Publicado em 13 de outubro de 2020 às 20:01
Embora pressionado pelo aumento de gastos, o governo Bolsonaro concede jetons (remuneração que fica fora do teto salarial do funcionalismo público) a mais de 330 servidores, inclusive a ministros. O gasto com esses pagamentos supera R$ 1 milhão por mês.>
O desembolso pode ultrapassar R$ 1,6 milhão a depender da quantidade de reuniões dos conselhos de estatais.>
Jetom é a gratificação paga pela participação em conselhos de empresas estatais, cujo objetivo é direcionar os rumos da companhia e fiscalizá-la.>
O governo tem cadeiras nesses colegiados e cabe ao ministro responsável pela área nomear representantes. O Ministério da Economia é a pasta com maior número de indicados.>
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Segundo levantamento feito pela reportagem, pelo menos 69 servidores conseguiram um contracheque acima do teto do funcionalismo (R$ 39,3 mil) ao juntar o salário bruto e os honorários das estatais de abril a agosto.>
A Embraer chegou a pagar R$ 40,8 mil em jetons em um único mês a um militar. O valor, em si, já supera o limite máximo que um funcionário público federal pode receber de salário bruto.>
Bancos estatais, como BNDES e Banco do Brasil, a Petrobras, o Sesc (Serviço Social do Comércio), o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e a Infraero estão entre as empresas e entidades que mais pagam pela participação em reuniões de conselho.>
Como os jetons não são considerados salário, eles não entram na conta do teto, equivalente ao salário de um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).>
Em média, esses servidores têm um salário bruto de R$ 26,5 mil por mês. Com jetons, conseguem, em média, elevar a renda em R$ 5.000.>
Alguns recebem esses honorários todos os meses. Em outros casos, o pagamento é esporádico - depende das reuniões dos conselhos.>
No Portal da Transparência, é possível verificar o holerite 327 servidores beneficiados pelas gratificações. Porém, a lista é maior.>
Outros recebem jetons, mas, por serem vinculados a empresas de economia mista (parceria entre a União e entes privados), os salários não são publicados no portal do governo federal. A reportagem encontrou pelos mais 20 servidores nessa situação.>
É comum que cargos em conselhos de estatais sejam usados para atrair profissionais da iniciativa privada, onde podem ganhar mais que o valor pago pelo serviço público a quem ocupa vagas de direção e assessoramento.>
Há posições de assessoramento que não precisam de concurso público e, portanto, são abertas a técnicos que atuam em empresas privadas. A remuneração máxima é de aproximadamente R$ 17 mil por mês.>
Por isso, com a gratificação de conselhos (jetons), é possível burlar esse limite e inflar o contracheque.>
Essa negociação, porém, não se restringe a profissionais da iniciativa privada. Dentro do serviço público, ministros também concedem cargos em conselhos a auxiliares, que passam a receber mais que o teto do funcionalismo.>
O Ministério da Economia, que tem um departamento sobre coordenação e governança das empresas estatais, afirma que "os conselheiros são selecionados sob critérios rigorosos e sua aprovação corresponde à adequação da qualificação e capacidade de contribuir na missão da gestão pública".>
Em fevereiro, o STF decidiu que integrantes do governo podem acumular salário com jetons. Os ministros julgaram uma ação dos partidos PT e PDT contra uma lei de 1996 que define regras sobre esses benefícios.>
Além dos jetons, outras gratificações, honorários advocatícios e auxílio-alimentação não são contabilizados dentro do teto salarial.>
Apesar do esforço da equipe econômica dos ex-presidentes Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), o Congresso ainda não aprovou projetos que regulamentam o teto salarial. Com isso, continua permitido que jetons fiquem fora do cálculo do limite de renda.>
Na semana passada, em meio à discussão de como conseguir financiar uma reformulação do Bolsa Família, o governo e congressistas sinalizaram apoio à proposta de cortar salários acima do teto do funcionalismo público.>
O projeto tem peso político e moralizador, mas é insuficiente para financiar a criação do Renda Cidadã. A proposta resultaria, porém, em economia de R$ 1 bilhão para a União por ano.>
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