Publicado em 3 de novembro de 2020 às 23:39
O Senado aprovou na noite desta terça-feira (3) o projeto de lei complementar que determina a autonomia para o Banco Central do Brasil. O texto também prevê mandato para o presidente e diretores da instituição, novas regras para suas demissões e também apresenta novas atribuições para a autoridade monetária.>
A autonomia do Banco Central era uma proposta de campanha de Jair Bolsonaro (sem partido), embora o projeto aprovado seja de autoria do senador Plínio Valério (PSDB-AM). O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-RR), afirmou que a aprovação encerrava uma travessia que "nos fazia menor" e que "soberania monetária é uma conquista de países avançados".>
O projeto foi aprovado no plenário virtual da Casa, com 56 votos a favor e 12 contrários. A proposta agora segue para a Câmara dos Deputados, para ser apensada a outro texto, em tramitação naquela Casa, um pouco mais completo. Se passar nas duas casas, vai à sanção do presidente.>
O projeto de lei complementar aprovado pelos senadores prevê que o BC passe a ser uma autarquia de natureza especial, não ligada a nenhum ministério. Atualmente, a instituição é uma autarquia que pertence à estrutura do Ministério da Economia.>
>
O texto também prevê mandatos de quatro anos para o presidente do BC e diretores, com opção de recondução pelo mesmo período. As nomeações não podem coincidir com o mandato do presidente da República. Além disso, o projeto estabelece regras para as demissões dos dirigentes das instituições.>
"A simples disposição legal de que há autonomia formal, com a não coincidência de mandatos com o Presidente da República, evita até mesmo interpretações muitas vezes equivocadas de que o Banco Central do Brasil deixou de aumentar a taxa básica de juros para conter a inflação por causa de pressões político-partidárias ou eleitorais", afirma o relator Telmário Mota (PROS-RR).>
Atualmente, além de não haver mandato, os dirigentes podem ser demitidos por iniciativa do presidente da República. O projeto de lei complementar aprovado prevê que dispensas ordenadas pelo chefe do Executivo precisam do aval do Senado. Nesses casos, a votação será secreta.>
As demissões apenas podem ocorrer no caso de solicitação dos próprios dirigentes, por enfermidades, em casos de condenações transitadas em julgado ou proferida por órgão colegiado ou por comprovado e recorrente desempenho insuficiente. O argumento é que esse procedimento tem como objetivo blindar a instituição de interferência políticas.>
O projeto de autonomia do Banco Central também inclui entre as obrigações da autoridade monetária fomentar o mercado de trabalho, o chamado "mandato duplo". Hoje, a autarquia tem como objetivos principais garantir o poder de compra da moeda e assegurar a estabilidade do sistema financeiro. Com a mudança, o BC atuaria também para baixar o nível de desocupação e para perseguir o pleno emprego. O controle da inflação, no entanto, continuaria sendo a atribuição central da autoridade monetária.>
"Sem prejuízo de seu objetivo fundamental [inflação], o Banco Central do Brasil também tem por objetivos zelar pela estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego", afirma o projeto aprovado.>
O novo objetivo aproximaria a instituição brasileira ao modelo do Fed (Federal Reserve), o banco central americano.>
"Faz-se necessário contemplar expressamente no mandato legal que, sem prejuízo de sua missão fundamental de assegurar a estabilidade monetária, o Banco Central deve atuar não apenas em busca da estabilidade e eficiência do sistema financeiro e da suavização das flutuações do nível de atividade econômica, mas também, na medida de suas possibilidades, para fomentar o pleno emprego", afirma o relator Telmário Mota.>
"A inserção desses objetivos em lei tem o mérito não somente de formalizar a sua relevância para o cumprimento da missão primordial do Banco Central, como também de garantir segurança jurídica à atuação multifacetada da autoridade monetária", completa.>
Orientaram voto contrário PT, PDT, REDE. Rogério Carvalho (PT-SE) afirma que o projeto carrega uma inconstitucionalidade. Por se tratar de iniciativa que altera a estrutura do governo, o líder do PT na Casa afirma que a iniciativa deveria ter partido do Executivo. "Esse projeto tem um vício de iniciativa" , afirmou o parlamentar.>
"Tem um projeto de lei na Câmara, então com certeza vai tramitar aquele e não esse que estamos discutindo por causa da inconstitucionalidade", completou.>
Carvalho também afirma que a proposta é danosa, pois apresentaria uma autonomia em relação ao governo e não "em relação ao mercado".>
O senado também aprovou na sessão projeto de lei que autoriza o Banco Central a colher depósitos voluntários remunerados, à vista ou a prazo, de instituições do sistema financeiro. A proposta, de autoria de Rogério Carvalho, busca criar um novo instrumento de gestão de liquidez para o Banco Central.>
Segundo o texto aprovado, o Banco Central vai poder acolher depósitos voluntários de instituições e deve apresentar relatório à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado sobre a necessidade dos depósitos voluntários e a evolução da liquidez da economia e da presença de títulos do Tesouro Nacional em sua carteira.>
"É fundamental a evolução do marco institucional do País no sentido de separar a atuação do Tesouro e da autoridade monetária em relação à gestão da liquidez da economia", afirma a senadora Kátia Abreu (PP-TO), ao ler seu relatório sobre a medida.>
"O presente projeto autoriza o Banco Central a acolher depósitos voluntários à vista ou a prazo das instituições financeiras. Os depósitos voluntários configurariam novo instrumento de gestão da liquidez, alternativo às operações compromissadas". completa.>
Esse mecanismo, reforça a relatora, já é adotado por outros bancos centrais estrangeiros, como o americano FED. Um dos objetivos da proposta é promover uma redução gradual no volume de títulos do Tesouro na carteira do Banco Central, o que pode provocar impacto na redução da dívida bruta do país - em até 20 pontos percentuais do PIB (Produto Interno Bruto), segundo o senador Rogério Carvalho.>
" Ao invés de emitir título e aumentar a dívida, remunerar os depósitos voluntários. Com isso, criamos um espaço fiscal que possibilite investimentos, geração de empregos, renda, melhorar o cenário econômico do País", afirma o autor da proposta.>
Atualmente, o BC administra a quantidade de dinheiro no sistema bancário por meio das chamadas "operações compromissadas" - emissão de títulos com o compromisso de comprá-los novamente. A matéria aprovada também será encaminhada para a Câmara dos Deputados.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta