Liberação de recursos do FGTS é truque que já não funciona mais

Além dos conflitos internos, a já cambaleante economia brasileira agora também é sacudida por intempéries que vêm de fora, com o coronavírus e da guerra do petróleo

Publicado em 11/03/2020 às 06h01
Atualizado em 12/03/2020 às 12h59
Saque do FGTS . Crédito: Fabio Rodrigues/Agência Brasil
Saque do FGTS . Crédito: Fabio Rodrigues/Agência Brasil

Depois de um resultado fraco do PIB em 2019, o governo federal tem a séria missão de rever cálculos e estratégias para tirar a economia de cinco anos seguidos de mediocridade. A primeira medida de que se tem notícia é a liberação de mais recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), repetição de uma tática já adotada no passado e que não surtiu o efeito esperado de, por meio do aumento do consumo, sustentar o crescimento econômico.

Agora, o Planalto estuda permitir que os trabalhadores antecipem três anos de resgate do fundo no saque-aniversário. Segundo as previsões da equipe econômica, a proposta injetaria R$ 100 bilhões em crédito em quatro anos. Isso se forem confirmadas as projeções de adesão de mais oito milhões de pessoas à modalidade – desde que foi lançado, no entanto, apenas 2,6 milhões de trabalhadores mudaram de regime.

O governo também afrouxou em 2019 as regras para acesso dos trabalhadores ao fundo, com a universalização do saque-imediato para contas ativas e inativas. A medida, no entanto, não fez a roda girar. O consumo das famílias, item com maior peso no PIB e motor da mudança, teve em 2019 o pior resultado desde o fim da última recessão, em 2016.

Apesar de representar um estímulo adicional à atividade econômica, a liberação de recursos do FGTS, truque já utilizado pelo governo Michel Temer, é incapaz de fazer frente a um panorama doméstico deteriorado e à desaceleração mundial. Especialmente porque os recursos dos saques são pulverizados, com apenas uma parte sendo destinada ao consumo. Muitos trabalhadores preferem quitar dívidas.

Além dos conflitos internos, a já cambaleante economia brasileira agora também é sacudida por intempéries que vêm de fora, com o coronavírus e a guerra do petróleo. Em bom português, o que já não estava bom piorou. Com a capacidade de investimento público reduzida, o país tem que focar em resolver gargalos profundos e estruturais, em vez de vender a ilusão do estímulo da demanda a curto prazo.

As prioridades, neste momento, são claras: reforçar a agenda reformista e atrair o capital privado. Desde 2015, o Brasil despencou no Índice Global de Confiança para Investimentos Estrangeiros até desaparecer da lista no ano passado. É um sinal gritante de que a burocracia que sempre atravancou o crescimento agora se une à instabilidade política como espantalhos que afastam investidores.

Com juros baixos e uma rica carteira de privatizações e concessões à vista, o Brasil tem a faca e o queijo na mão para driblar a má fase, sem descumprir a acertada política de redução do déficit público. O dever de casa número um é estancar os ruídos contraproducentes entre Executivo e Legislativo.

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