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'Profunda decepção com a Justiça', diz mãe de Gabriela Chermont

"Profunda decepção com a Justiça", diz mãe de Gabriela Chermont

Com julgamento adiado pela sexta vez, para Eroteides Regattieri, mãe de Gabriela Chermont, fica a descrença nas instituições

Publicado em 1 de outubro de 2019 às 20:58

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Eroteides Regattieri, mãe de Gabriela Chermont. (TV Gazeta)

Em desabafo por mais um adiamento no julgamento do caso Gabriela Chermont, a mãe da vítima, Eroteides Regattieri, se diz sem palavras para comentar tantos anos de espera e expõe o que sente: "Profunda decepção com a Justiça", demonstrando a descrença que hoje tem nas instituições, gerada pela ansiedade de um júri que nunca aconteceu. O julgamento do caso foi adiado pela sexta vez nesta segunda-feira (30), devendo acontecer no dia 3 de dezembro.

Gabriela foi encontrada morta após queda de um prédio na Mata da Praia, em Vitória, há 23 anos. O réu é o ex-namorado dela à época, Luiz Claudio Ferreira Sardenberg. Desde então, a defesa dele trabalha com a hipótese de suicídio, enquanto a acusação aponta que Gabriela foi intencionalmente jogada do apart hotel.

Segundo Eroteides, não há muito mais a ser dito. “Já participei de coletiva, inclusive junto ao doutor Cristiano, que veio com a equipe de São Paulo só para esse julgamento. O que eu acho é que a gente se prepara e eles deixam para apresentar petição no último momento. Nesse caso do atestado médico da testemunha, sei que a cirurgia de catarata é eletiva, ninguém estava hospitalizado ou em estado grave, e sabiam da data do júri. A operação foi feita sete dias atrás e apresentaram o atestado só na véspera da ida ao tribunal”, revelou.

Aspas de citação

“O médico já foi ouvido, já há testemunho dele, não tinha necessidade de adiamento. Percebe-se claramente que a defesa está fazendo manobras para não ter o júri. O que eu posso afirmar é que a acusação está sempre pronta, mas eles sempre têm desculpa e isso não pega bem, já está ficando feio. Precisaria de argumento mais plausível porque do jeito que está sendo é suspeito. Ainda que o médico tenha atestado de 15 dias, acredito que em uma semana já daria para comparecer. A cirurgia foi feita no dia 24. Conheço outras testemunhas que estavam com problemas e que nem por isso deram desculpas”

Eroteides Regattieri
Mãe de Gabriela
Aspas de citação

"Já que não tem julgamento na Justiça, vamos a público"

Para a mãe de Gabriela, fica a dúvida do porquê de tanto tempo esperando. “Qual será a próxima manobra? Estou presa há 23 anos. O que vão dizer? Vão usar unha encravada como desculpa? No adiamento anterior trouxeram um laudo que tinha sido produzido um ano e três meses antes. Isso já é desrespeitoso. Dessa vez eu tinha mais esperanças, porque já estava vergonhoso demais. Pode ser legal, mas é imoral o que fazem. Poderia haver mais rigor. Minha decepção é com a Justiça, com as leis e com a excessiva complacência com a defesa. Será que o advogado não está preparado para este júri? O que ele teme?”, ressaltou.

Gabriela Chermont morreu em 21 de setembro de 1996. (Arquivo da família)

A frustração com a demora na definição do caso é tanta que Eroteides começou a considerar divulgar fotos e dos laudos oficiais existentes no processo para que chegue ao público o  que ela avalia como "contradição que há entre estas provas e os pareceres trazidos pela defesa".

“Vamos começar a publicar os laudos em redes sociais, jornais, televisão, em nível nacional. O inquérito do delegado Germano Pedrosa, a perícia do dia da morte, do hoje coronel Kesio, as manifestações do hoje Procurador Geral de Justiça (promotor do caso à época), Sócrates de Souza, e a perícia oficial feita em Brasília, merecem vir à tona".

A mãe de Gabriela Chermont revelou ainda que já não sabe o que esperar da defesa e que gostaria de ter a apreciação do caso pelo tribunal, o que tem lhe parecido impossível. “É por isso que quero fazer o julgamento público, já que a defesa tem tanta chance de procrastinar. Já estamos pensando em comunicar isso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ)”, finalizou.

Relembre o caso

A morte de Gabriela Chermont foi causada por queda do décimo segundo andar do Apart Hotel La Residence, situado na Avenida Dante Michelini, no bairro Mata da Praia, em Vitória, na madrugada de 21 de setembro de 1996.

Segundo consta dos arquivos processuais, a jovem e o empresário, Luiz Claudio, teriam rompido o relacionamento e, por indicação de colegas de faculdade, ela teria passado a conhecer um outro rapaz. Em uma das situações em que teriam saído juntos, para um bar na Praia da Costa, amigos do ex-namorado teriam visto e contado para ele. Nesta situação, o denunciado pelo crime passaria a manter telefonemas com Gabriela, até que teriam combinado um encontro na noite de 20 de setembro de 1996.

Testemunhas nos autos do processo relatam que o ex-casal se dirigiu a um bar em Jardim da Penha e que depois se dirigiram ao Apart Hotel, onde ficaram hospedados no apartamento de número 1.204. Luiz Claudio, a partir daí, afirma que os dois mantiveram relações sexuais, enquanto a acusação alega que não e que, em vez disso, teriam ocorrido diversas agressões, causando inclusive quebras de dentes e escoriações na lombar, desencadeando, por fim, no arrastamento e projeção da vítima pela sacada.

Um exame toxicológico realizado à época do caso identificou que o comerciante teria feito uso de cocaína, ao contrário da alegação dele no sentido de ter tomado apenas cerveja.

Defesa do Réu

A reportagem entrou em contato com o advogado Raphael Americano Câmara, em julho, à frente da defesa do réu Luiz Claudio Sardenberg. De acordo com ele, todas as provas técnicas produzidas no processo até o momento indicam que Gabriela teria cometido suicídio.

"Todos os laudos realizados pela Polícia Civil desde 1997 e mesmo em 2018 são taxativos no sentido de que Gabriela se jogou do prédio. Esse é um processo complexo, a família da moça é extremamente influente e acredito que isso tenha contribuído para o tumulto processual", comentou.

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"A verdade é que as teses de suicídio acabaram sendo postergadas. Não é a defesa que está atrasando o processo, como alegam. As provas foram requeridas novamente pela família da jovem e foram novamente taxativas. Tanto as provas de engenharia, como as de legistas do DML capixaba apontam no sentido de que não há condição de ela ter sido jogada daquele apartamento, não havendo mecanismo humano capaz de ter jogado da janela sem ter deixado nela qualquer marca. Isso é uma realidade escancarada. A família ainda quer manter a tese de homicídio por não aceitarem o que o ocorreu. Qualquer pessoa veria que ela se jogou, não é questão de interpretação", finalizou.

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