Publicado em 5 de agosto de 2021 às 14:38
A nova versão da reforma do Imposto de Renda continua gerando impacto fiscal negativo para os cofres públicos, de acordo com cálculos feitos pelos estados. >
As contas até agora apontam para uma perda anual de pelo menos R$ 24 bilhões para governadores e prefeitos a partir de 2023. >
O relator da proposta, deputado Celso Sabino (PSDB-PA), havia afirmado na terça-feira (3) que o impacto fiscal de seu novo texto seria neutro, depois de a versão anterior ter previsão de retirar R$ 30 bilhões da arrecadação pública. >
Contas do Comsefaz (comitê de secretários estaduais de Fazenda) apontam que estados e municípios continuarão a ter perdas com a reforma mesmo com as mudanças mais recentes, já considerando os números de medidas compensatórias apresentados pelo deputado -como a maior alíquota de tributação sobre a exploração mineral. Já a União não teria prejuízo. >
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"Está ficando pior. Agora, as perdas da União estão zeradas, e os estados e municípios estão arcando com as mudanças", disse André Horta, diretor institucional do Comsefaz. >
"Só resta aos estados ficarem contrários ao projeto. Sempre estamos abertos a discutir, mas nessas condições a orientação é contrária", disse. >
Além disso, os estados contestam diferentes números apresentados pelo deputado -como a isenção na cobrança de dividendos concedida às empresas do Simples. >
Nos próprios slides apresentados por Sabino nesta semana, já é possível identificar uma perda líquida de pelo menos R$ 14,4 bilhões em 2023. >
Mesmo negativa, a conta apresentada pelo deputado considera o efeito positivo de R$ 8,8 bilhões decorrente de um eventual crescimento na arrecadação devido ao projeto -que, em sua visão, impulsionaria as receitas. >
A ideia dele é que a redução de impostos vai impulsionar a economia, o que, por sua vez, vai gerar mais arrecadação -ideia contestada por analistas, que não veem embasamento empírico para a tese. >
Ao lhe ser perguntado sobre a perda líquida notada em sua apresentação, Sabino afirmou que os números não estão totalmente atualizados em relação a dois pontos. >
Um deles seria a previsão de receitas com lucros declarados do exterior. Segundo ele, a apresentação ainda considera somente os ganhos de paraísos fiscais (que acabou não inserida na proposta). >
Mesmo assim, o item nem poderia ser considerado na conta. Isso porque, segundo ele próprio disse no dia anterior, a arrecadação com esse item só existirá em 2022 (e não em 2023 e nos anos seguintes). >
Outro ponto desatualizado, segundo o deputado, é a extinção dos juros sobre capital próprio. Questionado sobre qual o valor atualizado, ele não enviou um novo número até a conclusão deste texto. >
O impacto fiscal da proposta ficará ainda maior caso nem todas as medidas compensatórias sejam aprovadas no Congresso. Fazem parte da lista o fim dos supersalários no funcionalismo, o fim da isenção para auxílio-moradia de servidores e o fim de diferentes subsídios para setores específicos. >
Mesmo com as contestações, o governo e o relator mostram pressa nos debates do texto. A estratégia é usar o projeto como respaldo jurídico para cumprir certas exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal ao turbinar o Bolsa Família em 2022. >
A Câmara aprovou na terça o requerimento de urgência por 278 votos a 158 para o texto Apesar disso, vários líderes partidários disseram não haver compromisso com o mérito da proposta -ou seja, com as mudanças feitas no substitutivo de Sabino. >
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), disse que as mudanças devem ser votadas na próxima semana. >
Enquanto isso, entidades empresariais chamam de inaceitável a nova versão do texto. O principal alvo da reclamação é o trecho que condiciona o ciclo completo de cortes previstos na tributação de empresas ao aumento real da arrecadação pública ao longo de três anos. >
Para CNI (Confederação Nacional da Indústria), Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas), o projeto aumenta a incerteza para a iniciativa privada. >
"O texto ainda tem muitos problemas. Em relação à segunda versão, tem até alguns retrocessos", disse Mário Sérgio Telles, gerente de Política Econômica da CNI. >
Ele aproveitou para rebater a tese do relator, de que o projeto fará a economia se movimentar e gerar mais arrecadação. "O comportamento futuro da arrecadação do IR só vamos saber no futuro. É uma variável que não está sob controle", disse Telles. >
A CNI não se opõe à direção do projeto de lei como um todo, mas pede mais tempo para discussão e critica a pressa no debate. "Para que a gente possa aperfeiçoar, é preciso tempo. Esse tipo de reforma precisa de uma discussão mais elaborada. Era importante que fosse discutido com mais calma", disse Telles. >
A Fiesp fez reclamações na mesma linha da CNI, ao dizer que o substitutivo apresentado nesta terça aumenta os impostos, a complexidade do pagamento de tributos e cria insegurança sobre quanto as empresas irão recolher. >
"Está claro que a única preocupação é com o caixa dos governos, o que é inaceitável. O substitutivo não muda a lógica do sistema, não facilita as condições de pagamento para o setor produtivo e recorre à mesma velha saída de sempre que é obter mais recursos com elevação da carga tributária ao invés de reduzir gastos.">
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