Publicado em 29 de maio de 2020 às 08:58
Países que adotaram isolamento social mais brando devem sofrer impacto econômico similar a nações vizinhas que foram mais rigorosas na quarentena. No caso de Suécia, Brasil e Chile, as medidas não foram suficientes para frear o avanço do coronavírus, e os três, para além das perdas econômicas, apresentam taxas de mortalidade substancialmente maiores do que países fronteiriços. ? >
Mesmo a Alemanha, menos rigorosa na quarentena mas exitosa no combate à Covid-19, anunciou recessão no último trimestre e deve ter queda no PIB similar à média da Europa.>
Citada pelo presidente Jair Bolsonaro como exemplo na pandemia, a Suécia, que teve regras de isolamento social mais brandas que seus vizinhos escandinavos, terá impacto econômico semelhante ou pior, segundo o previsão do FMI.>
O país manteve estabelecimentos abertos, escolas funcionando e nem mesmo chegou a indicar oficialmente o uso de máscara pela população. Por lá, o isolamento social se parece mais com uma recomendação do governo a seus cidadãos do que com uma política efetiva de Estado.>
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Dados anônimos de mobilidade de usuários do Google mostram que os suecos reduziram suas atividades, mas foram mais às ruas que dinamarqueses, finlandeses e noruegueses, cujos governos implantaram maiores restrições.>
O efeito da pandemia em termos econômicos, contudo, é parecido. A queda do PIB sueco em 2020 deve ficar em 6,8%, diz o FMI. A média dos outros três países é redução de 6,3%.>
Também deve ter alta de três pontos percentuais no índice de desemprego - menos que a Noruega, que pode ter salto de nove pontos, porém mais que o dobro do crescimento de Dinamarca e Finlândia.>
Dos escandinavos, os suecos têm a maior taxa de mortos por coronavírus: 36,1 a cada 100 mil habitantes, três vezes a da Dinamarca (9,4). A Suécia também é o único dos quatro países que teve mais mortes do que seria esperado para um mês de abril, de acordo com o projeto EuroMomo, que analisa a mortalidade em mais de 20 nações europeias.>
Abril de 2020, por sinal, foi o mês com mais óbitos na Suécia em 20 anos, segundo a agência oficial de estatísticas do país.>
Na América do Sul, a situação é semelhante no Brasil e no Chile. Com isolamento menor em comparação a Colômbia e Argentina, os dois países também devem ter quedas mais bruscas no PIB e já acumulam taxas maiores de mortes por coronavírus.>
Dos quatro, a Argentina é a única que já tinha previsão de recessão antes mesmo de o mundo descobrir o coronavírus. Em outubro de 2019, o FMI projetava que o PIB caísse 1,3%. Em abril, houve uma revisão diante da pandemia, e a queda passou para 5,7%.>
Em comparação, Brasil e Chile, que tinham previsão de crescimento de 2% e 3% em outubro, respectivamente, devem ter queda de 5,3% e 4,5%.>
A Argentina adotou lockdown em todo o país, e, nesta segunda (18), tinha 0,8 mortos por 100 mil habitantes. O país já ensaia a saída da quarentena, com flexibilização de algumas regras.>
No Brasil, são 7,7 mortos por 100 mil pessoas e, no Chile, 2,4. Na semana passada, a capital chilena endureceu as regras e decretou confinamento da população para tentar conter o avanço da Covid-19.>
O Brasil, por sua vez, tem reabertura em alguns estados, como Santa Catarina, e lockdown em cidades de outros quatro. Nesta segunda, tornou-se o terceiro no mundo com mais casos da doença e já tem mais de 16 mil mortos.>
Pesquisador de economia aplicada da FGV-IBRE (Instituto Brasileiro de Economia), Livio Ribeiro afirma que nenhum país é uma ilha e que dificilmente algum escapará dos efeitos econômicos da pandemia. A economia mundial, projeta o FMI, deve retrair 3%.>
"Você tem países com políticas de isolamento mais soft, só que isso não quer dizer que eles são capazes de se blindar totalmente de um forte desaceleração global e regional. Não tem saída boa nem faz sentido opor saúde e economia", diz.>
Para ele, o fenômeno deve ser especialmente forte na zona do euro, altamente interligada.>
A Alemanha, por exemplo, demonstrou que a quarentena mais branda não implica necessariamente alta taxa de mortes. O país teve números de óbitos muito mais tímidos que os vizinhos Bélgica (campeã mundial na taxa por 100 mil habitantes) e Holanda, mas nem por isso escapou da recessão.>
Nenhum dos três adotou lockdown, mas os dados de mobilidade do Google mostram que os alemães foram os que menos aderiram ao isolamento social.>
Ainda assim, o FMI projeta retração 7% ao fim do ano. Holanda e Bélgica têm prognóstico parecido, com -6,9% e -7,5%, respectivamente. Todos eles já deram início à reabertura há algumas semanas.>
Situação semelhante é observada na Autrália e na Nova Zelândia, bem como nos vizinhos Estados Unidos, México e Canadá. São países com diferentes níveis de mortalidade e isolamento social, mas com previsão de queda do PIB de 6,2% a 7,2%.>
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