Publicado em 13 de abril de 2020 às 07:50
Países com dívida mais elevada e com déficits fiscais anteriores à crise do novo coronavírus devem ter um espaço mais limitado para agir, avaliou neste domingo (12), o economista-chefe do Banco Mundial para América Latina e Caribe, Martin Rama.>
A instituição divulgou suas novas projeções de crescimento para a região. A expectativa é que a atividade econômica no Brasil encolha 5% neste ano, um dos piores desempenhos entre os grandes países latinos.>
Se confirmada a projeção do Banco Mundial, será a maior recessão que o Brasil enfrentará em 120 anos. Segundo estatísticas históricas do IBGE, não há registro de uma queda tão grande da atividade desde 1901.>
Até hoje, o maior tombo na economia ocorreu em 1990, quando houve retração de 4,35% - foi o ano do Plano Collor I e do confisco do dinheiro dos brasileiros. A segunda maior queda já registrada foi em 1981, quando o PIB caiu 4,25% na esteira da crise da dívida externa brasileira.>
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Ao comentar as limitações fiscais, Rama não citou nenhum país específico. O Brasil, porém, já caminhava para ter em 2020 o sétimo ano seguido de rombo nas contas. A dívida bruta do País está em 76,5% do PIB, segundo dados de janeiro, um patamar considerado elevado para países emergentes. "O quanto de assistência vai depender do espaço fiscal de cada país", disse Rama.>
Economistas já aventam a possibilidade de a dívida beirar os 100% do PIB com as medidas que estão sendo adotadas pelo governo Jair Bolsonaro no combate à crise.>
Como prioridades, o Banco Mundial destacou a necessidade de ampliar programas sociais para abarcar o maior número possível de trabalhadores que perderão sua fonte de renda devido à paralisação das atividades decorrente do isolamento social recomendado por autoridades de saúde.>
No Brasil, o governo tem priorizado iniciativas temporárias, como o auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais, que tem duração de três meses. Questionado se ações com esse período de tempo são suficientes, Rama disse que elas vão na direção correta. "O ambiente é de incerteza. Respostas às que se pode agregando tempo é melhor do que fazer um programa longo que, no fim, pode ficar por tempo além do necessário", afirmou o economista.>
Martin Rama
EconomistaSegundo Rama, um dos maiores desafios da região é o fato de que os índices de informalidade na América Latina são maiores do que em países desenvolvidos. "O sistema de seguro-desemprego não cobre todo mundo", afirmou.>
Além das medidas de proteção social, os governos precisarão monitorar os riscos de uma crise financeira e, eventualmente, recapitalizar bancos para impedir impactos de proporções ainda maiores, alertou o Banco Mundial.>
"Estamos tendo dificuldades financeiras internacionais, por capitais que saem, por empresas que não conseguem pagar dívidas", disse Rama. Ele defendeu transparência nas ações governamentais nessas frentes para evitar a "socialização de perdas" de maneira injusta, que penalize a população mais necessitada. >
"Temos experiências em que se teve que fazer compra de ativos de má qualidade, isso teve custos econômicos, de confiança. Por isso enfatizamos necessidade de planejamento. Se chegamos a ter que fazer isso, temos que fazer com cuidado", ponderou. Segundo o economista, a comunicação nessa frente será quase como uma espécie de "pacto social". >
Até agora, as projeções do Banco mostram uma retomada já em 2021, com crescimento de 2,6% na América Latina e no Caribe e de 1,5% no Brasil. Rama reconheceu, porém, que há uma "margem enorme de incertezas" e que será necessário monitorar os reflexos da pandemia para eventualmente fazer novos prognósticos. >
Para conseguir fazer seus cálculos, o Banco Mundial inclusive precisou incorporar mais dados e novas fontes de informação às suas análises. A instituição recorreu, por exemplo, a dados da Nasa e da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) sobre emissões de dióxido de nitrogênio, um poluente atmosférico emitido por chaminés industriais e cuja concentração pode servir de termômetro para o ritmo da atividade econômica. Na China, a concentração de NO² reduziu drasticamente no entorno de Pequim, capital do País. >
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