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Publicado em 29 de junho de 2021 às 20:38
Diante do agravamento da crise hídrica em território brasileiro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou nesta terça-feira (29) um aumento no valor das bandeiras tarifárias na conta de energia elétrica a partir de 1º de julho. A tarifa da bandeira vermelha nível 2, que é o patamar mais alto e está em vigor, passou de R$ 6,24 para R$ 9,49 por cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Esse acréscimo pode resultar em um aumento médio de 5,25% no valor total da conta de luz dos capixabas.>
A medida é uma alternativa para induzir o consumidor a poupar eletricidade, mas também uma forma de compensação pelo aumento dos custos de produção de energia. Com a geração hidrelétrica comprometida por causa do período de seca histórico, o país precisa recorrer às usinas térmicas.
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Essas unidades consomem gás, óleo combustível ou diesel e, quando são ligadas, elevam o custo de geração de energia, já que é necessário gastar com a compra do combustível. Esse aumento acaba sendo diluído na fatura enviada ao consumidor, por meio da cobrança das bandeiras tarifárias sobre a conta de luz, um tipo de "taxa extra".>
O sistema de bandeiras, adotado pela Aneel desde 2015, é usado para indicar, nas mesmas cores do semáforo, se as condições de energia estão favoráveis para a geração (verde); se há uma produção moderada (amarelo); se há um custo maior (vermelha 1); ou se o patamar de geração está ainda mais caro (vermelha 2). >
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Na bandeira verde, ainda não há custos adicionais. As demais passaram por reajustes, aplicados sobre o consumo de 100 kWh no mês de julho:>
"Essas bandeiras são como uma parcela extra na conta de energia. Quando os reservatórios baixam, é preciso despachar outras fontes de geração de energia, principalmente as térmicas, que têm um custo mais alto. Por meio das tarifas, esse aumento é diluído na conta ao longo dos meses, de forma a evitar fazer um reajuste anual muito maior", observou o coordenador do curso de pós-graduação em Eficiência Energética Industrial do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) de São Mateus, Rodrigo Fiorotti.>
Ele explica que, hoje, no Espírito Santo, o preço do quilowatt-hora (kWh) é R$ 0,557, desconsiderado os impostos. Caso a nova bandeira amarela estivesse em vigor, o valor passaria a R$ 0,575. Na bandeira vermelha 1, subiria para R$ 0,5967. Já na bandeira vermelha 2, utilizada atualmente, o valor do kWh passa a ser de R$ 0,6519.>
"No patamar da bandeira tarifária vermelha 2 o preço total sai de R$ 0,6194 para R$ 0,6519. Sendo assim, alguém que consuma, por exemplo, 120 kWh/mês deixaria de pagar cerca de R$ 74,33 e passaria a pagar cerca de R$ 78,23 desconsiderando os tributos", observou o especialista. >
Segundo o governo federal, o consumo médio residencial mensal de energia no Sudeste do Brasil é de 172 kWh. Com base nele, o aumento aplicado no mês que vem deve fazer a conta de luz subir de R$ 106,53 para R$ 112,12 em julho.
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Veja abaixo outras simulações:>
Sobre esse valor ainda é cobrado o PIS/Cofins, impostos federais, que variam mês a mês. Segundo a tabela da EDP, concessionária de energia que atende 70 municípios do Estado, em junho, as alíquotas desses dois tributos somaram 2,92%.>
Já o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), cobrado pelo Estado, é de 25% sobre consumidores residenciais que não sejam de baixa renda e que tenham utilizado mais de 51 KWh no mês.
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Segundo a Aneel, o valor para a bandeira vermelha patamar 2 contempla os custos de geração de energia elétrica decorrentes da crise hídrica vivenciada neste momento, a pior desde 1931 segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS). >
A agência alertou, entretanto, que uma nova consulta pública será aberta nos próximos dias para avaliação da cobrança, que pode passar por novos aumentos nos próximos meses.>
"Tudo depende do consumo, da região onde se mora, mas, no final das contas, podemos estar olhando para um reajuste de cerca de 10% na conta, até o final do ano. A agência já disse que, no mês de agosto, reavaliará se é possível manter as bandeiras tarifárias assim, ou se será necessário reajustar novamente, e tudo indica que sim", pontuou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.>
Ele observa ainda que enquanto o aumento das tarifas impacta as famílias de maneiras diferentes, o efeito indireto é sentido por todos, uma vez que o encarecimento da energia afeta o custo de produção de grande parte do que se consome no país, sejam bens ou serviços. >
“O reajuste, a princípio, tem essas duas finalidades: repassar o aumento de custos com as térmicas, que tem operação mais cara que usina hidrelétrica, e incentivar a redução do consumo. Mas é algo difícil de alcançar porque grande parte das pessoas não senta para discutir os gastos e tomar uma decisão consciente de reduzir o consumo de energia", avaliou o professor do Ifes de Vitória Pablo Muniz.>
Especialistas estimam que a elevação em 52% da bandeira vermelha de nível 2 deve aumentar a pressão sobre a inflação deste ano e levar o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) a fechar 2021 em 6,4%, acima do teto da meta.>
Pablo Muniz
Professor do Ifes, Campus VitóriaO país enfrenta atualmente a maior crise hídrica dos últimos 91 anos, segundo avaliação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Os reservatórios das hidrelétricas estão com menos de um terço da capacidade e o período de chuvas já acabou. Entre setembro do ano passado e abril de 2021, o Brasil registrou o menor volume histórico de água nas represas das usinas hidrelétricas, responsáveis pela maior parte da energia gerada no país.>
O baixo volume dos reservatórios afeta, principalmente, as Regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por grande parte da capacidade de armazenamento de água em território brasileiro. Embora o Espírito Santo não tenha sofrido com a seca, ele é afetado indiretamente já que o sistema elétrico é interligado em todo o país.>
Diante da situação crítica, no início de maio, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) autorizou o ONS a utilizar todos os recursos disponíveis para poupar água nos reservatórios das hidrelétricas, "sem limitação nos montantes e preços associados". Além disso, autorizou o acionamento das usinas termelétricas e também a importação de energia da Argentina e do Uruguai e a importação de gás natural da Bolívia, de modo minimizar a crise do setor de energia. >
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