A juíza Heloísa Cariello, da 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual e Municipal de Vitória, revogou nesta terça-feira (23) a própria decisão, que havia apresentado na véspera, em que determinava o bloqueio de bens do secretário de Mobilidade, Fabio Damasceno, e a suspensão de contrato do governo com a Salvador Empreendimentos para desinfecção de terminais do Sistema Transcol devido à Covid-19.
A ação sugeria irregularidade na contratação, no valor global de R$ 12,5 milhões, em função de sucessivos aditivos sem licitação.
Fábio Damasceno pediu a reconsideração da decisão à juíza sob a justificativa de que o autor da ação, o deputado estadual Carlos Von (Avante), que faz oposição ao governo, já havia ingressado com outro processo na Justiça com o mesmo objeto - o contrato de desinfecção dos terminais. O caso foi apresentado inicialmente à 3ª Vara Cível Federal de Vitória, mas o juízo declarou a incompetência para apreciar a ação, remetida em seguida para a esfera estadual.
No pedido de reconsideração, Damasceno incluiu o processo que hoje tramita na 5ª Vara da Fazenda Pública Estadual e Municipal de Vitória. Nessa ação anterior, a juíza Milena Sousa Vilas Boas já havia indeferido (negado), na sexta-feira (19), o pedido liminar de Carlos Von para bloqueio de dinheiro e bens móveis e imóveis dos citados no processo, entre o quais o secretário Fabio Damasceno, e para suspensão do contrato.
Na avaliação de Milena Vilas Boas, segundo consta na decisão, o governo do Estado agiu conforme a legislação específica para contratar, em caráter emergencial, a desinfecção dos terminais, serviço que se tornou necessário com a pandemia. A juíza também não identificou nos autos elementos comprobatórios suficientes para atender os pedidos do deputado.
Já na decisão desta terça-feira, a juíza Heloísa Cariello observou a existência de litispendência - termo jurídico para o ajuizamento de duas ações que possuam as mesmas partes, a mesma causa e o mesmo pedido - e revogou todas as medidas anteriores que havia tomado, como o bloqueio de bens e suspensão do contrato.
Na ação, o deputado aponta que o governo do Estado contratou, reiteradamente e sem licitação, a Salvador Empreendimentos, empresa de obras de Anchieta, no Sul capixaba, que havia sido criada em 2013, e sem experiência anterior com desinfecção.
A habilitação para atuar na área, segundo consta no processo, foi obtida menos de dois meses antes da assinatura do contrato.
O valor inicial era de R$ 1,47 milhão, por 90 dias, e a contratação foi publicada no Diário Oficial de 13 de maio de 2020. Depois, ainda segundo a ação, foram apresentados aditivos, que elevaram o gasto previsto inicialmente, ultrapassando os R$ 12,5 milhões em dois contratos 007/2020 - terminais de Vila Velha, Ibes, São Torquato, Laranjeiras, Carapina, Jacaraípe, Jardim América, Itacibá e Campo Grande - e 004/2021 - terminal de Itaparica e Rodoviária de Vitória. Confira os valores que constam no processo:
A ação ainda cita o presidente do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), Munir Abud, porque teria relação profissional com a Salvador Empreendimentos, o que foi negado pela assessoria da instituição. Nos dois processos apreciados pela Justiça, não houve acolhimento para essa acusação.
Em entrevista na manhã desta terça-feira, durante evento do governo do Estado, Fabio Damasceno disse que ainda não havia sido notificado da decisão anterior, mas negou qualquer irregularidade.
Damasceno disse que estava confiante sobre o trabalho feito pela equipe da Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi), na lisura no processo de contratação e ressaltou que o serviço de higienização dos terminais e dos ônibus salvou vidas durante a pandemia.
Diante da litispendência, o advogado Raphael Câmara, que defende o secretário nesta ação, mostra-se crítico. "Não se pode usar o Judiciário como loteria, propondo ações reiteradas; é preciso ter responsabilidade. Neste caso concreto, o autor propôs duas ações idênticas e, como foi derrotado em uma, repetiu sem informar o Poder Judiciário da ação anterior, o que redundou na revogação da liminar."
nesse caso concreto, propôs duas ações identicas e como foi derrotado em uma, repetiu sem informar o poder judiciário
Para o governador Renato Casagrande (PSB), a ação é marcada por "denuncismo" e "luta política". Ele explicou que o contrato de desinfecção dos terminais de ônibus foi feito, inicialmente, de forma emergencial, depois seguiu o trâmite do processo de pregão eletrônico, atendendo às normas legais, como consulta de preços. Ele afirma que tudo será explicado à Justiça.
"Temos total confiança na forma de contratação e na importância dos serviços prestados nos terminais. Tenho plena convicção de que nós responderemos na Justiça. Esse contrato já foi auditado e analisado pelos órgãos de controle".
Casagrande não quis comentar a decisão judicial, mas considerou o pedido uma luta política.
“A gente vive no Brasil e no Estado uma indústria de denúncias, a litigância de má-fé, que é contra a lei. Isso mostra a indústria e a busca de criar confusão, gerar dúvida. Isso é o normal da política, infelizmente. Infelizmente, a gente vive esse ambiente de denuncismo e busca insana de criar dificuldade para gente governar o Estado", pontuou.
A Salvador Empreendimentos também foi procurada, mas ainda não se manifestou sobre o caso. No momento que apresentar seu posicionamento, este texto será atualizado.
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