Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 09:30
Prestes a lançar ao mar seu segundo submarino, o estaleiro Itaguaí Construções Navais (ICN) busca alternativas para evitar desmobilização após o fim de 2022, quando deve concluir as obras da última das quatro embarcações da primeira série contratada pela Marinha. >
O estaleiro, uma parceria entre a própria Marinha, a Odebrecht e a francesa Naval Group, foi construído para tocar o Prosub, programa de desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro fruto de acordo estratégico entre Brasil e França assinado em 2008.>
O ambicioso projeto, porém, vem sofrendo atrasos em seu cronograma por restrições orçamentárias, o que resultará em um hiato entre o fim da primeira fase, que contempla a construção de quatro submarinos com propulsão diesel-elétrica, e a segunda, que prevê a construção de um submarino a propulsão nuclear.>
O ICN já lançou ao mar em 2018 o primeiro submarino convencional, batizado de Riachuelo, que atualmente passa por testes e deve ser entregue definitivamente à Marinha em julho de 2021. No próximo dia 11, lança ao mar a segunda embarcação da série, batizada de Humaitá.>
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O lançamento ao mar é a etapa em que uma embarcação é retirada do estaleiro para acabamento e testes no mar. A previsão da Marinha é que o último dos quatro submarinos convencionais atinja essa etapa em dezembro de 2022.>
Pelo planejamento original, o primeiro submarino a propulsão nuclear brasileiro entraria em obras em seguida, mas a Marinha já admite que o prazo dificilmente será cumprido. Cronograma apresentado a jornalistas nesta quarta indica que apenas o projeto básico está concluído.>
Compras de componentes e equipamentos seriam iniciadas entre 2021 e 2022 e o detalhamento será iniciado em 2022. O cronograma fala em início da construção em 2023 e entrega em 2033, nove anos após a previsão original.>
A avaliação é que dificilmente as obras estarão mobilizando grandes contingentes do pessoal que foi qualificado pela empresa após a conclusão do último submarino a diesel. "Esse pessoal é altamente qualificado e certamente encontraria colocação no mercado.>
Mas o ideal seria mantê-los aqui", diz o contra-almirante André Martins, que guiou visita da imprensa pelo estaleiro nesta quarta (2). Em 2018, Odebrecht e Naval Group concorreram, sem sucesso, em licitação para a construção de fragatas para a Marinha. Em 2019, ao comemorar dez anos do projeto, a ICN propôs alterar seu estatuto para incluir atuação também na construção de "embarcações de superfície" (navios).>
Em paralelo, as Forças Armadas criaram grupos de trabalho para analisar alternativas, disse Martins, sem maiores detalhes. A Marinha não tem participação acionária na ICN, mas é dona de uma "golden share", que lhe garante veto em algumas decisões. A busca por clientes no mercado internacional seria uma das opções em estudo, em um conceito batizado de "Embraer dos mares", em referência à fabricante de aviões que fez do Brasil um dos principais exportadores de jatos executivos. Elaborado no governo Lula, o projeto de implantação da ICN foi apoiado em um desejo de montar uma frota naval para proteger a chamada Amazônia Azul, conceito criado pelos militares para identificar as riquezas submarinas brasileiras, como o petróleo do pré-sal.>
Foi orçado inicialmente em R$ 17 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões corrigidos pelo IPCA), em gastos que incluem o estaleiro, uma fábrica de estrutura metálica e uma base para a operação dos submarinos. A Marinha não respondeu quanto já foi investido e quanto ainda falta.A situação do ICN repete problema vivido pela indústria de construção naval criada nos governos petistas para atender a demanda do setor de petróleo.>
Com a reversão das políticas de conteúdo local, estaleiros como o Rio Grande, no Rio Grande do Sul, e Atlântico Sul, em Pernambuco, já chegaram a interromper atividades e hoje buscam soluções para sobreviver.>
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