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Barcos preparam protesto por pesca proibida durante a procissão marítima

Barcos preparam protesto por pesca proibida durante a procissão marítima

Evento da tradicional Festa de São Pedro em Vitória está previsto para começar às 10 horas deste domingo (2), na Praça do Papa, com chegada na Ilha do Príncipe; confira fotos das embarcações

Publicado em 1 de julho de 2023 às 19:16

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Barco com faixa de protesto que vai participar da procissão de São Pedro
Barco com faixa de protesto que vai participar da procissão de São Pedro. (Ricardo Medeiros)

Os pescadores de Vitória vão realizar um protesto contra a proibição de atuar nas águas da Capital durante a tradicional procissão marítima da Festa de São Pedro neste domingo (2). Faixas do movimento já estavam fixadas nas embarcações na tarde deste sábado (1º). Os barcos devem sair às 10 horas da Praça do Papa, com chegada na Ilha do Príncipe. 

Eles criticam o modelo de fiscalização adotado pela administração municipal e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Ibama). Segundo os pescadores, várias famílias já estão passando por dificuldades porque não podem trabalhar.

A situação em que se encontram os pescadores decorre de leis — federal (Portaria Ibama 254-N de 1989) e municipal (9077/2017) — que limitam a área de pesca. A legislação não é recente, mas as fiscalizações se intensificaram neste mês e foram feitas apreensões de material de trabalho.

O presidente do Sindicato dos Pescadores e Marisqueiros do Espírito Santo (Sindpesmes), João Carlos Gomes da Fonseca, mais conhecido como Lambisgoia, disse em entrevista para A Gazeta que a categoria também é defensora do meio ambiente, porém aponta que, da maneira como hoje as regras se aplicam, os trabalhadores são penalizados, sobretudo porque não têm outra fonte de renda. 

Barco com faixa de protesto que vai participar da procissão de São Pedro(Ricardo Medeiros)

"Cerca de 90% dos pescadores são analfabetos, não sabem fazer outra coisa. Tem gente passando dificuldade, que tem filhos, mulher acamada e está faltando dinheiro para o gás de cozinha, para comer", desabafa. "A gente é de classe muito humilde, não entende de lei. O que a gente sabe é pescar", completa. 

Para chamar a atenção para o problema que, somente na Capital, afeta centenas de famílias, Lambisgoia afirma que um grupo de pescadores não deve participar da procissão marítima nas celebrações da Festa de São Pedro. "Se falta dinheiro para comer, como vamos colocar óleo diesel nas embarcações?", questiona.

Na avaliação de Lambisgoia, a mobilização deveria ser pela suspensão da procissão. Mas Álvaro Martins da Silva, o Alvinho, presidente da Colônia de Pescadores de Vitória, estima que parte da categoria deverá participar do cortejo marítimo, ainda que em número menor de embarcações do que no ano passado, quando 120 barcos percorreram a baía. 

O presidente da colônia se apega à crença na tradição da festa religiosa para a manutenção da procissão, porém acredita que, além da redução de embarcações, pescadores que participarem da festa no mar poderão fazer uma espécie de protesto pacífico. 

Alvinho, assim como Lambisgoia, lamenta o modo como as fiscalizações têm sido conduzidas na Baía de Vitória. Eles defendem a implementação da pesca assistida, um modelo que permite aos pescadores jogarem suas redes, mas que devem ser acompanhadas em vez de deixadas sem monitoramento, porque aumenta o risco de tartarugas e outras espécies ficarem presas nas linhas e não conseguirem se desvencilhar. Com o trabalho assistido, se houver alguma situação como essa, imediatamente o pescador pode desenrolar o animal e manter apenas o pescado que é liberado. 

A categoria conseguiu marcar uma audiência pública na Câmara de Vereadores no dia 4 de julho.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam) foi questionada sobre os limites impostos, a fiscalização e as orientações para os pescadores. Também foi informada sobre a dificuldade pela qual passam os trabalhadores e da possibilidade de protesto na Festa de São Pedro, porém respondeu por meio de nota, citando apenas a legislação e sem apontar soluções para a categoria. 

"A Semmam informa que, segundo a Lei Municipal 9077/2017, é proibida, em todas as épocas do ano, a pesca utilizando qualquer tipo de rede, como de emalhe, de espera, de cerco ou de arrasto, nas baías de Vitória do Espírito Santo, nos canais de navegação, bem como na Área de Proteção Ambiental Baía das Tartarugas, ficando a cargo do poder público a fiscalização das restrições impostas pela legislação mencionada."

O Ibama recebeu os mesmos questionamentos e, também por nota, disse que apreendeu no litoral do Espírito Santo embarcações próximas à costa do município de Vitória, que é uma área de restrição de pesca de arrasto, conforme Portaria Ibama 254-N de 1989 e a Lei Municipal 9077/ 2017. Segundo as normas, explica o órgão federal, existe restrição para arrasto em um raio de 3 milhas e 3 milhas náuticas, respectivamente, a partir de uma linha de base que tem como referência:

  • Portaria Ibama: Farol de Santa Luzia e Ponta de Tubarão
  • Lei Municipal: Farol de Santa Luzia, Ponta do Porto de Tubarão e o limite do município de Vitória com o município de Serra, em Praia Mole.

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