> >
Professores viajam 170 km para dar aula em cidade que paga mais no ES

Professores viajam 170 km para dar aula em cidade que paga mais no ES

Em Presidente Kennedy, quase metade dos professores são de outros municípios. Prefeitura oferece bolsas de pós-graduação, formação continuada e vale alimentação no valor de R$ 900

Publicado em 14 de outubro de 2019 às 18:17

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Bianca se mudou do Rio de Janeiro para exercer a carreira de professora em Presidente Kennedy. (Carlos Alberto Silva)

Todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, Alícia Real Tuão, 63 anos, pega o ônibus e faz o percurso de Cachoeiro de Itapemirim Presidente Kennedy para dar aulas. Os 80 quilômetros na estrada não incomodam mais a professora, que após 30 anos, se orgulha em contar tudo o que conquistou com a profissão. 

Aspas de citação

Eu construí minha família, dei estudo aos meus filhos sendo professora. Não ganho uma fortuna, mas não é ruim a ponto de me fazer desistir

Alícia Tuão
Professora em Presidente Kennedy
Aspas de citação

Alícia começou a carreira dando aula em Presidente Kennedy. Depois que casou, foi morar em Cachoeiro de Itapemirim, mas não achou que seria vantagem ter um cargo lá. "Ia perder muitos benefícios, o impacto ia ser grande no salário", explicou.

É dela a maior renda da família. A professora possui duas pós-graduações e atualmente faz Mestrado aos fins de semana em São Mateus. Hoje ela consegue tirar aproximadamente 5 salários mínimos nas duas escolas onde trabalha."Sem dúvida o salário conta muito. Como eu tenho um certo tempo de trabalho, ainda tenho as vantagens", conta.

Alicia sai todos os dias de Cachoeiro do Itapemirim para dar aulas em Presidente Kennedy. (Carlos Alberto Silva)

A situação de Alícia não é atípica no município do Sul do Estado. "O ônibus vem lotado. Tem gente de Cachoeiro, Marataízes. Todo mundo vem atrás do salário aqui", brinca a professora.

Quase metade do quadro de funcionários da prefeitura é de fora. Dos 354 professores que atuam em Presidente Kennedy, 166 vem de outros municípios, de acordo com a Secretaria de Educação. Há casos de profissionais vindo da capital, há 170 quilômetros do município, e até mesmo de outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro.

"A gente oferece muitos incentivos. Temos um bom plano de carreira, oferecemos cursos de formação, bolsas para pós-graduação e vale alimentação no valor de R$ 900 para qualquer profissional, seja ele efetivo ou contratado. Acredito que isso estimula muito o professor", disse a secretária de Educação Fátima Agrizzi Ceccon. 

Os benefícios fizeram com que Bianca Verdan, 23, trocasse a casa com a família no interior do Rio de Janeiro por uma kitnet no município capixaba há alguns meses. Sem muitas oportunidades onde nasceu, ela viu em Presidente Kennedy a chance de lecionar na área em que se formou: Educação Física. 

Aspas de citação

No início achei que não ia valer a pena, mas coloquei na ponta do lápis e vi que, pela experiência, seria bom morar aqui. Acabei me mudando e estou satisfeita

Bianca Verdan
Professora de Educação Física
Aspas de citação

DUAS REALIDADES

Mas se sobram benefícios, falta infraestrutura. A reportagem visitou três escolas no município e encontrou salas pequenas, improvisadas. Alguns locais sem espaço apropriado para as aulas e materiais para os profissionais. Como é o caso de Bianca, que traz bolas e bambolês de casa para poder dar aulas de Educação Física.

Aspas de citação

Nós temos uma dificuldade muito grande com infraestrutura e material. Eu uso o meu material para dar aula, porque a escola não tem

Bianca Verdan
Professora de Educação Física
Aspas de citação

Presidente Kennedy é um município com diferentes realidades. A cidade dos royalties, conhecida por oferecer benefícios ao profissionais e ter pisos salariais relativamente mais altos para professores com nível superior-  o valor para pós-graduação no município é de R$ 2.539, 29. Já para Mestrado, R$ 2.946,00-  é também um dos 35 municípios que paga menos de R$ 1.598,59 a um professor de nível médio, como demonstrou o levantamento inédito realizado por  A Gazeta. Lá, o piso é de R$ 1.428,46 e apenas um professor, entre tantos ganhando acima do piso nacional, ainda é remunerado abaixo do valor da tabela, que não é reajustada desde 2014. 

Este vídeo pode te interessar

"O município realizou um estudo em junho deste ano e viu que o piso estava defasado. Já solicitamos o reajuste para equiparação do Piso Salarial Municipal ao Piso Nacional. A defasagem é de 11,91% e será corrigida em pouco tempo", justificou a Secretaria de Educação, por meio de nota. 

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais