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Ostentação em Guarapari ajudou a desvendar roubo a casa de ex-deputado

Ostentação em Guarapari ajudou a desvendar roubo a casa de ex-deputado

Depois de manter a família de Luiz Carlos Moreira sob ameaças, criminosos foram para um show na "cidade saúde", mas deixaram pistas aos investigadores da polícia

Júlia Afonso

Repórter / [email protected]

Publicado em 26 de abril de 2023 às 21:15

 - Atualizado há 3 anos

Curtição em um show de Guarapari e aluguel de apartamento perto da praia, no mesmo município, ajudaram a polícia a localizar os integrantes da quadrilha que roubaram R$ 2 milhões em espécie da casa do ex-deputado e ex-vereador Luiz Carlos Moreira, na Serra. O crime ocorreu na madrugada de 17 de março deste ano.

No mesmo dia do roubo, segundo a polícia, dois dos suspeitos foram para a "cidade saúde" gastar parte do dinheiro. Eles foram identificados como Thomas Gabriel, de 20 anos, e Alaf Siqueira, de 22 anos. Outra pessoa localizada em Guarapari, uma semana após o crime, foi Gustavo Borges, de 23 anos, acomodado em um apartamento alugado perto da praia. 

Como tudo começou

O crime aconteceu em Jacaraípe e quatro criminosos participaram ativamente do roubo. Armados, eles invadiram a casa quebrando o vidro da sacada e fizeram a família refém. Além de Luiz Carlos, estavam no local a esposa dele, um bebê de seis meses e uma criança de 10 anos.

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Ostentação em Guarapari ajudou a desvendar roubo a casa de ex-deputado
Thomas Gabriel, 20 anos, Alaf Siqueira, 22 anos , Gustavo Borges, 23 anos, Lincoln Pereira Sperandio, 23 anos, Clarisvaldo Silva Junior, 26 anos, Reinaldo Alves da Silva, 44 anos
Gustavo Borges, Clarisvaldo Júnior, Alaf Siqueira, Lincoln Pereira, Thomas Gabriel e Reinaldo Alves participaram do roubo, segundo a polícia Crédito: Divulgação | Polícia Civil

Os criminosos diziam que iriam atirar caso não encontrassem o dinheiro. Após cerca de 40 minutos, a quantia foi achada em um compartimento secreto atrás de um móvel da casa. À polícia, o ex-deputado disse que os R$ 2 milhões eram provenientes da venda de uma fazenda.

Perícia após o crime

Depois do crime, peritos da Polícia Civil estiveram na casa. Através dos vestígios deixados no local, eles conseguiram coletar algumas amostras e levaram para o laboratório.

Com vestígios das digitais encontradas, os peritos utilizaram uma ferramenta chama "Abis", aqui do Estado, para comparar com as digitais do banco de dados dessa ferramenta. Assim, conseguiram identificar um dos criminosos, dando start aos trabalhos de investigação.

Depois do roubo, "curtição"

No mesmo dia do crime, a polícia descobriu que dois dos ladrões foram para Guarapari gastar parte do dinheiro em um show. São eles: Thomas Gabriel, de 20 anos, e Alaf Siqueira, de 22 anos.

"Depois do show, recebemos informações de que Thomas apareceu no calçadão da Praia Areia Preta, em Guarapari, com sinais de embriaguez. Em seguida, o corpo dele foi encontrado, após ele se afogar no mar", revelou o delegado Gabriel Monteiro, chefe do Departamento de Investigações Criminais (Deic).

De saidinha

Segundo as investigações, Alaf era detento do presídio de Linhares, no Norte do Estado. Ele recebeu o benefício da saída temporária e, nesse período, aproveitou para cometer o crime e curtir a noitada em Guarapari.

Segundo a Polícia Civil, depois disso, ao final da 'saidinha', ele retornou ao presídio como se nada tivesse acontecido.

Os primeiros presos

Um semana após o crime, a polícia recebeu informações através do Disque-Denúncia de que um dos ladrões estaria em um apartamento alugado em Guarapari, perto da praia. Ele foi identificado como Gustavo Borges, de 23 anos, e estava com uma arma de calibre 9mm e celulares. O material foi apreendido.

Na semana seguinte, o segundo suspeito foi preso: Lincoln Pereira Sperandio, de 23 anos. Ele estava na Serra e, conforme a polícia, era o mais violento da quadrilha.

Nesse meio-tempo, mais integrantes do grupo foram sendo identificados. Buscas chegaram a ser feitas nas casas de alguns familiares dos presos. Em uma delas, a polícia chegou a encontrar R$ 32 mil em espécie, que foi apreendido. Veja imagens das ações:

Pai envolvido na fuga

Como dito anteriormente, quatro pessoas participaram do roubo. No entanto, eles não são os únicos responsáveis pelo crime, conforme as investigações.

A polícia explicou que, logo após o roubo, os quatro saíram da casa do ex-deputado e tentaram incendiar o carro utilizado na fuga. Após se livrarem do veículo, o pai de Thomas, identificado como Reinaldo Alves da Silva, de 44 anos, foi até o local buscar o grupo.

O último envolvido no roubo é Clarisvaldo Silva Junior, de 26 anos. "Ele ficou responsável por ocultar e lavar todo o dinheiro roubado", afirmou o delegado Gabriel.

Ônibus e carros para lavar dinheiro

A tática utilizado por Clarisvaldo para lavar o dinheiro, segundo as investigações, foi a compra de veículos: ele adquiriu dois ônibus semileitos, um Honda HR-V, um Fiat Uno, um Honda Civic e uma Mercedes-Benz.

Os criminosos pretendiam usufruir dos automóveis. O Fiat Uno, por exemplo, já estava sendo utilizado em corrida de aplicativo. Todos os veículos, exceto a Mercedes, foram apreendidos em um depósito e encaminhados à justiça.

"Em entrevista formal com as vítimas, elas anexaram documentações de que esse dinheiro teria vindo de uma venda de um imóvel. Todo material apreendido, tanto a quantia em dinheiro quanto os bens móveis, já foram encaminhados à Justiça. Tendo a comprovação da origem lícita do dinheiro da vítima, a justiça irá leiloar os bens e ressarcir a vítima nessa questão", explicou Monteiro.

Como eles sabiam do dinheiro?

Segundo a polícia, os presos disseram que a informação de que a vítima tinha toda essa quantia veio de Thomas, o suspeito que morreu afogado. No entanto, o delegado não acredita nessa versão.

"Todos do grupo eram da região (de Jacaraípe), o médico era conhecido, então há muitas suspeitas, mas nenhuma que eu possa divulgar. Agora, vamos continuar investigando através dos celulares apreendidos", pontuou.

Quem é quem na quadrilha

Reinaldo Alves da Silva e Clarisvaldo Silva Junior seguem foragidos
Reinaldo Alves da Silva e Clarisvaldo Silva Junior seguem foragidos Crédito: Divulgação | Polícia Civil

  • Thomas Gabriel, 20 anos: participou do roubo e morreu afogado no mesmo dia 
  • Alaf Siqueira, 22 anos: participou do roubo e voltou ao presídio em seguida, pois estava de saidinha 
  • Gustavo Borges, 23 anos: participou do roubo e foi preso em um apartamento em Guarapari uma semana depois 
  • Lincoln Pereira Sperandio, 23 anos: participou do roubo e era o mais violento. Foi preso na Serra duas semanas após o crime 
  • Clarisvaldo Silva Junior, 26 anos: responsável por ocultar e lavar o dinheiro roubado. Está foragido 
  • Reinaldo Alves da Silva, 44 anos: pai de Thomas que ajudou na fuga dos criminosos. Está foragido

Todos são acusados pelos crimes de associação criminosa, roubo majorado e lavagem de dinheiro. Quem tiver informações sobre os foragidos (da foto acima), pode ajudar ligando para o Disque-Denúncia (181).

O outro lado

Após publicação desta reportagem, o advogado Thiago Petronetto Nascimento, que faz a defesa de Clarisvaldo, entrou em contato com A Gazeta. Em nota, ele disse que "Clarisvaldo Júnior está em liberdade. A juíza expediu contramandado em seu favor e ele é o único que vai responder em liberdade. Ele também não foi denunciado pelo crime de lavagem de dinheiro, e só está respondendo por favorecimento pessoal por ter guardado parte do dinheiro em sua casa e por associação criminosa. Mas sua inocência será provada no decorrer do processo".

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