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Economistas já projetam até recessão no Brasil em 2022

Economistas já projetam até recessão no Brasil em 2022

A  avaliação é que a mudança no regime fiscal tende a pressionar o câmbio, alimentando um efeito em cascata que vai elevar a inflação e forçar altas mais acentuadas da taxa de juros

Publicado em 26 de outubro de 2021 às 08:50

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Pelo acordo, os dólares comprados pela consumidora deveriam ser entregues na véspera da viagem
Diante do cenário econômico, o mercado também alterou as projeções para o câmbio. (Agência Brasil)

A semana começou com uma forte reversão nas expectativas para a economia brasileira, após o governo Jair Bolsonaro (sem partido) decidir driblar o teto de gastos para pagar o Auxílio Brasil de R$ 400, entre outras despesas, como emendas parlamentares.

A perspectiva de economistas é que houve uma mudança no regime fiscal e que essa alteração tende a pressionar o câmbio, alimentando um efeito em cascata que vai elevar a inflação e forçar altas mais acentuadas da Selic, a taxa básica de juros.

Parte do mercado financeiro já passa a projetar estagnação ou até mesmo queda do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2022.

Uma das revisões que chamaram a atenção nesta segunda-feira (25) foi feita pelo Itaú Unibanco. A instituição financeira prevê agora recessão para a economia nacional no próximo ano.

Pela estimativa do Itaú, o PIB deve registrar queda de 0,5% em 2022. A previsão anterior era de avanço de 0,5%. Conforme o banco, o quadro de dificuldades também inclui pressão inflacionária e desemprego.

"Notícias sobre o aumento dos gastos fiscais aumentaram as dúvidas sobre o futuro do arcabouço fiscal no Brasil, que desde 2016 tem sido baseado em um teto de gastos ajustável", analisa o Itaú. "Sem uma âncora fiscal crível, a tarefa do Banco Central de manter a inflação na meta se torna mais difícil."

A Asa Investments, por sua vez, passou a projetar recessão técnica (dois trimestres consecutivos de queda no PIB) durante o primeiro semestre de 2022. A economia deve avançar apenas 0,4% no acumulado do próximo ano, conforme a gestora de investimentos.

"Como consequência da incapacidade de se fazer escolhas dentro do teto de gastos, estamos colhendo um cenário de prêmio de risco muito mais elevado, com piora acentuada de condições financeiras", afirmou.

A MB Associados também fez uma revisão para pior e agora trabalha com um cenário de estagflação (preços em alta e atividade econômica fragilizada). A consultoria, que antes projetava um crescimento de 0,4%, agora projeta um resultado de 0% em 2022, mas com aumento de preços persistentes.

GOVERNO "ERRÁTICO"

Segundo a MB, com mais de um ano pela frente de um governo "errático", vai haver uma piora nos números gerais da economia.

"Em quase três anos de governo, talvez não tenha havido uma semana tão ruim do ponto de vista de política econômica como a última. Ela entrará para a história como o desmonte de um regime fiscal construído a duras penas", diz o economista-chefe da consultoria, Sergio Vale.

O mercado também alterou as projeções para o câmbio. Segundo a pesquisa Focus do Banco Central, que reúne prognósticos de economistas e analistas, a projeção de alta do dólar ao final deste e do próximo ano passou para R$ 5,45, contra previsão anterior de R$ 5,25 para ambos os períodos.

No entanto, várias casas já trabalham com um cenário mais pessimista. A XP, por exemplo, espera a cotação de R$ 5,70 ao fim deste ano e de 2022, ante taxas de R$ 5,20 e R$ 5,10, respectivamente, na previsão anterior. Segundo a instituição, ocorreu "uma mudança de regime na condução da política fiscal, e não 'apenas' uma piora na margem".

Em entrevista à reportagem, Luciano Rostagno, estrategista-chefe para América Latina do Banco Mizuho, afirmou que não descarta que o dólar possa testar a marca de R$ 6 neste final de ano.

Diante desse cenário, há grande expectativa em relação à próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que ocorre terça e quarta-feira (26 e 27).

Várias instituições, entre elas bancos estrangeiros como JPMorgan, Bank of America, Barclays e UBS, passaram a ver uma alta de 1,5 ponto percentual na Selic já nesta reunião, ante ao 1 ponto percentual que vinha sendo adotado anteriormente.

Esse novo patamar seria a maior alta da taxa desde 14 de outubro de 2002, quando o BC promoveu um choque de 3 pontos percentuais na taxa básica (de 18% para 21%) pouco mais de uma semana depois do primeiro turno das eleições daquele ano, que sagraram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente da República.

O Barclays fala em "incerteza em espiral" para justificar a mudança de prognóstico. "Além disso (mais gasto para Auxílio Brasil e ruído sobre precatórios), uma possível extensão do auxílio emergencial que expira neste mês e crescentes pressões por subsídios aos combustíveis para caminhoneiros em meio a ameaças de greves nacionais podem aumentar o nervosismo do mercado", disse o banco em relatório.

O Itaú também projeta aumento de 1,5 ponto percentual. Com essa alta, a Selic iria de 6,25% para 7,75% ao ano. O banco ainda enxerga uma nova alta de 1,5 pontos percentuais em dezembro.

Assim, a taxa encerraria 2021 em 9,25% ao ano. A previsão anterior era menor, de 8,25%. No primeiro trimestre de 2022, a Selic deve chegar a 11,25%, conforme o Itaú.

"Alteramos nossa projeção de crescimento do PIB em 2022 de +0,5% para -0,5%, em particular devido à mudança nas expectativas para a taxa Selic", relata o Itaú.

DESEMPREGO

Segundo a instituição, a retração da atividade econômica também deve provocar impactos no mercado de trabalho, com aumento da taxa de desemprego no próximo ano.

"Essa recessão moderada levará a um aumento da taxa de desemprego, para 13,3% (tínhamos 12,6% no cenário anterior). Para 2021, ainda esperamos que o PIB cresça 5,0%, com a taxa de desemprego encerrando o ano em 12,2%", completa.

O Itaú também espera uma inflação maior. Em 2021, a estimativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) passou de 8,7% para 9%. Em 2022, pulou de 4,2% para 4,3%.

"A fraqueza prolongada do real, embora de certa forma mitigada pela atividade econômica mais fraca e pela contenção de danos do Banco Central, nos leva a aumentar nossa projeção de inflação para 2022 de 4,2% para 4,3%."

Na visão do banco, o avanço da agenda de reformas seria necessário para uma melhora no quadro.

"A rápida retomada da agenda de reformas, incluindo medidas como uma reforma administrativa ampla, que fortaleceria a flexibilidade e resiliência fiscais, poderia ajudar a aliviar as condições financeiras e reduzir a incerteza."

"O teto de gastos praticamente morreu com as manobras da semana passada. Isso traz perda de credibilidade", analisa o economista Piter Carvalho, da Valor Investimentos.

"O mercado se torna pessimista porque fica no escuro. A confiança cai muito", completa.

A semana de decisão do novo patamar da taxa Selic, hoje em 6,25% ao ano, começou com mais instituições financeiras, além do Itaú, prevendo aceleração no ritmo de aumento dos juros.

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