Publicado em 21 de julho de 2020 às 17:59
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, afirmou nesta terça (21) que "a maré está virando" contra a China na disputa pelo mercado da tecnologia 5G no mundo. >
Falando em um webinário do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, Esper comentava a exclusão da gigante chinesa Huawei do fornecimento de infraestrutura crítica para o 5G no Reino Unido.>
"Temos uma grande preocupação com a Huawei. O 5G vai mudar o jogo na dominância tecnológica", afirmou. "Fico feliz em dizer que a maré está virando", arrematou.>
Na semana passada, Londres determinou que as operadoras de telefonia celular do país parassem de comprar componentes da Huawei a partir de 2021 e expurgassem suas redes deles até 2027.>
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Os EUA, diz Esper, seguirão "encorajando outros países a fazer o mesmo".>
O Brasil está na lista do embate: o leilão das frequências de 5G deve ocorrer no ano que vem, e há debate interno no governo: de um lado, os EUA são aliados ideológicos da gestão Jair Bolsonaro, e do outro, Pequim é a maior parceira comercial do país. Até aqui, a Huawei está liberada para operar.>
A decisão de Londres, saudada pelo presidente Donald Trump como uma vitória pessoal e pelo governo chinês como um ultraje político, veio na esteira do agravamento da crise entre o Ocidente e Pequim -a chamada Guerra Fria 2.0, liderada pelos EUA de Donald Trump.>
No caso britânico, o golpe foi mais duro porque o governo de Boris Johnson inicialmente havia achado uma solução para manter a Huawei no jogo, fornecendo até 35% das redes, sem ter acesso a sistemas de segurança nacional ou estratégicos.>
Esper ressaltou esse ponto em sua fala nesta manhã. Afirmou que os aliados americanos na Otan, o clube de defesa do Ocidente que tem 30 membros, a maioria europeus, não poderia correr o risco de ter suas informações à mercê dos chineses.>
A "influência chinesa na Otan", como definiu, seria um perigo à segurança de todo o mundo. A China nega as acusações de que os sistemas da Huawei permitem o vazamento de dados confidenciais para seus serviços de inteligência.>
A Huawei é vista nos EUA e, agora, no Reino Unido, como um ator estatal agressivo. Ela não pertence ao governo chinês, mas tem estreito laços com o regime comunista e foi fundada em 1987 por um ex-chefe militar.>
Com soluções mais baratas do que a concorrência, hoje centrada na sueca Ericsson, na finlandesa Nokia e na sul-coreana Samsung, ela domina desde 2012 o mercado de infraestrutura para celulares. E lidera o fornecimento do 5G, apesar de estar perdendo terreno devido ao cerco americano.>
A nova tecnologia é a base da chamada internet das coisas. Como o 4G atual permitiu o florescimento de empresas em torno de um ecossistema de aplicativos e serviços, como as redes sociais, o 5G promete um salto ainda maior, de interconexão ampliada do cotidiano.>
Além disso, e aí é a preocupação central de Esper, ela estará no coração de novas formas de combate no futuro. Aviões, tanques e submarinos não-tripulados, fusão de dados com informações em tempo real das condições no campo de batalha, aviso antecipado de ações como lançamento de mísseis, tudo isso está no escopo futuro do 5G.>
Outros países, como a Austrália e o Japão, já baniram a Huawei. No caso britânico, houve um componente político extra, que foi a implantação da draconiana nova lei de segurança nacional chinesa em Hong Kong, que foi colônia de Londres até 1997.>
O texto gerou críticas no Reino Unido, que viu seu tratado de devolução do território violado e rompeu acordos bilaterais existentes com Hong Kong em retaliação.>
Além disso, Trump deu uma mãozinha: em maio, proibiu a venda de chips com tecnologia americana, quase todos no mercado, para a Huawei. Isso afetou diretamente empresas como a maior do mundo na área, a taiwanesa TSMC, que inclusive deverá abrir uma fábrica nos EUA.>
A disputa tecnológica e comercial é vista por Pequim apenas como um jogo político cínico, dado que até aqui os EUA fizeram tão bom uso de sua relação comercial com os chineses quando vice-versa.>
Os limites dessa batalha sobre países interligados economicamente ainda é especulado por analistas, mas no momento a mão mais alta da partida parece estar com Washington -ao menos na retórica de Trump, que precisa ser dura para enfrentar a tentativa difícil de reeleição em novembro.>
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