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Entenda como Orson Welles pode ter escondido no Brasil cópia original de "Soberba"

Entenda como Orson Welles pode ter escondido no Brasil cópia original de "Soberba"

Equipe americana virá ao país para procurar o que pode ser a última versão completa do filme de 1942

Publicado em 29 de abril de 2021 às 17:30- Atualizado há 3 anos

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 Um time de diretores e produtores americanos planeja ir ao Rio de Janeiro, já no segundo semestre, em busca de um filme perdido de Orson Welles. Comandado por Joshua Grossberg, o grupo quer encontrar o que pode ser a última versão original de "Soberba", de 1942.

Não foi com alegria e satisfação que Welles lançou "The Magnificent Ambersons", no original, na década de 1940. Um dos principais títulos dele, o longa foi, a contragosto, picotado e teve algumas cenas refeitas pelo RKO Pictures, finado estúdio que aproveitou a briga para encerrar o seu contrato com o cineasta.

Cena do filme
Cena do filme "Soberba", de Orson Welles. (Divulgação)

Cerca de 43 minutos do filme foram desprezados e se perderam com o tempo, já que a RKO tratou de derreter os rolos de celuloide que detinha para que o nitrato fosse usado nas batalhas da Segunda Guerra. Uma cópia do material, no entanto, pode estar perdida no Rio, segundo uma pesquisa que Grossberg desenvolve há mais de 25 anos.

Logo após as filmagens de "Soberba", Welles veio ao Brasil para gravar "It's All True", obra não finalizada, por causa da ruptura do contrato com a RKO, sobre a América Latina. Ele deixou para Robert Wise a tarefa de montar o longa, em Los Angeles, mas não sem trazer na mala uma cópia, que não voltou com ele para casa.

Ordens para que ela fosse destruída, nos anos seguintes, vieram de Hollywood, mas não há comprovação de que elas foram acatadas. Grossberg acredita que, qualquer um que fosse o detentor daquele rolo de filme, sabendo se tratar de um Orson Welles, dificilmente o queimaria.

Uma primeira viagem ao Brasil, em 1994, corroborou sua crença de que o "Soberba" original segue vivo. Ainda estudante, o americano foi ao Rio e, orientado por um professor fascinado pela possível existência da versão, procurou quem conviveu com Welles.

Foi então que ele chegou a Rogério Sganzerla, diretor de "O Bandido da Luz Vermelha", morto em 2004, que havia pesquisado registros sobre a passagem de Welles pelo Brasil. "Bati em sua porta no dia de Natal, ele me convidou para entrar e, no terraço de seu apartamento, olhando para o Pão de Açúcar, passamos a noite falando daquele rolo de filme perdido", diz Grossberg.

PRECIOSIDADE

Os dois pesquisaram e encontraram um arquivista do Cinédia, antigo estúdio carioca, que disse a eles ter visto rolos de filmes que pertenceram a Welles no fim dos anos 1950. Com ele, conseguiram, além da informação preciosa, uma lista de colecionadores que podem estar com a cópia.

Grossberg logo teve de voltar para os Estados Unidos, onde tentou, por três anos, levantar dinheiro para financiar uma nova incursão em terras brasileiras. Não conseguiu. Agora, ele encontrou alguém para bancar a aventura, que deve começar em breve, mesmo com a pandemia.

Em parceria com o canal Turner Classic Movies, Grossberg vai registrar a busca por "Soberba" para um documentário, "The Search for the Lost Print: The Making of Orson Welles 'The Magnificent Ambersons'", previsto para o ano que vem, quando o longa completa 80 anos. 

A ideia é tentar encontrar os rolos de filme "para que sejam restaurados e lançados" e também destrinchar os conturbados bastidores da obra, um ponto de virada na carreira de Welles.

Grossberg pretende ficar no Rio por um ou dois meses e terá ao seu lado os produtores Joseph Schroeder e Gary Greenblatt e a montadora Cintia Chamecki, que é brasileira. Eles também devem embarcar para a Europa na sequência, já que há relatos, menos consistentes, de uma cópia de "Soberba" no continente.

Cena do filme "Soberba", de Orson Welles. (Divulgação)

Ela pode estar em qualquer lugar, diz o grupo "numa cinemateca, como a do Museu de Arte Moderno do Rio, enterrada no porão de um colecionador ou até mesmo nos arquivos da Paramount, que herdou o acervo da RKO".

E se eles não encontrarem os rolos? Bom, o importante é a jornada, dizem. "Não podíamos ignorar essa possibilidade. Se nós não acharmos, vamos descobrir o que aconteceu a eles, o que também é importante", afirma Grossberg.

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A empreitada, bem-sucedida ou não, seria ainda uma homenagem a Welles e seu amor pelo Brasil, bem como a Rogério Sganzerla, que não teve tempo de ir ele próprio atrás dos rolos perdidos.

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