Publicado em 29 de junho de 2020 às 21:59
O Facebook, dono do WhatsApp, e a Cielo pediram ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) que reconsidere a suspensão de pagamentos e transferências realizados entre usuários do aplicativo de mensagens.>
O Cade e o Banco Central barraram o serviço na semana passada até que se esclareça a natureza do negócio.>
Enquanto a Superintendência-Geral do Cade analisará o pedido de reconsideração das empresas, o órgão abriu um processo para investigar se o acordo é uma joint venture (associação). Caso se confirme, deveria ter sido previamente notificado às autoridades.>
Uma decisão é desvinculada da outra. No entanto, a chance de que a suspensão seja revertida pelos advogados das empresas junto ao órgão do Cade é baixa.>
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A superintendência é a porta de entrada das empresas no Cade para reclamações de concorrentes ou pedidos de anuência do conselho.>
Se o entendimento do conselho do Cade confirmar a notificação prévia, as empresas deverão ser multadas porque o serviço já estava sendo prestado.>
A multa máxima em casos similares é de R$ 60 milhões, mas pode haver redução mediante acordo.>
Nos bastidores, tanto BC quanto Cade consideraram a operação uma joint venture (parceria), o que significa que as empresas deverão apresentar um pedido de notificação se quiserem prosseguir com esse acordo.>
O Cade poderá aprovar sem restrições ou impor condicionantes. A outra opção é a reprovação.>
No pedido de reconsideração enviado ao Cade na sexta-feira (26), as empresas afirmam que o acordo não prevê que, futuramente, elas passem a atuar no mercado de pagamento ou credenciamento (maquininhas), hoje nas mãos de instituições financeiras reguladas pelo BC.>
Por isso, os advogados das empresas negam que a existência de uma joint venture (que exigiria notificações prévias ao BC e ao Cade) e pedem a liberação do serviço.>
"As partes entendem que a operação não configura um ato de concentração, porque o contrato celebrado entre Cielo e Facebook não envolverá uma fusão, aquisição de participação societária ou de ativos, incorporação ou criação de consórcio ou joint venture", escrevem no ofício a que a Folha teve acesso.>
"Além disso, e mais importante, não é possível afirmar que Cielo e Facebook seriam concorrentes em qualquer mercado relevante objeto do contrato.">
Os representantes das duas empresas consideram ainda que não haverá tomada de decisão em conjunto e que as empresas seguirão independentes em suas áreas de negócio.>
Afirmam que tanto Facebook quanto WhatsApp "não atuam na área de pagamentos no Brasil". Por isso, não são reguladas pelo BC, ainda segundo os advogados.>
O aplicativo serviria somente como "um canal adicional para a realização de transações de pagamento entre usuários".>
Anunciada em meados de junho, a parceria envolve o Facebook, controlador do WhatsApp, e a credenciadora Cielo, responsável pelo processamento financeiro das transferências e uma das maiores no ramo das maquininhas de pagamentos.>
Inicialmente, redes de cartões de crédito e de débito do Banco do Brasil, Nubank e Sicredi poderão usar o sistema.>
O Banco Central, que regula o mercado financeiro, e o Cade, responsável pela livre concorrência, solicitaram esclarecimentos sobre o modelo de negócios, que, segundo analistas, tem potencial para levar à substituição das maquininhas em transações de até R$ 5.000 por mês.>
Para BC e Cade, há dúvidas sobre a natureza do serviço.>
A iniciativa do WhatsApp se antecipou ao Banco Central que prepara o Pix, sistema aberto de pagamentos instantâneos sob a coordenação do próprio regulador.>
As instituições de grande porte (financeiras e de pagamentos) serão obrigadas a aderir a essa plataforma de pagamentos do BC para atuar com essa modalidade no país.>
Essas operações serão instantâneas, a qualquer dia e hora, e a expectativa do BC é que sejam implementadas sem custos ou com taxas irrisórias.>
O BC chegou a divulgar uma nota afirmando ver "grande potencial" de integração entre o Pix e a iniciativa do WhatsApp. No entanto, considerou prematura qualquer iniciativa que "possa gerar fragmentação de mercado e concentração em agentes específicos".>
Depois, mudou uma norma para poder barrar a atuação do WhatsApp.>
Nos bastidores, agentes do mercado dizem que o regulador não permitirá o lançamento de sistemas fechados, que não conversem entre si, e que sejam inseguros ou com baixa transparência.>
No país, o WhatsApp conta com mais de 120 milhões de usuários, mais do que possuem os bancos comerciais em atividade no país.>
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