Publicado em 19 de fevereiro de 2021 às 19:57
- Atualizado há 5 anos
A Petrobras perdeu R$ 28,2 bilhões em valor de mercado nesta sexta-feira (19), após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciar que quer mudanças na estatal -o que foi interpretado pelo mercado como interferência, apesar do mandatário negar.>
Após o fechamento do mercado, o presidente Jair Bolsonaro anunciou o general Joaquim Silva e Luna como novo presidente da Petrobras, substituindo Roberto Castello Branco >
"Teremos mudança sim na Petrobras. Jamais vamos interferir nesta grande empresa e na sua política de preços, mas o povo não pode ser surpreendido com certos reajustes", disse Bolsonaro nesta sexta.>
As ações preferenciais (mais negociadas) da estatal fecharam em queda de 6,63%, a R$ 27,33 cada. Durante o pregão, chegaram a cair 7,17%.>
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As ordinárias (com direito a voto) tiveram queda de 7,92%, a R$ 27,10, a maior queda da sessão.>
Com a desvalorização, a capitalização da estatal foi de R$ 383 bilhões na véspera para R$ 354,79 bilhões nesta sexta.>
Na quinta (18), durante sua live semanal, o presidente afirmou que vai ter consequência a fala do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, que dias atrás havia dito que a ameaça de greve de caminhoneiros não era problema da empresa, que reajustou o preço do diesel e da gasolina nesta sexta.>
Bolsonaro disse que "não tem quem não ficou chateado com o reajuste" e fez críticas a Castello Branco.>
"Você vai em cima da Petrobras, ela fala 'opa, não é obrigação minha'. Ou como disse o presidente da Petrobras, há questão de poucos dias, né, 'eu não tenho nada a ver com caminhoneiro, eu aumento o preço aqui, não tenho nada a ver com caminhoneiro'. Foi o que ele falou, o presidente da Petrobras. Isso vai ter uma consequência, obviamente", disse Bolsonaro.>
"Mais uma vez uma fala do presidente mexe na ação [da Petrobras]. [A live] mostra o governo interferindo na empresa, e o mercado não gosta [de interferência]. Apesar do reajuste, a Petrobras segue defasada em cerca de 7% com relação ao preço internacional do petróleo", diz Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável e sócio da Veedha Investimentos.>
"Continuamos a ver riscos para os resultados futuros da Petrobras tanto em termos de menores margens de refino como também devido a riscos de que a companhia tenha que realizar importações a prejuízo para manter o mercado local abastecido", diz relatório da XP Investimentos.>
Em reunião na quinta, Bolsonaro defendeu a saída de Castello Branco da presidência da Petrobras. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, a estratégia é pressionar o executivo a pedir demissão até a reunião do conselho da petroleira, marcada para a próxima terça (23).>
Para amigos, o executivo afirmou que não deixará o cargo.>
Moliterno vê como negativa uma possível troca no comando da empresa. "Castello Branco está fazendo um excelente trabalho".>
Independente de quem assuma, o mercado vê a mudança como negativa.>
"O problema aqui seria o processo, e não a pessoa. Em outro cenário, [Bento Albuquerque] poderia ser uma boa opção, mas o mercado hoje reagiria mal com a saída do Castello Branco por conta da interferência política que já prejudicou a Petrobras algumas vezes", diz Joelson Sampaio, professor da FGV.>
O imbróglio bateu nas ações de outras estatais. O Banco do Brasil recuou 1,89% na sessão, a maior queda dentre os grandes bancos.>
"Interferência política sempre atrapalha a governança das estatais", afirma Sampaio.>
Castello Branco é respeitado pelo mercado financeiro e sua gestão é bem avaliada por investidores, mas sua saída é dada como certa por analistas.>
Na tentativa de impedir o derretimento das ações da companhia, os ministros Paulo Guedes (Economia) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) começaram uma "operação abafa" para demover Bolsonaro da troca.>
Luis Sales, analista da Guide Investimentos, diz que as recentes declarações do presidente indicam que algo pode acontecer na companhia nos próximos dias, o que gera um certo grau de incerteza entre investidores.>
"Vale dizer que os aumentos divulgados pela estatal nos últimos meses têm o objetivo de contrabalancear as perdas obtidas durante 2020 por conta do isolamento social e a consequente diminuição na demanda por combustível", afirmou Sales em relatório.>
"O que tem circulado no mercado é que hoje baixou a Dilma no Bolsonaro", diz Simone Pasianotto, economista-chefe da REAG Investimentos.>
O governo de Dilma Rousseff interferiu na estatal para controlar os preços dos combustíveis e evitar inflação, causando prejuízo bilionário à companhia.>
"Para os acionistas da Petrobras é primordial a independência da política de preços da empresa. Os negócios no mercado de capitais se pautam nos fundamentos financeiros e microeconômicos das empresas. Intervenções políticas são interpretadas como ruídos que sujam o valor da empresa", completa Simone Pasianotto.>
O Ibovespa recuou 0,64%, a 118.430,53 pontos, pressionado pela queda dos papéis da petroleira.>
O dólar fechou em queda de 1,08%, a R$ 5,3840.>
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