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Justiça dá 10 dias para famílias sem casa desocuparem escola desativada em Vitória

Justiça dá 10 dias para famílias sem casa desocuparem escola desativada em Vitória

Grupo de 56 pessoas, incluindo crianças, vive há cinco anos sem moradia, mudando de local a cada reintegração de posse; prefeitura diz que elas não têm direito a aluguel social

Publicado em 29 de outubro de 2021 às 16:02

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Famílias que ocupam escola municipal no Romão, em Vitória, não têm para onde ir
Famílias que ocupam escola municipal no Romão, em Vitória, não têm para onde ir. (Divulgação/MNLM)
Vinícius Brandão
Estagiário / [email protected]

Após dois meses em que transformaram a escola municipal Irmã Maria Jacinta Soares de Souza Lima, no Romão, Vitória, em lugar de moradia, 21 famílias foram notificadas pela Justiça e têm 10 dias para deixar o espaço. 

A decisão atende a pedido da Prefeitura de Vitória, que planeja reconstruir a unidade do ensino, desativada desde 2013 e que hoje abriga a Ocupação Chico Prego. O grupo de 56 pessoas, incluindo crianças e idosos, vive há cinco anos sem casa, mudando de local a cada reintegração de posse. Apesar da solicitação, a administração municipal não apresentou solução para o caso das famílias.

As pessoas deverão deixar a escola sem ter direito a aluguel social, bolsa-moradia ou a possibilidade de ir para abrigos da prefeitura porque, segundo a administração, não se enquadram nas exigências para esses benefícios. 

As famílias que ocupam a escola estão há quase cinco anos na luta por moradia digna em Vitória. Já participaram de outras ocupações, como a Fazendinha, no bairro Grande Vitória; na Casa Cidadão, em Maruípe, e no prédio do IAPI, no Centro. A mais longa foi no edifício Santa Cecília, no Parque Moscoso, onde ficaram por mais de dois anos, até o local ser desocupado com intuito de ser transformado em moradias populares.

Entretanto, uma ordem judicial vinculou a saída das famílias do local a uma solução provisória, segundo conta a vereadora Karla Coser, que acompanha o caso. Elas então tiveram um ano de aluguel social, prorrogado por mais 6 meses devido à pandemia da Covid-19, no fim da gestão de Luciano Rezende. Além da promessa de cursos profissionalizantes para reinserção no mercado de trabalho, que não foi cumprida.

Com o fim do prazo da ordem judicial, acrescenta Karla, a prefeitura parou de pagar o benefício e essas pessoas acabaram indo para a escola no Romão, onde estão há dois meses. A coordenadora estadual do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), Rafaela Regina Caldeira, afirma que muitas estão desempregadas e nem sequer recebem Bolsa Família.

“Tem a Miriam Alves, por exemplo, ela tem 4 filhos, um bebê de 1 ano, desempregada e nem bolsa família tem. Eu sou mãe solteira, tenho uma tia cadeirante e a gente não tem para onde ir. Daqui a 10 dias eu não sei aonde vamos", lamentou.

Segundo ela, já houve tentativa de diálogo com a administração de Lorenzo Pazolini, mas nenhuma resposta às solicitações. “Já mandamos três ofícios. Tentamos agendar com a nova gestão. Via defensoria, via movimento, via cidadão e não obtivemos nenhuma resposta."

Rafaela conta que, na notificação que receberam, as famílias são orientadas a voltar para o  lugar de origem, mas ninguém tem condições de pagar por moradia. “Não temos dinheiro para pagar o aluguel. Vamos aumentar a população de rua; nossa preocupação é essa. São mães com crianças, pessoas idosas, acamados.”

Aspas de citação

Não temos dinheiro para pagar o aluguel. Vamos aumentar a população de rua; nossa preocupação é essa. São mães com crianças, pessoas idosas, acamados

Rafaela Regina Caldeira
Coordenadora estadual do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM)
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A vereadora Karla Coser aponta que as famílias não estão inseridas em nenhum projeto municipal. "Estão obrigando elas a sair daqui a 10 dias, sem dar uma solução, sem nenhuma atitude, como aluguel social, benefício transitório, para que tenham onde morar."

O QUE DIZ A PREFEITURA

A Prefeitura  de Vitória informa, em nota, que vem acompanhando as famílias que estão na escola. "A Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (Sedec) realizou um trabalho de identificação de cada uma delas. Conforme as leis municipais 6592/2006 e 6967/2007, que tratam da política habitacional do município de Vitória, não há previsão para o enquadramento das famílias nos benefícios Aluguel Provisório e Bolsa Moradia", justifica. 

Ainda segunda a nota, os moradores do Romão solicitaram obras na unidade de ensino, hoje ocupada. "O local passará por demolição para a construção da nova sede da escola. Também será construído um muro de arrimo no local. A licença ambiental para as obras já foi emitida e a previsão é que o edital para o início das intervenções seja publicado até o fim do ano", diz a prefeitura.

A administração afirma também que, conforme levantamento da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), as pessoas da ocupação já estão no Cadastro Único (CadÚnico) e têm acesso a benefícios eventuais. "As mesmas não podem ser encaminhadas aos abrigos municipais por não atenderem ao perfil dos atendidos. Os equipamentos da rede socioassistencial são destinados a quem teve vínculos familiares rompidos ou demandas encaminhadas pela Defesa Civil."

A Prefeitura de Vitória acrescenta que, ao longo deste ano, entregou 30 casas populares. que desde o início do ano, 30 casas já foram entregues pela atual gestão, garantindo dignidade e cidadania às famílias.

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