação dada por meio desse documento refere-se, portanto, apenas a R$ 30 mil. O débito de mais de R$ 100 mil com a turma de Engenharia Civil da UFES 2019/01 permanece", esclareceu Sardenberg.

Formandos do Curso de Engenharia Civil da Ufes no baile de gala. (Arquivo pessoal)

NOVO LOCAL DE FESTA

Paralelamente às tratativas, as comissões de formatura procuraram uma outra empresa para que a festa fosse realizada. Valendo-se dos valores que conseguiram arrecadar desde que deixaram de pagar os boletos, somados com o que conseguiram com a venda de convites extras e a carta de crédito, os formandos reservaram outro cerimonial, este em Vitória, onde a festa ocorreu. Ainda que às pressas, o baile de gala foi realizado no dia 5 de outubro e transcorreu normalmente.

Aspas de citação

Depois de muita dor de cabeça, felizmente conseguimos realizar nossa festa, mas foi difícil. Houve aluno querendo processar membro de outras comissões por entender que poderia existir uma tentativa de golpe por parte dos representantes da turma. Nós, da comissão, fomos tão vítimas como os outros. Psicologicamente foi complicado, pois era uma responsabilidade enorme. Lidamos com dinheiro e sonhos de muitas pessoas, como pais, famílias, e de uma hora para a outra isso poderia não acontecer mais

Rafael Costa
Universitário
Aspas de citação

NA POLÍCIA

Na última segunda-feira (14), representantes de todas as três comissões de formatura e também os advogados que os representam foram até a Delegacia de Defraudações, em Vitória, e realizaram uma notícia-crime (denúncia) sobre uma tentativa de estelionato. Munidos com os contratos assinados junto à Forma-X, a ação foi a alternativa encontrada para tentar reaver os valores pagos à empresa de formatura e que até o momento não foram prestados conta.

"Fomos na segunda-feira fazer a notícia-crime, e nesta quarta-feira (16), retornamos à Defa para as oitivas dos declarantes de cada uma das turmas. A delegada colheu os depoimentos para que fosse aberto o inquérito. Ainda há muito a ser ressarcido. Até o momento, apenas R$ 30 mil, via cessão de crédito, foram recuperados. Isso é cerca de 10% do que foi arrecadado ao todo. Não sabemos o paradeiro do senhor que representa a Forma-X. Há uma quantia significante que foi paga e que até agora não se sabe onde está. Entraremos com uma ação de indenização por danos materiais em nome da comissão", explicou o advogado.

O OUTRO LADO

Pelo quarto dia seguido, a reportagem de A Gazeta tenta contato com os representantes da Forma-X para darem a própria versão dos fatos, porém as ligações feitas aos números disponíveis na página da empresa na internet não foram atendidas e as tentativas por meio de mensagens não foram respondidas. Caso a empresa queira se manifestar, a resposta será acrescida à matéria.

MANIFESTAÇÃO POR REDES SOCIAIS

A única manifestação da Forma-X em relação a este caso ocorreu através da conta no Instagram da empresa. Em uma postagem fechada para comentários e assinada por Luís Carlos Júnior, a Forma-X se defende das acusações de golpe e diz ser vítima de boatos. A empresa ainda ressalta prosseguir atuando no mercado, ter cumprido com o que havia sido acordado em contrato e alega que a ruptura do mesmo se deu por vontade dos contratantes. A Forma-X disse ainda que as medidas judiciais cabíveis estão sendo tomadas quanto à formação e divulgação de informações, segundo Luís Júnior, inverídicas.

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. NOTA DE ESCLARECIMENTO. . Nos últimos dias recebemos de nossos clientes varias mensagens e “prints”, falando sobre uma possível quebra de contrato de nossa parte, com turmas que teriam eventos a serem realizados nos últimos dias. . Através desta nota viemos esclarecer que estes Contratos foram cancelados, e possuímos em nossas mãos o distrato assinado pelos Representantes destas Turmas, bem como outros documentos de total importância sobre o assunto. . E afirmar ainda, que tais Contratos se encontravam em dia, com todos os seus eventos realizados até a data do Comunicado de Cancelamento, e com itens já contratados e pagos para a realização dos eventos que ainda iriam acontecer. . Para esclarecer alguns itens importantes dessa história, tornamos público o que poucos sabem, que os Representantes das Turmas nos fizeram um comunicado no dia 20 de agosto de 2019, afirmando que tais turmas não queriam mais a nossa prestação de serviço, para a organização e realização de tais eventos. . Solicitamos então, que tal distrato fosse feito, e ele só nos foi entregue pelos representantes destas turmas no dia 01º de outubro de 2019. . Por tanto, a realização e organização destes eventos deixaram de ser nossa responsabilidade. . E após a entrega deste distrato, fizemos contato com os Formandos para tratar individualmente da devolução dos valores devidos a cada um. Lembrando ainda que alguns formandos estavam com mensalidades em atraso, e por esse motivo a devolução dos valores seria feita de forma individual. Hoje, o nosso Departamento Jurídico está buscando a melhor forma de tratar deste assunto, tendo em vista os boatos esparramados através das “Redes Sociais”. . As medidas judiciais cabíveis estão sendo tomadas quanto a formação e divulgação de tais boatos. . Continuamos realizando nossos eventos normalmente, e com o nosso escritório em pleno funcionamento em horário comercial. . As nossas Comissões de Formatura que quiserem ter acesso a tais documentos, podem fazer contato e solicitar diretamente isto a Empresa. . Sem mais para o momento. . Atenciosamente; . Luís Júnior. Forma - X Formaturas.

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