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Pesquisadora da Ufes descreve fóssil raro de inseto encontrado no Ceará

Pesquisadora da Ufes descreve fóssil raro de inseto encontrado no Ceará

Arianny Storari é doutoranda em biologia animal pela Ufes e fez a descrição de uma nova espécie de inseto encontrada na Formação Crato, que data de 113 a 125 milhões de anos

Publicado em 3 de novembro de 2020 às 16:44

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Foto do inseto da espécia Incogemina nubila descoberto no Ceará
A espécie Incogemina nubila foi descoberta no Ceará. (Frederico Salles)

Uma pesquisadora capixaba descreveu um fóssil de um inseto datado de mais de 113 milhões de anos. Arianny Storari, que é doutoranda em biologia animal pela Universidade Federal do Espírito Santo, foi quem detalhou a espécie nova do animal, encontrado em um parque de escavação no Ceará e cujo nome científico é Incogemina nubila. O exemplar faz parte da ordem dos insetos popularmente conhecidos como efêmeras.

Arianny explicou que não estava no momento da escavação do fóssil, trabalho que foi realizado por pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (URCA), que fica na cidade de Crato, no Ceará, onde também está a Formação Crato, local onde o fóssil foi encontrado. A capixaba contou que havia uma parceria dos pesquisadores da URCA com a sua orientadora no mestrado e que, quando o fóssil foi descoberto, em 2018, ela chegou a ir até a cidade cearense.

"A escavação ocorreu no início de 2018 e, já no fim do ano, eu fui ao Crato para olhar os fósseis que foram coletados. Como não havia nenhum especialista na época que soubesse desse grupo fóssil, o exemplar ficou lá só aguardando alguém estudá-lo pra descobrir o que era e o que tinha de especial ou não", disse.

Escavação na mina onde o fóssil foi encontrado, no local conhecido como Formação Crato
Escavação na mina onde o fóssil foi encontrado, no local conhecido como Formação Crato. (Flaviana Lima)

Após a análise e descrição do fóssil, Arianny fez uma descoberta incrível: se tratava de uma nova espécie com características híbridas entre dois grupos que até hoje habitam o planeta terra. E isso é curioso, já que, segundo a pesquisadora, o exemplar é do período Cetáceo e tem entre entre 113 e 125 milhões de anos.

"Era uma espécie nova, o que já é bem bacana por si só. Mas, melhor que isso, o inseto apresenta um padrão de asas que é intermediário entre dois grandes grupos viventes, isso é o mais sensacional. É como se ele estivesse no meio do caminho evolutivo ainda, em termos gerais. Existem dois padrões gerais de asas dentro das efêmeras; um grupo que tem as nervuras das asas muito reduzidas e outro grande grupo que tem muitas nervuras nas asas. Essa nova espécie está no meio do caminho disso", afirmou.

A descrição de Arianny foi publicada na quarta-feira (28) pela revista Plos One, uma publicação acadêmica elaborada pela Biblioteca Pública de Ciência, de São Francisco, nos Estados Unidos. O material é disponibilizado apenas de forma online e é especializado majoritariamente em descobertas científicas e da área de medicina. 

FÓSSIL ENCONTRADO EM CONDIÇÕES PERFEITAS

Mas como é possível um fóssil de mais de 100 milhões de anos ser encontrado em perfeito estado de conservação? Segundo Arianny, a Formação Crato é reconhecida mundialmente como um lugar cujos exemplares são encontrados em perfeito estado. A pesquisadora explicou que há poucos lugares no mundo assim e que uma série de fatores justificam isso.

"Quando o organismo morre, se inicia a decomposição, que vai acontecer até que ele seja mineralizado, caso venha a se tornar um fóssil. Quanto mais rápido ocorrer a mineralização, melhor será a preservação. Se a mineralização é tardia, a decomposição vai remover todos os tecidos do organismo", contou Arianny.

Aspas de citação

Daí, existe toda uma combinação de fatores do ambiente deposicional do passado que podem gerar uma unidade geológica como a Formação Crato hoje em dia. Que o ambiente seja anaeróbico ou tenha pouco oxigênio, além disso, temperaturas altas promovem uma decomposição mais rápida, enquanto um Ph não neutro pode retardar a decomposição... 

Arianny Storari
Doutoranda em biologia animal e pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo
Aspas de citação

Eventos catastróficos e até a presença de outros organismos também são fatores importantes para manter o fóssil preservado mesmo debaixo da terra, como explicou Arianny. Os micróbios, por exemplo, podem fazer com que o fóssil permaneça inteiro e não seja destruído pela ação do tempo.

"Esteiras de micróbios também podem auxiliar na preservação dos tecidos, funcionando tipo uma âncora, impedindo que o organismo seja desmembrado. Eventos catastróficos também podem auxiliar para que o organismo morto seja rapidamente soterrado e não sofra decomposição... e assim por diante", complementou.

A pesquisadora ainda explicou um fato curioso sobre o inseto e a região na qual foi encontrado. Com a data de 113 a 125 milhões de anos atrás, Arianny contou que a formação geológica do Brasil e, principalmente, da Formação Crato, que fica na região Sul do interior do Ceará, próximo a divisa com Pernambuco, era um pouco diferente naquele período.

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"Pra se ter uma noção, o interior do Ceará, onde o fóssil foi coletado, naquela época estava na beira do mar. A Formação Crato era um complexo de lagos na beira do mar. Então, o planeta estava um pouco diferente, a África estava começando a se separar do Brasil ainda, então tinha um mar bem estreitinho e raso naquela região", finalizou.

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