Publicado em 10 de agosto de 2020 às 07:58
A rápida recuperação das Bolsas de Valores após o tombo de março, em meio à crise do coronavírus, reacende o debate sobre a existência de uma bolha no mercado acionário. >
Entre previsões catastróficas e reações debochadas sobre o tema, gestores mais experientes e tradicionais se contrapõem aos mais jovens ligados à Fintwit - comunidade cujo nome é formado pela junção de Fin (abreviatura de financeiro) e twit (de Twitter), alusão ao fato de atuarem no mercado financeiro e usarem o Twitter como principal plataforma de comunicação.>
Nomes que raramente aparecem na rede, como Florian Bartunek, sócio-fundador e gestor da Constellation, e Guilherme Aché, da Squadra, sócio-fundador e gestor da Squadra, declararam enxergar potenciais bolhas infladas pelos estímulos recordes de bancos centrais e fuga dos investidores para a Bolsa em um cenário de juros próximos de zero.>
Já os influenciadores digitais do mercado financeiro enxergam uma grande oportunidade de investimento.>
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"Quantos dias pro Ibov [Ibovespa] bolha bater 110 mil pontos?", tuitou Rafael Ferri na última quinta (6). Ferri é membro do Traders Club, uma plataforma paga para troca de informações sobre o mercado, e tem um dos perfis mais populares da Fintwit, com 119 mil seguidores. O Ibovespa chegou a 105 mil pontos na máxima recente.>
Em maio, Henrique Bredda, gestor da Alaska, uma das maiores administradoras de investimento do Brasil, ironizou a possibilidade de bolha em seu Twitter, que conta com 173 mil seguidores.>
"Ativo que caiu e você tinha: 'está de graça'; ativo que subiu e você não pegou: 'bolha'. Mercado concorda com você: 'mercado é soberano'. Mercado discorda de você: 'mercado está sempre errado'. 'Existem mil maneiras de preparar Neston, invente uma!'">
Com a discussão nas redes, o perfil humorístico Faria Lima Elevator entrou no tópico.>
"Se tem bolha nas redes sociais por conta do Twitter eu não sei, mas que isso aqui se tornou papo de bar de sexta-feira sobre ações, se tornou!", ironizou sobre a teoria, defendida por Aché, de que a popularidade das recomendações de ações na rede social tenha impulsionado certos papéis.>
Em janeiro, antes da pandemia de coronavírus abalar os mercados, a bolha já era pauta entre gestores. O Brasil vivia recordes: do Ibovespa, de CPFs na Bolsa e mínimas históricas da Selic. Como são poucas as empresas listadas no país, muitas tiveram altas expressivas com a procura pelo rendimento.>
Mesmo com a crise econômica em decorrência do vírus, que pode gerar a pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial, segundo o Banco Mundial, as Bolsas se recuperam e empresas atingem valores recordes de mercado.>
O fenômeno é mais expressivo na Bolsa de tecnologia Nasdaq, nos EUA, atualmente em sua máxima histórica com o bom desempenho de gigantes como Apple e Amazon. A valorização de 23% no ano levou a relação entre o preço das ações e lucro das empresas a um patamar mais elevado que no pico da bolha das pontocom, na virada do século.>
"Temos uma doença terrível e a pior economia em 80 anos, então é difícil para mim acreditar que, baseado em fundamentos, é algo apropriado", disse Howard Marks, co-fundador e presidente da Oaktree, gestora com mais de US$ 100 bilhões em ativos, sobre a alta das Bolsas.>
"O Nasdaq 100 [índice das 100 maiores empresas não financeiras da Nasdaq] me parece borbulhante. Se isso não é um sinal de escalada em um trampolim alto para especulação, eu não sei o que é", escreveu, em julho, o experiente gestor americano Ned Davis em carta aos seus clientes. Neste ano, o Nasdaq 100 sobe 28%.>
Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, maior administradora mundial de fundos de alto risco, avalia que a compra massiva de ativos pelos BCs dos EUA e Europa, bem como os estímulos monetários e fiscais, tiraram a liberdade do mercado.>
"Hoje, a economia e os mercados são guiados pelos Bancos Centrais e pela coordenação com o governo central. O mercado de capitais não é um livre mercado que aloca recursos de maneira tradicional", disse em julho.>
Em junho, Dalio alertou que os próximos dez anos poderiam ser "uma década perdida para ações" com o endividamento das empresas na crise do coronavírus limitando o seu lucro.>
Segundo André Carvalho, estrategista de ações e chefe de análise de empresas do Bradesco BBI, se a recuperação das empresas for rápida, o Ibovespa está no caminho certo. "Se o lucro das empresas voltar ao patamar de 2019 em 2021, a Bolsa deve estar em 120 mil pontos ao fim do ano.">
Ele avalia que não há uma bolha na Bolsa brasileira, que ainda acumula perdas no ano, tanto em reais (-11%), como em dólares (-34%).>
"O risco de bolha depende da valorização dos ativos e, nesse aspecto, a Bolsa brasileira está barata. Juro baixo por muito tempo cria esse tipo de circunstância [valorização expressiva], com distorções de preço, e chamar atenção para esse risco é sempre saudável. É um risco a ser constantemente reavaliado.">
Já Tiago Reis, analista-chefe e fundador da Suno Research, vê alguns ativos inflados por um "fluxo especulativo sem fundamento", como o varejo, que estaria "sendo precificado de forma extremamente otimista".>
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