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Confeiteiro que diz ter sido preso por engano no ES deixa a cadeia

Confeiteiro que diz ter sido preso por engano no ES deixa a cadeia

Gilmar Paim diz que documento de identidade perdido há 17 anos foi usado por bandido. O Ministério Público solicitou perícia grafotécnica, identificação criminal e citação do réu. Enquanto isso, Gilmar responde pelo crime em liberdade. Senti medo e chorei todos os dias", lembra.

Publicado em 16 de setembro de 2019 às 18:24

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O confeiteiro Gilmar Ribeiro Paim afirma que foi detido injustamente após ter a identidade perdida e usada por um criminoso . (Cristiano Ferreira Costa)

Após sete dias preso, o confeiteiro Gilmar Ribeiro Paim, de 42 anos, ganhou liberdade provisória. Ele afirma que foi detido injustamente após ter o documento de identidade perdido há 17 anos e usado por um criminoso. A família denunciou o caso e o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) solicitou perícia grafotécnica, identificação criminal e citação do réu. Enquanto o caso passa por análise, Gilmar responde pelo crime em liberdade. 

A PRISÃO

O confeiteiro estava em uma agência bancária na tarde de 5 de setembro deste ano quando recebeu uma ligação da mulher, dizendo que havia um homem aguardando por ele. Gilmar foi para casa, no bairro Nova Rosa da Penha II, em Cariacica, quando descobriu que o homem era um oficial de Justiça com um mandado de prisão.

"Foi horrível, nunca imaginei passar por isso. Me mandaram tirar relógio, celular... Ele não me deixou nem entrar em casa. Eu pensei: mas eu não fiz nada, sempre trabalhei honestamente.  Minha família entrou em pânico. Minhas filhas de 12 e 15 anos agarram minhas pernas pra eu não ser levado. Elas choraram muito. Eu pensei: eu preciso ficar tranquilo, porque eu não fiz nada, tenho que provar isso", lembra.

O confeiteiro completou que foi levado, algemado, para a 4ª Delegacia Regional de Cariacica, onde passou uma noite dormindo em um lençol forrado no chão, ao lado de outro detido. Pela manhã, ele foi encaminhado ao Centro de Triagem de Viana (CTV), onde ficou por sete dias.

CONVÍVIO COM DETENTOS

"O tempo todo fui tratado como criminoso. Jamais imaginei isso. Foi humilhante entrar no presídio. Fiquei em uma cela 21 pessoas que tinha capacidade apenas para seis, tendo em vista que eram três beliches. Os presos dormiam amontoados no chão frio. Eu sofri com isso porque tenho problema de coluna. A gente fazia as refeições dentro da cela, enquanto outros faziam necessidades fisiológicas. Era horrível", conta.

Gilson completou que dividiu cela com traficantes e homicidas perigosos. Ele conta que chegou a conversar com eles e disse, na ocasião, que estava preso injustamente. Porém, segundo ele, preferiu ficar isolado para não participar das conversas relacionadas à criminalidade. Ele diz que sentiu medo e chorava todos os dias. 

"O papo lá dentro é só crime. Fiquei mais sozinho, quieto. Quando contei minha história, eles disseram que acreditavam em mim, que dava para sentir que eu não era bandido. Todo tempo que eu fiquei lá, só pensava em como eu ia sair, como estavam as minhas filhas... A hora demora muito para passar na prisão. Senti medo e chorei todos os dias", lembra.

LIBERDADE PROVISÓRIA

Na última quarta-feira (11), o confeiteiro recebeu a notícia que tanto esperou: a prorrogação da prisão que permite que ele responda em liberdade. A decisão da justiça aconteceu após o Ministério Público solicitar perícia grafotécnica, identificação criminal e citação do réu.

"O Gilmar estava com mandado prisão desde 2003, referente a um tráfico de drogas que ele não cometeu. O caso envolve um homem e um taxista, detidos em 2002 durante uma abordagem com seis pacotes de macarrão instantâneo contendo maconha dentro, que seriam levados para um presídio. O detido fugiu no ano seguinte. No processo não tem o documento do preso. Ao ser abordado, o homem apenas deu o nome de Gilmar e dos pais dele. Mas passou outros dados errados, como data de nascimento e naturalidade", explicou o advogado do caso, Cristiano Ferreira Costa.

Para o advogado, houve erro na época, pois o homem não foi identificado de forma correta.

"A polícia, na época, não fez o trabalho correto. Quando alguém é preso sem documentos há um procedimento a ser seguido, pois tem que identificar a pessoa. Mas, na ocasião, não acessaram os registros de documentos de identidade que a polícia tem acesso. No processo também não há fotos. A unica coisa que a policia fez na época foi colher as digitais. Então só com o resultado do exame da coleta das digitais do criminoso preso em 2002, comparando com as do Gilmar, ficará comprovada a inocência dele", diz. 

DECISÃO

A decisão, do juiz Carlos Henrique Rios do Amaral Filho, da 1ª Vara Criminal de Viana, afirma que como não estão presentes os pressupostos para a decretação a prisão cautelar, a detenção passa a representar apenas uma antecipação da punição. 

"Revogo a prisão preventiva do réu Gilmar Ribeiro Paim mediante compromisso, e imponho ao mesmo as medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal, quais sejam: I - comparecimento mensal em juízo para informar e justificar atividades neste Juízo até a prolação da Sentença; II – comparecimento aos atos processuais que for intimado; Expeça-se o competente alvará de soltura. O acusado deve se apresentar em Juízo no primeiro dia útil subsequente a sua soltura para apresentar telefone pessoal e de familiares próximos para contato e endereço atualizado", afirmou.

A sentença completou: "Oficie-se nos exatos termos solicitados pelo Ministério Público para o Departamento de Identificação – DEI/SPTC para a devida identificação e esclarecimento das alegações da Defesa do réu, aduzindo que o Sr. Gilmar Ribeiro Paim não se trata da mesma pessoa que foi autuada em flagrante delito no dia 25/02/2002, remetendo-se a papeleta original constante de fls. 24 destes autos para a realização de exame pericial comparativo de digitais colhidas no referido documento e grafotécnico com a referida pessoa", finaliza. 

Do lado de fora da cadeia, familiares de Gilmar foram aguardá-lo para ele ir para casa.

"A tarde advogado chegou falou que tinha uma notícia boa pra mim, que eu ia sair naquele dia. Chorei demais. Minha família veio toda de São Mateus para me receber na porta do presídio. Foi emocionante. Até os funcionários da portaria da cadeia se emocionaram", lembra. 

O que diz a Polícia Civil:

A Polícia Civil informa que sempre que todo suspeito é detido e encaminhado a uma Delegacia de Polícia é realizada a identificação criminal, onde constam as digitais da pessoa. Todo o material é encaminhado à Justiça, que fica responsável pela verificação dos dados criminais do detido. Caso a pessoa não se reconheça como suspeito deve levar ao conhecimento da Justiça para que façam as devidas verificações.

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