A vibe retrô dos discos de vinil veio para ficar. Em 2020, os tradicionais "bolachões" ultrapassaram as vendas de CDs nos Estados Unidos pela primeira vez desde 1986, de acordo com um relatório da Recording Industry Association of America (RIAA). Enquanto a comercialização deste item de colecionador aumentou em 3,6%, as vendas de CDs - em crise com a pirataria - caíram 47,6%. Não à toa, nomes como Harry Styles e Billie Eilish faturaram milhares de dólares vendendo seus últimos álbuns neste formato, “Fine Line” e “When We All Fall Asleep, Where Do We Go?”, respectivamente.
Mesmo sem dados recentes da indústria fonográfica, a onda dos bolachões também está tomando conta do Brasil, tornando-se prioridade nos lançamentos de artistas de todos os gêneros, de Chitãozinho e Xororó a Pitty. No Espírito Santo, a situação não difere, especialmente por conta da iniciativa do grupo Amigos do Vinil, que, através das redes sociais, lança projetos de financiamento coletivo para bancar a produção de novos álbuns de artistas locais. Com a força dos fãs e colecionadores de vinil, a indústria musical no Estado ganha novo fôlego.
A iniciativa já lançou dois long-plays - "Os Pássaros Não Calçam Ruas", do Lordose pra Leão (com regravações de "Frevo Mulher", de Zé Ramalho, e "Filme de Terror", de Sérgio Sampaio, além de faixas inéditas); e "#3", terceiro disco da Big Bat Blues Band, com músicas autorais -, além de estar promovendo o retorno do instrumentista Elias Belmiro, com o trabalho "Reencontro", previsto para março.
"Contamos com seis grupos no WhatsApp, que, juntos, somam cerca de 700 pessoas. Lançamos o projeto e quem está interessado em apoiar o artista embarca no financiamento coletivo. O vinil é produzido de acordo com a demanda. Para o LP do Elias, por exemplo, serão cerca de 300 cópias, todas encomendadas por fãs, familiares e ex-alunos do músico", revela, com entusiasmo, Valdir Santuzzi, membro do Amigos do Vinil, informando que os discos são prensados na lendária fábrica Polysom.
Maior da América Latina, a empresa (criada em 1999) chegou a fechar as portas em 2007, por conta da crise da indústria da música no Brasil. Em 2009, foi comprada - e reaberta - pela Deckdisc, já de olho no crescimento das vendas de vinis nos Estados Unidos e na Europa.
Valdir Santuzzi, que também é um dos proprietários de uma loja especializada em vendas de bolachões, localizada em um shopping de Vila Velha, afirma que a iniciativa é basicamente para colecionadores.
"A produção no Brasil ainda é pequena. Portanto, novos discos de vinil dificilmente são encontrados em lojas físicas. O artista lança o LP e vende em seu próprio site ou em lojas virtuais", explica, detalhando que "#3", da Big Bat Blues Band, é um dos poucos trabalhos inéditos do mercado que podem ser encontrados à venda em seu estabelecimento comercial, a Amigos do Vinil.
"Prensamos 400 LPs e 100 deles estão disponíveis para o público. A procura é muito grande, pois o mercado está bem aquecido, tanto que estamos abertos a artistas do Estado que queriam lançar o seu LP com a gente", convida. Os interessados devem entrar em contato pelo e-mail [email protected].
E a "vinil mania" promete estar somente no início. "Nosso próximo projeto é um vinil comemorativo aos 30 anos do Lordose (pra Leão). A coletânea deve entrar em financiamento coletivo em abril. Além disso, estamos conversando com mais duas bandas capixabas. A iniciativa ainda está em fase de planejamento, visto que estamos discutindo questões de direitos autorais". adianta.
Valdir Santuzzi revela que o Espírito Santo está cada vez mais aberto a este segmento de mercado. "Minha loja conta com um movimento muito forte. Tenho cerca de nove mil LPs em meu acervo, a maioria clássicos raros. Em um mês, chegamos a vender mais de 200 discos, um número bem expressivo, até porque os tradicionais toca-discos ainda são difíceis de achar no mercado", comenta, acrescentando que o público consumidor é cada vez mais composto por jovens.
"Muitos têm influência dos familiares colecionadores, mas, a maioria, está curiosa em embarcar nesta onda nostálgica. Hoje, quem frequenta a loja tem de 25 anos para baixo. Já atendi clientes de 12 anos. A juventude está ficando cada vez mais descolada", comemora.
Aqui, literalmente, o gosto do freguês é bem variado. "Procuram um pouco de tudo, mas os clássicos ainda são muito requisitados. Discos do Belchior estão entre os mais procurados. Caetano (Veloso) e Chico (Buarque) também são. O preço varia muito. Um vinil do Caetano dos anos 1980, normalmente é vendido por R$ 30 ou R$ 40. Agora, se for um clássico dele, das décadas de 1960 e 1970, especialmente do período da Tropicália, é bem mais valorizado, saindo por R$ 100 até R$ 250."
Ah, sim! Aqui também tem (muito) rock, bebê. "Os discos clássicos sempre são valorizados, especialmente de Os Beatles, Pink Floyd e Led Zeppelin. A clientela, apesar de jovem, tem muito bom gosto", complementa.
Quem também falou bem do mercado em alta pelos jovens foi o Golias, que possui uma loja com muitas relíquias no Centro de Vitória. Em outubro do ano passado, ele teve uma conversa com o Divirta-se.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta