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Mercado de trabalho no ES dá sinais de estabilidade, dizem especialistas

Mercado de trabalho no ES dá sinais de estabilidade, dizem especialistas

Dados do Caged mostram uma recuperação nas admissões e queda nas demissões do emprego formal em junho, mês com menor saldo negativo desde março

Publicado em 28 de julho de 2020 às 21:15

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Carteira de Trabalho e Previdência Social do Ministério do Trabalho
Carteira de Trabalho e Previdência Social do Ministério do Trabalho. (Carlos Alberto Silva)

O mês de junho teve o melhor resultado em geração de empregos formais no Espírito Santo desde o início da pandemia do coronavírus no país, em março. Apesar de ter fechado o período com 216 postos de trabalho encerrados, de acordo com especialistas, os dados do Estado mostram que enquanto as admissões estão acelerando, as demissões estão caindo.

Na visão de economistas, o mercado de trabalho formal chegou a um cenário de estabilidade diante das medidas tomadas como redução da jornada e salário, suspensão de contratos e linhas de crédito para empresas pagarem os funcionários. A expectativa é que a partir de agora, com a retomada de algumas atividades econômicas, o saldo de empregos volte a ficar positivo e iniciar uma trajetória de recuperação, ainda que lenta.

De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta terça-feira (28) pelo Ministério da Economia, em abril, foram fechadas 18,7 mil vagas, enquanto que em junho, quase 7.345. Em março, primeiro mês da crise, o saldo foi de quase 4.384 postos de trabalho fechados. No acumulado de 2020, já foram pedidas 26.930 vagas de emprego no Espírito Santo durante a pandemia.

O economista e presidente do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), Celso Bissoli Sessa, vê duas tendências claras. Segundo ele, as admissões estão acelerando aos poucos, resultando na recuperação do poder de consumo da população. Já as demissões estão diminuindo mais rapidamente, indicando a manutenção de empregos resultante, em parte, das medidas do governo.

Bissoli aponta ainda que a divulgada recuperação do trabalho em "V" dependerá que o crescimento seja tão intenso quanto os efeitos negativos observados durante a crise. "Um ponto importante é que a recuperação do mercado de trabalho tende a ser mais demorada que o retorno da atividade econômica. É pouco provável que a economia supere rapidamente esses patamares. Devemos assistir a uma recuperação mais parecida com 'U' do que com 'V'", afirma.

Já o economista Rudison Rodrigues de Paula lembra que as restrições de funcionamento e a desaceleração do consumo provocados pela pandemia do novo coronavírus, atingiram principalmente os setores de comércio e serviços. "Indústria e construção são setores que estão sendo ligeiramente menos atingidos, e como necessitam de uma grande cadeia produtiva para funcionarem, gera-se uma boa expectativa de crescimento e manutenção dos empregos para os próximos meses", comenta.

Para a doutora em Desenvolvimento Econômico, professora da UFES e pesquisadora associada à Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (REMIR), Ana Paula Fregnani Colombi, os números de junho refletem a prorrogação do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, tanto para suspensão de contratos, quanto redução de jornadas.

"O programa teve efeito e produziu uma queda menor do emprego formal do que a pandemia e a crise econômica teriam potencial de produzir. Isto é, o programa teve a capacidade de manter empregos. Os informais, por estarem à margem dessa institucionalidade, amargaram uma situação mais dramática", aponta.

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"Devemos assistir a uma recuperação mais parecida com U do que com V"

Apesar de ainda negativo, o saldo de empregos de junho é melhor do que o resultado registrado em maio. Os dados para o Espírito Santo mostram duas tendências claras: enquanto as admissões estão acelerando aos poucos, resultando na recuperação do poder de consumo da população, as demissões estão diminuindo mais rapidamente, indicando a manutenção de empregos resultante, em parte, das medidas do governo que permitiram a suspensão de contratos de trabalho e a redução da jornada e do salário de funcionários. 

A tendência de reversão dos números negativos é importante para a recomposição do mercado de trabalho formal, já que a crise foi responsável por empurrar muitos trabalhadores para a informalidade. Mas as perspectivas de recuperação da atividade econômica dependem, evidentemente, do controle da pandemia.

 Mesmo assim, as respostas de cada setor deverão ser bem diferentes de acordo com as características dessa crise sanitária. Setores como transportes, combustíveis e itens de limpeza poderão ter uma recuperação mais rápida com o retorno das pessoas aos locais de trabalho e com o cumprimento dos protocolos de reabertura. Por outro lado, a recuperação de setores ligados às atividades turísticas e a alguns serviços tenderá a ser mais lenta por gerarem potenciais aglomerações. 

A propalada recuperação em "V" depende que o crescimento seja tão intenso quanto os efeitos negativos observados durante a crise. Um ponto importante é que a recuperação do mercado de trabalho tende a ser mais demorada que o retorno da atividade econômica. É pouco provável que a economia supere rapidamente esses patamares. Devemos assistir a uma recuperação mais parecida com "U" do que com "V".

Celso Bissoli Sessa

É economista e presidente do Corecon-ES

"Em junho houve uma estabilização dessa queda"

De acordo com dados do Caged, para o mês de junho, houve no Espírito Santo, no acumulado do ano, uma retração no emprego formal de 26.930 postos de trabalho (ou uma queda de -3,68%). Essa queda foi ligeiramente maior do que a registrada para todo o Brasil, que foi de -3,09%. No entanto, vale ressaltar que, especificamente no mês de junho, houve uma estabilização dessa queda, quando foram perdidos 216 postos de trabalho. 

 Dos cinco grupamentos econômicos analisados pelo Caged, o Estado apresentou uma variação positiva em dois no mês de junho. São eles: Indústria geral (+530 postos trabalhos) e construção (+512). Como atividades que apresentaram queda no mês tivemos agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-318 postos de trabalhos), comércio (- 482 postos de trabalhos) e serviços (-458 postos de trabalhos). 

As restrições de funcionamento e a desaceleração do consumo provocados pela pandemia do novo coronavírus, atingiram principalmente os setores de comércio e serviços. Indústria e construção são setores que estão sendo ligeiramente menos atingidos, e como necessitam de uma grande cadeia produtiva para funcionarem, gera-se uma boa expectativa de crescimento e manutenção dos empregos para os próximos meses.

Rudison Rodrigues de Paula

É economista

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Ainda não há motivos para comemorar

No trimestre encerrado em maio de 2020, último dado da Pnad Contínua, o Brasil tinha 12,7 milhões de desempregados. Esse número não reflete com precisão o que vem ocorrendo do mercado de trabalho brasileiro no contexto da pandemia, já que muitas pessoas foram forçadas a sair da força de trabalho e, impossibilitadas de continuar procurando emprego, deixaram de compor a taxa de desemprego. Nesse sentido, para entender o que vem ocorrendo é preciso olhar para o nível da ocupação, isto é, o número de pessoas ocupadas. Entre o trimestre até fevereiro e o trimestre terminado em maio, 7,8 milhões de pessoas saíram da população ocupada, uma queda de 8,3%. Essa queda da ocupação atingiu, principalmente, os trabalhadores informais (desses 7,8 milhões, 5,8 milhões eram informais).   

Apesar de menos intensa, a queda das ocupações formais também ocorreu. É isso que os dados do Novo Caged revelaram e confirmaram ao longo desse primeiro semestre do ano. De acordo com os números, o mercado de trabalho brasileiro encerrou quase 1,2 milhões (1.198.363) de vagas com carteira assinada no primeiro semestre deste ano, maior valor da série histórica.  

A reação do governo à divulgação dos dados de junho, entretanto, foi positiva, pois o fechamento líquido de empregos formais foi de 10.984 vagas, um valor muito abaixo dos meses anteriores (em abril o saldo foi de -918 mil e em maio de -350 mil postos). Esse saldo negativo de 10.984 vagas corresponde à diferença entre o total de admitidos em junho (895.460) e o total de desligados (906.444). A recuperação das admissões tem se dado, principalmente, nos setores de agricultura e construção.  

Os números do Caged para o mês de junho demonstram dois movimentos. O primeiro é que o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda teve efeito e produziu uma queda menor do emprego formal do que a pandemia e a crise econômica teriam potencial de produzir. Isto é, o programa teve a capacidade de manter empregos. Os informais, por estarem à margem dessa institucionalidade, amargaram uma situação mais dramática. Esse programa teve seus prazos prorrogados tanto para a situação de suspensão de contrato quanto para a situação de redução jornada e salários, o que, certamente, está contribuindo para o arrefecimento do fechamento líquido de empregos formais. 

Entretanto, encerrado o programa, as empresas estarão livres para demitir – aliás este é um dos aspectos frágeis dessa política pública – e a dinâmica econômica ainda não terá se restabelecido a ponto de contribuir massivamente para a criação de novos postos. Ao mesmo tempo, com o relaxamento das medidas de distanciamento social, as pessoas fora da força de trabalho devem retornar a ela na condição de busca por emprego, o que implicará o aumento da taxa de desemprego para patamares maiores em relação aos vistos até agora. 

O segundo movimento que os dados revelam é que o emprego formal já não vinha em trajetória muito animadora no momento anterior à pandemia. Embora o saldo do emprego formal estivesse se ampliando entre os anos de 2018 e 2019, a tímida queda do desemprego que vinha ocorrendo se devia mais ao crescimento, mais intenso, da informalidade. Isso demonstra como o fraco desempenho da economia, desde 2015, tem gerado efeitos negativos sobre o mercado de trabalho, o que pode ser constatado pelo fraco crescimento do emprego formal e pelo aumento da informalidade e dos níveis de subocupação. Ao mesmo tempo, a reforma trabalhista aprovada em 2017, não foi capaz de reverter essa trajetória. 

 À luz desses dois movimentos, se analisarmos os números de junho divulgados pelo Novo Caged dentro do contexto mais geral da economia e da trajetória do mercado de trabalho – e não isoladamente –, não restará outra alternativa que não seja colocar em suspenso os motivos de comemoração dos resultados agora divulgados.

Ana Paula Fregnani Colombi

É doutora em Desenvolvimento Econômico pelo IE/Unicamp/CESIT, professora da Universidade Federal do Espírito Santo CCJE/UFES e pesquisadora associada à Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista – REMIR

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