Publicado em 17 de novembro de 2019 às 06:01
A expressão popular quando dói no bolso, o brasileiro entende nunca fez tanto sentido para os negros capixabas. O resultado da comparação entre os salários recebidos por pessoas autodeclaradas pretas e por brancas, no setor público e na iniciativa privada, revelam um abismo financeiro.>
Dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2017, da Secretaria do Trabalho, do Ministério da Economia, apontam que um homem autodeclarado preto em cargo público ganha 32,1% a menos do que um branco no mesmo segmento. Enquanto um homem preto recebe R$ 6.114,22, um branco ganha R$ 9.006,05. >
No caso das mulheres nos órgãos públicos, a discrepância atinge 41,2%. As autodeclaradas pretas ganham R$ 3.007,54 enquanto as brancas recebem R$ 5.122,05. Na análise, entram apenas trabalhadores que atuam de carteira assinada ou que são funcionários públicos.>
Com base nos salários de 873 mil pessoas do Estado, a Rais revela que o maior valor pago a uma pessoa branca chega a R$ 110 mil em um cargo de direção na indústria. Para uma pessoa preta, o vencimento máximo é de R$ 47.212,63, na função de gerência de vendas.>
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Autodeclarada negra, a servidora pública estadual Ironilda Rangel reclama da falta de representatividade. Hoje sou concursada, mas quem olha pensa que é só meritocracia, não sabe o que aqueles que nos antecederam sofreram para que a gente pudesse ter oportunidade. Quem dera existisse igualdade.>
O sambista Carlos Augusto, o Lajota, buscou alternativas para não sofrer com o preconceito e se encaixar em um mercado de trabalho que "costumava excluir em vez de concentrar quem era considerado diferente. Corri atrás, busquei meu espaço".>
Carlos Augusto "Lajota"
Sambista da Velha GuardaO economista Ricardo Paixão destaca que a diferença salarial está diretamente relacionada ao histórico social, às condições de acesso às instituições de ensino e também às oportunidades de qualificação profissional. >
Um exemplo é a disputa ao cargo de auditor da Receita Federal. Os brancos, que geralmente estudam em escolas mais bem estruturadas, disputam com poucos negros, que muitas vezes não tiveram o mesmo nível educacional. A concentração de brancos que está melhor preparada para cargos nobres é maior.>
Paixão destaca outras características que podem impulsionar os brancos em situação de vantagem no mercado de trabalho, mesmo quando o nível de escolaridade é semelhante. Para especialistas e representantes do Movimento Negro, as cotas raciais no acesso às universidades são uma das principais ferramentas de combate à desigualdade.>
Ricardo Paixão
EconomistaPara fins de esclarecimento, tanto o Movimento Negro quanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que negro é a junção de pretos e pardos. Em alguns casos, a utilização da terminologia negro, para mencionar uma pessoa preta ou parda, pode modificar os dados de uma pesquisa. >
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