Publicado em 14 de julho de 2022 às 19:58
CURITIBA - O vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Marcio Milan, afirma que a venda de produtos como carcaça, pele de frango e sobras de alimentos, que vem ganhando espaço como alternativas mais baratas diante da inflação, está dentro da lei.>
Em entrevista a jornalistas nesta quinta (14), ele definiu esses produtos como uma forma criativa de mostrar alternativas para quem procura algo diferente.>
Questionado se a Abras orientaria os estabelecimentos sobre o tema, Milan declarou que todos os produtos comercializados pelos supermercados estão dentro de legislação regulada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e que esses casos são pontuais.>
"Tem algumas medidas que chamamos de coisas pontuais, que acabam ocorrendo em determinadas lojas ou em determinadas regiões, muitas vezes para atender e até uma forma criativa de mostrar alternativas, vamos dizer assim, para aquele consumidor que eventualmente está procurando algo um pouco diferente.">
>
Para Rodrigo Afonso, diretor-executivo da organização não governamental Ação da Cidadania, a venda de itens que costumavam ser descartados ou doados, como no caso das carcaças, é uma tentativa dos supermercados de lucrar com a fome.>
"Você vê pessoas vendendo carcaças, ossos, tudo isso... Por mais que seja pontual, é um absurdo que os supermercados deixem isso acontecer.">
Ele diz que a situação piorou com o crescente número de brasileiros passando fome. "As populações não conseguem consumir os produtos que eles vendem, e o pouco que conseguiam usar de sobras, agora estão sendo vendidos também para tentar arrumar alguma maneira de lucrar com isso.">
André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que o cenário é retrato da situação econômica do país e seu reflexo no poder aquisitivo das famílias. "Eu não acho isso normal, acho que é retrato de uma situação que a gente tem de mudar, e a mudança vem no combate à desigualdade que se inicia com os investimentos em educação.">
Para o economista, o contrário vem acontecendo. "O que a gente vê na propaganda política e mesmo na PEC que saiu agora é combater a inflação com certo artificialismo, redução de imposto, o que deixa esse cobertor cada vez mais curto.">
"Como vai ficar a verba para saúde, para educação, com essas reduções, em que as prefeituras e estados terão que arcar com redução de ICMS de telecomunicação, de energia, de gás, de gasolina?", questiona Braz.>
"Imposto na gasolina, cigarro, bebida, em supérfluos ou bens de luxo são bem-vindos em um país desigual como o nosso, exatamente para diminuir a chance de ocorrerem coisas como essa", conclui o economista.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta