Publicado em 8 de fevereiro de 2021 às 11:27
- Atualizado há 5 anos
Foi uma performance histórica, digna de deixar os organizadores do Grammy mais do que envergonhados por terem esnobado The Weeknd na premiação deste ano. >
Atração do tradicional intervalo do Super Bowl, a final de futebol americano, o músico canadense levou para o estádio em Tampa, na Flórida, um espetáculo pirotécnico contagiante, digno da qualidade de seu mais recente trabalho de estúdio, o soturno disco "After Hours", lançado no ano passado. >
Ao longo de pouco mais de dez minutos, Abel Tesfaye, nome de batismo do cantor de 30 anos, despejou um pot-pourri de suas músicas mais famosas e letras carregadas de referências a noitadas entorpecidas e som de pegada retrô. Teve labirinto de luzes, um coro entre o robótico e o fantasmagórico na arquibancada e um final catártico, com dezenas de dançarinos de rostos enfaixados no meio do campo.>
A apresentação, que ocorreu na noite deste domingo (7), estava cercada de mistérios e doses de ineditismo. Por causa do isolamento social, o estádio em que ocorreu o show estava parcialmente ocupado. E já se sabia que The Weeknd não se apresentaria num palco no meio do campo, como é tradicional. >
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Mas a principal dúvida recaía em torno do tom da apresentação. Maior audiência da televisão americana, o Super Bowl costuma abrigar atrações musicais mais palatáveis à toda família --que o diga o rebuliço que foi quando, em 2004, Justin Timberlake acabou expondo um dos seios de Janet Jackson ao vivo.>
The Weeknd não é assim um músico tão família. A letra de seu maior sucesso comercial, "Can't Feel My Face", é sobre um sujeito que diz sentir o rosto anestesiado toda vez que consome cocaína mas que, ainda assim, ama cheirar. Já o disco "After Hours" é uma longa jornada até os confins da noite sob efeito de uma ressaca, que não se sabe se é alcoólica, amorosa ou moral.>
Tesfay aportou em Tampa entoando "Starboy", um de seus grandes hits, pinçado do disco homônimo, de 2016. Vestia o indefectível paletó vermelho sobre trajes negros, marca visual de seu "After Hours". Atrás do cantor, o tal coro robótico-fantasmagórico. Em seguida, emendou "The Hills", uma de suas muitas letras sobre o lado B da fama.>
"Cant' Feel My Face", a ode cocainômana, foi cantada num estreito labirinto de luzes montado em algum lugar embaixo das arquibancadas. Ali, The Weeknd era atropelado pelos dançarinos que o acompanhariam nos números seguintes, todos eles trajando roupas parecidas com a do cantor e bandagens na cara.>
Já de volta ao coro, o canadense entoou "Save Your Tears", um dos carros-chefe desse seu disco mais recente, melancólica balada sobre lágrimas retidas e alguém que vê a pessoa amada se divertindo sem o ex, ainda apegado.>
No campo de futebol, sob o céu tomado por fogos de artifício, o cantor ia preparando o terreno para a apoteose que viria com "Blinding Lights", o grande hit de "After Hours". A letra da canção fala de luzes ofuscantes, única companhia de um sonâmbulo que caminha por uma "cidade de pecado", incapaz de dormir sem ter a pessoa que ama.>
As tais luzes vieram reproduzidas nas mãos das dezenas de bailarinos reproduzindo uma coreografia caótica, sob os sintetizadores oitentistas da música, no meio do campo --simulacro da multidão que nós todos, quarentenados, tanto ansiamos ver de volta.>
A riqueza pirotécnica parecia justificar os US$ 7 milhões que The Weeknd alardeia ter desembolsado para produzir o show.>
Antes que a partida tivesse início, o hino americano ficou a cargo do cantor country Eric Church e da cantora de R&B Jazmine Sullivan --um representante da América branca e outra da América negra, num provável recado de união diante de um país que iniciou 2021 esfacelado sob o rescaldo dos anos Trump.>
E Amanda Gorman, a poeta de 22 anos que roubou holofotes na posse de Joe Biden, leu um outro poema, "Chorus of the Captains", em homenagem a nomes do cotidiano, como enfermeiros da linha de frente de combate à Covid, que tiveram "impacto numa era de incerteza e necessidade". Os livros dessa jovem autora californiana, aliás, devem sair no Brasil em setembro, pela editora Intrínseca, segundo antecipado pelo jornal O Globo.>
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