Publicado em 11 de maio de 2022 às 20:16
Um tipo de hepatite aguda de origem desconhecida está acometendo crianças em cerca de 20 países. Muito mais agressiva, ela tem levantado questionamentos das famílias sobre as formas de contágio e de quais medidas tomar para evitar o seu surgimento. >
No Brasil, já são 28 casos suspeitos, sendo dois deles no Espírito Santo, que estão sob investigação da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).>
Apesar de ainda ser uma incógnita, autoridades sanitárias suspeitam que essa nova hepatite tem relação com os adenovírus, um grupo que normalmente causa doenças respiratórias, como resfriado, pneumonia, entre outros. >
Também foi levantada a hipótese dela estar associada à Covid-19, já que foi apontada a presença do SARS-CoV-2 em amostras de pessoas infectadas. Os exames não identificaram a presença de nenhum dos vírus de hepatite conhecidos, de A a E.>
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Segundo a infectologista pediátrica Filomena Alencar, ainda não é possível definir como ocorre a transmissão da doença, pois os estudos sobre a sua origem começaram a ser feitos recentemente. Os primeiros casos da hepatite "misteriosa" foram registrados no início do mês passado em países europeus. >
"Uma das possibilidades discutidas é a relação com os adenovírus, que costumam ser eliminados por fezes e por secreções respiratórias, como gotículas de saliva, coriza, entre outros. Mas só teremos o diagnóstico correto mais adiante", destaca.>
O comportamento da doença também não se mostrou semelhante ao da Covid-19 e não deve exigir o retorno do uso das máscaras, conforme explicou o infectologista Daniel Junger. Ele pontua que a influência dos vírus respiratórios parecem ser menores, já que as pessoas estão adoecendo individualmente. >
"O que deve estar acontecendo é uma contaminação através de comidas com coliformes fecais, assim como pela falta de higienização das mãos, levando pessoas que não necessariamente possuem um vínculo a apresentarem sintomas juntos", avalia. >
Junger também destaca que a evolução dos quadros de saúde tem chamado a atenção dos especialistas. De acordo com a OMS, pelo menos uma pessoa morreu e cerca de 70% dos infectados precisaram de um transplante de fígado.>
Além disso, como ele explica, casos de hepatite aguda costumam estar associados a práticas distantes do mundo infantil, como relações sexuais, compartilhamentos de agulhas durante o uso de drogas e o consumo excessivo de bebidas alcóolicas.>
Daniel Junger
InfectologistaDe acordo com o infectologista Lauro Pinto, as hepatites mais comuns em crianças são as A e B, que já possuem vacina. O tipo A acomete mais pessoas em ambientes sem saneamento básico e é transmitido via fecal-oral. As do tipo B, por sua vez, podem ser transmitidas de mãe para filho(a), mas também são recorrentes em casos de contato com material sanguíneo infectado. >
"Ela (hepatite A) é mais frequente em locais sem tratamento de esgoto ou em alimentos mal preparados, como mariscos, e com presença de conteúdo fecal. Em crianças é mais benigna, mas pode provocar um quadro grave em adultos. Já a hepatite B é uma doença de transmissão sexual, devido à falta de preservativos, e também tem transmissão através de sangue. É uma doença que tem relação com uso de seringas, drogas e até mesmo com alicates de salões de beleza, embora a maioria hoje tenha um enorme cuidado", explica.>
Os tipos C e D se caracterizam sobretudo pela transmissão após o compartilhamento de seringas. A hepatite D, no entanto, traz o diferencial de ser encontrada somente na região amazônica do país e de ser um "acessório" da variante B — ou seja, só existe se o paciente também tiver o vírus da B. >
Já a hepatite E é raramente diagnosticada no Brasil e possui relação com a má preparação da carne de porco, conforme afirma o especialista.>
"A maioria dos casos (da nova hepatite) foi diagnosticada na Grã-Bretanha, um país que não está vacinando crianças com menos de cinco anos para a Covid-19. Há também o risco de que seja uma variante do coronavírus ou uma adenovírus que, normalmente, não causa a doença mas que esteja transmitindo com facilitação de pós-Covid", acrescenta Lauro.>
Enquanto os riscos são desconhecidos, médicos orientam que as crianças evitem o contato com pessoas sintomáticas ou que tenham visitado países com registros da doença. Outra medida importante é a atualização da carteirinha vacinal dos pequenos, especialmente contra as hepatites A e B. >
"Higienizar os alimentos de forma adequada, evitar que a criança leve as mãos ao rosto e à boca na medida do possível e mantê-las limpas, principalmente após ir ao banheiro, são outras medidas essenciais", pontua a pediatra Taís Frigini.>
Os pais ainda devem ficar atentos aos sintomas, como diarreia ou vômito, e aos sinais de icterícia (quando a pele e a parte branca dos olhos ficam amareladas). Nestes casos, deve-se procurar atendimento médico imediatamente.>
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