Publicado em 16 de novembro de 2023 às 15:53
Antecipar os descontos da Black Friday já virou tradição no Brasil. A estratégia, conhecida como "Black November", dilui as ofertas ao longo do mês até a chegada da sexta-feira de promoções, marcada para o próximo dia 24.>
Mas, para algumas das categorias de eletroeletrônicos mais visadas pelo consumidor, os dias que precedem a Black Friday estão sendo marcados pelo movimento inverso.>
Desde o começo do mês, celulares, lavadoras, geladeiras e televisões têm registrado aumento de preço, de acordo com uma pesquisa do grupo Zoom/Buscapé obtida com exclusividade pela Folha.>
Entre os dias 29 de outubro e 11 de novembro, celulares e smartphones acumularam alta de 4,67%. Lavadoras, 5,75%. Geladeiras e televisões, 1,3% e 1%, respectivamente.>
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Na maior parte dos casos, o aumento mais expressivo aconteceu entre os dias 4 e 11 de novembro. Aparelhos celulares, por exemplo, ficaram 3,65% mais caros em relação à semana anterior. Geladeiras, 6,64%. Além deles, ar-condicionados, que podem ser a "estrela" da Black Friday devido à onda de calor, também têm subido de preço.>
O cálculo leva em conta a mediana entre os maiores e os menores preços de cada categoria.>
Para Maurício Cascão, CEO da Mosaico, dona do Zoom/Buscapé, a inflação atípica pode significar um movimento de recomposição de perdas do comércio online. "O ano tem sido muito ruim para o varejo. Temos também a troca de governo, juros altos, incertezas globais, duas guerras em andamento. O cenário econômico não está favorável", afirma.>
De janeiro a outubro, o faturamento do varejo de ecommerce acumulou queda de 11,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Os números são da Neotrust, empresa de inteligência que monitora o comércio eletrônico brasileiro.>
O aumento dos preços, então, viria para compensar parte das perdas registradas em 2023, considerando que novembro é, historicamente, um dos meses mais fortes do ano para o setor por causa da Black Friday.>
A seca severa da Amazônia, que tem trocado rios por bancos de areia, também pode ter encarecido a logística de transporte. "Os navios não conseguem passar por alguns pontos, e a solução tem sido apostar em aviões, o que aumenta o preço final para o consumidor", diz Roberto Kanter, professor de MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas).>
No entanto, há ainda outra justificativa plausível — e uma que pode ser enquadrada no Código de Defesa do Consumidor.>
"É possível que as lojas estejam criando uma 'gordurinha' para, na Black Friday, poder oferecer descontos que pareçam maiores do que são", afirma Cascão.>
É o que ficou conhecido no jargão popular como "Black Fraude", quando preços de determinados produtos sobem antes da sexta-feira de promoções e, nela, voltam ao patamar normal. Ano após ano, a jogada enfurece consumidores e vira alvo de denúncias no Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) e no Reclame Aqui, um dos sites mais populares de reputação de empresas.>
"É uma inflação artificial que tenta 'enganar' o cliente. O varejista sério está parando de fazer isso, porque percebe que é uma prática que gera descrença e mancha a reputação dele", diz Kanter.>
Essa também é a visão de Guilherme Dietze, economista da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo), entidade representativa do setor varejista.>
Para ele, os aumentos atípicos nas categorias analisadas pela pesquisa são pontuais e não refletem o mercado todo.>
"Quem faz esse tipo de prática vai perder vendas e credibilidade, além de desmoralizar o varejo. A Black Friday já se consolidou como um importante mecanismo de vendas, e a estratégia de aproveitá-la para ter mais lucros é sempre um tiro no pé", afirma.>
A Folha de S.Paulo também procurou a SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo) para comentar a pesquisa, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.>
Segundo a advogada Renata Abalém, diretora jurídica do IDC (Instituto de Defesa do Consumidor e do Contribuinte), a prática de maquiagem de preços é delimitável pelo artigo 67 do Código de Defesa do Consumidor.>
A norma dispõe sobre publicidade enganosa e/ou abusiva e prevê multa e detenção de até um ano.>
A Lei nº 1.52/51, que versa sobre crimes contra a economia popular, também pode proteger o cliente dos falsos descontos.>
"Trata-se de uma prática ilegal que é o cliente quem deve denunciar. Ele precisa formalizar a denúncia junto aos órgãos de Defesa do Consumidor e Procons, que estão aptos a autuar as lojas e os varejistas", afirma ela. Para tanto, o cliente precisa provar o falso desconto com prints ou outros registros.>
Ele ainda pode devolver o produto de preço maquiado em até sete dias depois de receber a compra. A devolução é chamada de direito de arrependimento, válida só para compras online, e está amparada pelo Código de Defesa do Consumidor.>
Mas, a poucos dias da Black Friday, ainda dá tempo de driblar a Black Fraude. Confira dicas abaixo:>
Monitore produtos alguns dias antes da data para verificar se os preços têm subido;>
Use sites de acompanhamento de preços. Além do Zoom e Buscapé, Google Shopping e Promobit fornecem esse tipo de serviço;>
Compare preços em diferentes sites de compras.>
Também vale ter os cuidados habituais em compras online. Fique atento a sites fraudulentos, promoções extraordinárias e possíveis golpes no momento do pagamento.>
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