“A Sagração da Primavera”, do compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971), foi uma obra que revolucionou as estéticas da música e da dança do século 20, marcando o início do Modernismo nessas linguagens. Ao ser apresentada, pela primeira vez, no Teatro dos Campos Elíseos, em Paris, no ano de 1913, com coreografia assinada por Vaslav Nijinsky, provocou polêmica por abrir caminho para a consolidação de uma forma totalmente nova de se pensar música. Em 107 anos de existência, o trabalho conquistou inúmeras releituras, contextualizadas para a realidade de cada época, e acaba de ganhar mais uma releitura feita pela Ehioze Cia de Dança, de Vitória.
A montagem será encenada gratuitamente nos dias 15 de janeiro, às 19h30, e 16 e 17, às 19h, no Centro Cultural Frei Civitella Del Tronto, em Campo Grande, Cariacica. As sessões são presenciais, respeitando os protocolos de prevenção à Covid-19, portanto, com limite de público.
Assim como a obra original, o espetáculo capixaba fala de uma jovem que é eleita para ser sacrificada como oferenda ao deus da primavera em um ritual primitivo que procura garantir uma boa colheita para sua tribo. Mas ser fiel a este enredo não impossibilitou que o grupo desse uma cara atual à narrativa. O gestor cultural da companhia, Mattheus Schirffimaan, explica que os movimentos foram criados através do olhar contemporâneo do coreógrafo, cuja criação perpassa pelo silêncio e representatividade de minorias, baseando-se na história de um universo sacrificado.
“A peça trata do sacrifício de um indivíduo em favor de um coletivo. Neste sentido, penso que a obra dialoga com o nosso tempo quando vemos o sacrifício diário de mulheres vítimas de feminicídio, de LGBTQI+ e de jovens pretos e periféricos assassinados brutalmente. O sacrifício diário dos mais fragilizados em ‘favor’ de uma ‘ordem’ para o coletivo, seja ele o coletivo machista ou o poder social e econômico estabelecido. Ao final da montagem, mostramos a insubordinação dessa jovem contra a ‘sorte’ a que é lançada. Também a insubordinação desse coletivo que se revolta contra o seu opressor e muda a ordem estabelecida do sacrifício estruturalmente construído”, complementa o coreógrafo Gil Mendes.
Apresentada por seis bailarinos, a atração é resultante do processo de pesquisa de artistas capixabas na busca da ressignificação das relações com o ambiente externo, como prédios, praças e natureza, desenvolvendo, a partir dos movimentos rotineiros, novos compostos artísticos na descoberta do olhar para o “novo eu”. “Trataremos no palco as sensações crescentes de calmaria e beleza da primavera até a sensação de dor e desespero visando a fuga do sacrifício”, afirma a bailarina Cassia dos Santos.
A partir da remontagem de “A Sagração da Primavera”, foram criadas duas oficinas presenciais que serão ofertadas gratuitamente por integrantes da Ehioze Cia de Dança nos dias 16 e 17 de janeiro. Ao todo, são 20 vagas, direcionadas para qualquer pessoa de 15 a 29 anos que tenha interesse no universo da dança.
A primeira delas será sobre dança afro, com o bailarino e um dos diretores da companhia, Jordan Fernandes. Já a segunda terá como temática a “performance em tempo de ruína”, com o bailarino e gestor cultural Mattheus Schirffimaan dando orientações sobre como recriar na dança movimentos rotineiros, como os simples atos de olhar, pegar, abaixar, sentar e levantar.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta