Em 20 de novembro de 1695 o Brasil perdeu um dos seus primeiros ícones de resistência negra, Zumbi dos Palmares. A data serviu como marco para o Dia da Consciência Negra, projeto idealizado pelo professor porto-alegrense Oliveira Silveira (1941-2009), reconhecido legalmente apenas em 2011.>
Segundo último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018), 56,10% pessoas se declaram negras no Brasil. Mas apesar desse grupo representar a maior parte da população brasileira, infelizmente, a história do povo negro e a reflexão sobre a Consciência Negra ainda são pautas para algumas datas do ano. A ampliação desse diálogo nas escolas, no sistema educacional e no debate público é urgente, não apenas no 20 de novembro.>
Uma das formas de iniciar essa reflexão é através da literatura, que nos traz obras marcantes para a compreensão da história e do contexto atual da população negra. Buscar e disseminar esse conhecimento é um ato de resistência e de transformação social, aponta Paulo Sergio Gonçalves, Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Estácio/RS.>
Paulo Sergio Gonçalves também é Doutorando em Literaturas Africanas Crédito: Usina de Notícias
Por isso, o docente, que também é Doutorando em Literaturas Africanas, indica 6 livros para ler, não apenas no 20 de novembro, e que vão ampliar sua consciência sobre a situação da negritude no Brasil. (Confira a lista completa no fim do texto)>
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NEGROS NA LITERATURA
Além da importância de retratar a história dos negros nos livros, é necessário o aumento de publicações escritas por pretos. Segundo Paulo, o achatamento do mercado editorial para esta parcela da população é um reflexo do racismo na sociedade.>
"É fácil detectarmos o fator de que os autores e autoras negros e negras em nosso país ainda sofrem um grande achatamento vindo do mercado editorial. Para tanto, basta entrarmos em qualquer livraria pelo nosso país e percorrermos as estantes. Logo iremos visualizar a grande escassez de livros de autores e autoras negros. Este fato se dá, eu acredito, como uma das consequências do racismo que está impregnado na sociedade brasileira ao prestigiar aquilo que vem do negro", começa.>
"Então, sim, ainda é um desafio para o negro emplacar publicações em nosso país. Como sempre digo, ser negro no Brasil é resistir em todo tempo e em todas as instâncias", completa.>
Mas o cenário não é desesperador. Segundo Paulo aida há uma luz no fim do túnel: "Estamos avançando. Hoje já temos algumas escritoras negras que se destacam, tais como Djamila Ribeiro, Ana Maria Gonçalves e Conceição Evaristo, que, como símbolo de resistência, estão lá nos representando nas estantes branqueadas de nossas livrarias. Quando falo que elas, entre outras, são símbolos de resistência, subentende-se que para haver resistência tem que haver força contrária".>
O Genocídio do Negro Brasileiro (Abdias Nascimento)
O autor foi uma das mais destacadas vozes na luta pelos direitos dos negros no Brasil. Natural de Franca, no interior de São Paulo, Abdias (1914-2011), fundo o Teatro Experimental do Negro e teve uma carreira brilhante na academia. Também atuou como ator, poeta, escritor, artista plástico e na política foi Deputado Federal de 1983 a 1987 e Senador da República de 1997 a 1999 pelo PDT.O livro desmascara o mito da Democracia Racial por meio de artigos apresentados num congresso na Nigéria.
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Capa do livro "O Genocídio do Negro Brasileiro", de Abdias Nascimento Crédito: Editora Perspectiva
Tornar-se Negro(Neusa Santos Souza)
A psiquiatra e psicanalista Neusa Santos Souza escreve esta obra sobre a questão racial no Brasil onde nos apresenta um estudo teórico, com relatos de sua vivência, a respeito da vida emocional do negro em nosso país. A obra trata de questões tais como a auto rejeição do negro nos sentimentos de inferioridade e nas convenções de beleza exterior. Uma obra valiosíssima.
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Capa do livro "Tornar-se Negro", de Neusa Santos Souza Crédito: Editora Graal
Dossiê Mulheres Negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil(organizado por Mariana Mazzini Marcondes, Luana Pinheiro, Cristina Queiroz, Ana Carolina Querino e Danielle Valverde)
Capa do livro "Dossiê Mulheres Negras" Crédito: IPEA
A Integração do Negro na Sociedade de Classes(Florestan Fernandes)
Livro publicado no ano de 1964 pela primeira vez. A obra é a tese de Doutorado de Florestan e é considerada a tese mais famosa já defendida na USP. O livro traz uma abordagem que representa uma virada histórica na imagem que o Brasil apresentava de si próprio, ou seja, aqui Florestan discute a democracia racial como um mito construído através dos tempos. É um marco da Sociologia no Brasil.
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Capa do livro "A Integração do Negro na Sociedade de Classes", de Florestan Fernandes Crédito: Biblioteca Azul
Raízes do Brasil(Sergio Buarque de Holanda)
Livro publicado no ano de 1936, é uma importante obra para se conhecer o processo de formação da sociedade brasileira. Sergio nos fala sobre o legado colonialista que se mostra como um obstáculo para o estabelecimento da democracia em nosso país.
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Capa do livro "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda Crédito: Companhia das Letras
O Mito da Democracia Racial um debate marxista sobre raça, classe e identidade(Wilson Honório da Silva)
Livro composto de arquivos que combatem a perspectiva da democracia racial no Brasil que diz que vivemos num país sem racismo.
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Capa do livro "O Mito da Democracia Racial", de Wilson Honório da Silva Crédito: Editora Sundermann
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