Publicado em 13 de março de 2021 às 14:50
- Atualizado há 5 anos
O ministro da Cidadania, João Roma, disse na sexta-feira (12) que a retomada do auxílio emergencial deve ser feita com "serenidade" para evitar "balbúrdia" no pagamento do benefício a 46 milhões de pessoas vulneráveis. >
O ministro vê risco de filas, distúrbios e quebra-quebra em agências se houver informações divergentes sobre as datas de liberação do dinheiro e o valor, em média de R$ 250 mensais, nos próximos quatro meses. Embora o governo Jair Bolsonaro pretendesse iniciar o pagamento ainda em março, como vinha sendo anunciado, o mais provável agora é que o pagamento ocorra apenas na primeira semana de abril.>
"Numa operação dessa é preciso ter muita serenidade. É um momento de muito tumulto, mas a execução de um programa desse exige perícia e serenidade no processo. O que eu chamo de serenidade é evitar a balbúrdia", explicou o ministro, em entrevista no seu gabinete.>
No cargo há três semanas, o ministro indicado pelo Republicanos, partido do Centrão, trata a nova rodada de pagamentos como prioridade por ordem de Bolsonaro, e não chegou nem a nomear sua equipe de confiança no ministério.>
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Roma afirma que sua grande preocupação agora é afinar a comunicação do governo, para que o público-alvo do programa – desempregados, informais, microempreendedores e autônomos – saiba exatamente quando se dará o pagamento e não passe por situações de mais ansiedade, tampouco de risco, como filas e aglomerações em agências da Caixa Econômica Federal, como ocorreu no ano passado.>
"Num primeiro momento, em 2020, eram informações muito desencontradas, hoje a população sabe como é. Tem mecanismos de conta digital, é importante comunicar isso bem. É uma responsabilidade do governo e de todos os órgãos que atuam na comunicação para evitar inclusive um distúrbio com a nossa população", diz Roma. >
"Veja o risco de dizer 'vamos pagar o auxílio em março'. Dia 18 de março inicia o pagamento do Bolsa Família, um calendário que já existe há 18 anos. Se eu digo que 'vou pagar o auxílio em março', o cara que chegar dia 18 e receber só R$ 122 vai questionar a caixa: 'Cadê o resto do meu dinheiro, sua ladra? O presidente disse que eram R$ 250 e que era para pagar em março. Cadê? Ah, não tem?' Quebram a agência da Caixa. Dá problema. Precisa ter uma responsabilidade gigantesca nisso aí, para evitar." >
Na prática, os valores devem variar entre R$ 150 (solteiros) e R$ 375 (mulheres provedoras do lar), como informou o ministro da Economia, Paulo Guedes, que admitiu que o auxílio vai ser pago em abril, "mas referente a março".>
É o valor do auxílio emergencial a ser pago a homens solteiros
Ruídos de comunicação com Guedes têm preocupado Roma, que vê o programa como primeiro desafio no governo e uma urgência. Ele já admitiu nos bastidores que se assusta com "rompantes" de integrantes do governo e que gostaria de ter uma unificação no discurso - todos falando num valor médio (o plano é que a maior parte das pessoas receba R$ 250) e nas mesmas datas.>
"Precisamos nos comunicar de forma serena. O governo é um só. Isso é um esforço de governo, não é meu isolado. É executado pelo Ministério da Cidadania, mas com muitos órgãos envolvidos", diz o ministro.>
Roma explica que o público alvo foi reduzido a partir de depuração das bases de cadastro e do encontro de milhares fraudes e pagamentos indevidos ou até de pessoas que se encaixavam nas regras, mas escapavam ao objetivo do programa, como bolsistas da Capes - que antes poderiam receber, embora contassem com a bolsa como fonte de recursos.>
"O dinheiro tem que chegar na mão de quem está necessitado, sem poder trabalhar, desempregado. Dinheiro federal nenhum pode ser gasto à toa", diz Roma.>
Redução>
No ano passado, o benefício foi pago a 68 milhões de pessoas. Agora, a mais recente versão do cadastro terá 46 milhões de destinatários - uma queda de 22 milhões. O governo não pretende abrir um novo cadastro, salvo acréscimos por ordem judicial. Mais uma vez, o governo vai divulgar um calendário de pagamentos, a partir do mês de nascimento, como feito no ano passado.>
Se em 2020 foram efetivamente pagos R$ 294 bilhões, agora o teto estabelecido é de R$ 44 bilhões, conforme aprovado pela emenda constitucional que será promulgada na próxima segunda-feira, dia 15. Em seguida, o governo editará medida provisória com as regras do pagamento. O ministro diz que não há previsão de estender o auxílio para além de quatro meses e que, se houver necessidade, será necessário aprovar nova proposta de emenda à Constituição (PEC), para prever recursos.>
Segundo o ministro, só na pasta da Cidadania o auxílio demanda cruzamentos de 22 bases de dados, além de outras de Estados, Receita Federal e órgãos de controle, para verificar quem pode ou não receber. Há uma mobilização de equipes também de DataPrev, Serpro e Tribunal de Contas da União, envolvidos no processamento dos dados e fiscalização.>
O TCU questionou, por exemplo, o motivo de o auxílio ter sido pago a 9 milhões de mulheres consideradas chefes de família, se nos dados censitários só havia 4,5 milhões de mães responsáveis pelo sustento familiar. No caso, segundo o ministro, foi aplicado a classificação do Bolsa Família, mais abrangente, que engloba não só mães, mas filhas, tias, madrinhas e avós que são arrimos de família.>
Roma justifica que o pagamento da folha de destinatários do auxílio emergencial será processado apenas depois de encerrado o calendário do Bolsa Família, entre os dias 18 e 30 de março. Por causa das peculiaridades do cadastro do auxílio e da massa de dados envolvida, o processo é demorado e será feito em separado. O governo está no limite do prazo para cumprir a intenção de pagamentos em março e técnicos já admitem ser inviável.>
"O pagamento do auxílio emergencial se iniciará após o pagamento da folha do Bolsa Família, neste mês. Tem uma operação de guerra por trás, sistêmica", disse Roma, com aval de Bolsonaro. "A tendência é que seja na primeira semana de abril. O raciocínio é que o pagamento ocorra após a execução do Bolsa Família. Pode ser no dia 31 ou ainda no dia 30 também.">
O ministro explica que não há tempo hábil de alterar a atual folha do Bolsa Família, a ser liberado a partir da semana que vem e que não há mais como incluir uma folha com nomes complementar, uma vez que o auxílio emergencial não é mais uma extensão apenas do programa. Os primeiros a receber o auxílio serão pessoas de fora da lista do Bolsa Família, considerados mais necessitados no momento.>
"Começa justamente com os que mais estão precisando. Os do Bolsa Família continuaram recebendo algo, para os demais zerou", pondera Roma.>
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