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Após prédio ser evacuado, moradores ainda não sabem onde vão dormir em Vila Velha

Após prédio ser evacuado, moradores ainda não sabem onde vão dormir em Vila Velha

Edifício do Residencial Vila Velha foi isolado pela Defesa Civil na noite de quinta-feira (11). No prédio, construído pelo programa Minha Casa Minha Vida, foram encontrados diversos problemas, segundo análise do Crea-ES

Publicado em 12 de fevereiro de 2021 às 17:14- Atualizado há 3 anos

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Uzir Correa Barreto e Janio Alves dos Santos não têm para onde ir. Eles são moradores Residencial Vila Velha.
Uzir Correa Barreto e Janio Alves dos Santos não têm para onde ir. Eles são moradores Residencial Vila Velha. (Carlos Alberto da Silva)

O sonho da casa própria se transformou em pesadelo para 16 famílias residentes no bloco 13 do Residencial Vila Velha, no bairro Jabaeté, que desde a noite de quinta-feira (11) estão fora de seus apartamentos, sem prazo para retornar. Com os apartamentos interditados, eles não sabem nem sequer onde vão passar esta noite.

"Pagamos aluguel antes disso. Esperamos nove anos para realizar o sonho da casa própria, o sonho da Minha Casa Minha Vida. E o sonho já era. Passei a noite na calçada, sem ter onde dormir. E hoje também não sei como vai ser", contou a auxiliar de limpeza Uzir Correa Barreto, proprietária de um dos apartamentos.

Ela e o marido,  Jânio Alves dos Santos, saíram de casa às pressas, levando somente alguns pertencentes e uma dócil vira-lata caramelo. O homem conta que está desempregado e que o casal não tem para onde ir, pois a maior parte da família vive no Norte do Espírito Santo

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Sempre aparecia um problema ou outro no prédio, mas até então eram coisas menores e alguém da Caixa aparecia para resolver. Mas, de repente, chegou nesse ponto e não sabemos como isso tudo vai se resolver

Jânio Alves dos Santos
Desempregado
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De acordo com a síndica do Residencial Vila Velha, Mirian de Freitas, os moradores continuam desalojados. “Desde ontem (11) estou com os moradores na rua. O pessoal dormiu na calçada. Não tem abrigo e não tem decisão do que será feito por essas pessoas”, desabafa. 

O prédio foi isolado pela Defesa Civil de Vila Velha após relatos de estalos na estrutura. Ao final da manhã desta sexta-feira (12), representantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES) estiveram no local para realizar vistorias e constaram problemas diversos, entre rachaduras, recalques, desníveis e infiltrações.

Segundo o engenheiro e presidente do órgão, Jorge Silva, representantes do Crea-ES permanecerão no local por pelo menos 72 horas, para averiguar a evolução dos anos e se, efetivamente, há risco de desabamento. 

Residencial Vila Velha, em Jabaeté, teve prédio interditado pelas autoridades. Condomínio do Minha Casa Minha Vida apresenta outras falhas na estrutura(Ricardo Medeiros)

"O condomínio faz parte do programa Minha Casa Minha Vida, e estamos em contato com a Caixa Econômica Federal. Passamos para eles as informações preliminares e estamos cobrando assistência às famílias, que não vão poder retornar por pelo menos 72 horas", afirma.

Silva destaca que as empresas responsáveis pela construção - que foram três ao longo dos anos - já foram identificadas. Contudo, segundo a Caixa, todas elas já faliram. As obras foram entregues em 2016, sendo que o contrato de construção foi assinado em 2010.

A ausência de responsáveis pelas obras preocupa os moradores, que agora dependem do apoio do banco para seguir com a rotina.

Uma porteira de 36 anos que também vive no edifício mas não quis ser identificada disse estar indignada. No apartamento, comprado há quase cinco anos, vivem ela, três filhas, e uma neta.

"Ontem, saímos às pressas e conseguimos dormir na casa de uma amiga. Mas ainda não sei se ela vai poder nos dar abrigo novamente. A gente fica sem saber o que fazer enquanto isso. Ninguém fala nada, o pessoal diz que vai resolver, mas até agora, não temos respostas."

Lucimar Viana da Silva, 58, moradora do Residencial Vila Velha, mostra as chaves da casa que teve que desocupar às pressas no meio da noite
Lucimar Viana da Silva, 58, moradora do Residencial Vila Velha, mostra as chaves da casa para a qual ainda não sabe quando retornará. (Carlos Alberto da Silva)

A falta de respostas também preocupa a auxiliar de serviços gerais Lucimar Viana da Silva, 58, que mora com um filho em um dos 16 apartamentos do bloco 13.

"Foi um estalo enorme no apartamento. A cerâmica começou a estalar e mandaram desocupar o prédio. Passei a noite na calçada, mas não sei quando vamos retornar."

Representes da Prefeitura de Vila Velha estiveram no local por volta das 13 horas, para colher informações sobre as famílias. Segundo uma fonte que preferiu não ser identificada, as informações serão repassadas à Caixa para que seja prestada a assistência necessária às famílias. "A Caixa pediu que fizéssemos um levantamento do número de moradores para que sejam tomadas as devidas previdências."

Uma representante do banco esteve no local e pagou pelo almoço das famílias. Contudo, os moradores não foram informados de mais detalhes.  

SINDUSCON: RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS E ENGENHEIROS

De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Espírito Santo (Sinduscon-ES), Paulo Baraona, a entidade não tem poder fiscalizatório sobre as obras realizadas no Estado. “A Caixa tem responsabilidade por ser contratante, mas na obra você tem os profissionais de engenharia que são contratados para realizar a execução do projeto”.

Segundo Baraona, a responsabilidade legal começa pela empresa e pelos engenheiros, que precisam ter o registro no Crea-ES, que são os responsáveis técnicos que fizeram o projeto e que executaram a obra. “As primeiras pessoas que tem que ser chamadas a responsabilidade são elas. Nem a Caixa ou outro órgão deve interferir. Quando você começa a juntar um monte de órgãos começa a prejudicar uma eventual solução imediata”, comenta.

Quanto ao fato do caso ocorrer mais uma vez em um condomínio do Minha Casa Minha Vida (MCMV), Baraona afirma ser algo aleatório. “Tem acontecido mais no MCMV porque a quantidade de construções do programa representam mais de 50% das construções do Estado. Então só tem mais possibilidade de ser no Minha Casa Minha Vida por conta do número de obras do projeto”, diz.

O QUE DIZ A CAIXA E A PREFEITURA

A Prefeitura de Vila Velha informou que a Defesa Civil Municipal, em reunião com representantes da Defesa Civil Estadual, Bombeiros, Caixa e Crea, decidiu manter a orientação de interdição do prédio por mais 72 horas, até que seja dado novo parecer de engenharia da edificação.

Já a Caixa informou que encaminhou uma equipe técnica ao local e que, até os moradores poderem retornar às suas residências, eles serão colocados em hotéis. "A  Caixa, na condição de representante do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), prestará a assistência necessária aos moradores do bloco interditado até que a segurança das unidades seja atestada."

O banco público ainda destacou que, conforme regras previstas no Minha Casa Minha Vida, o FAR se responsabilizará pelos reparos necessários e fará a contratação emergencial de uma empresa para execução das obras, o que ocorrerá nos próximos dias, após a conclusão do diagnóstico e monitoramento que serão efetuados no prédio.

A Caixa ainda frisou que as três empresas que atuaram nas obras (Construtora R Carvalho Construções e Empreendimentos Ltda, Decottignes Construção e Incorporação Ltda e Solare Construtora Incorporadora Ltda), bem como os sócios, estão impedidas de operar com a Caixa em novos projetos.

Errata Atualização
12 de fevereiro de 2021 às 18:49

A reportagem foi atualizada com os posicionamentos da Caixa Econômica Federal e da Prefeitura de Vila Velha.

* Com informações de Siumara Gonçalves

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