Publicado em 23 de julho de 2020 às 15:45
As lojas começaram a reabrir após as medidas de distanciamento social, e os clientes retornam às compras lentamente. A percepção entre executivos do setor de comércio é que novos consumidores de diferentes faixas etárias e de renda aderiram à facilidade de comprar pela internet --e as vendas digitais devem se firmar em patamares superiores aos do pré-Covid.>
O varejo chegou a registrar uma perda de 36% no faturamento durante a pandemia, e a queda só não foi mais profunda devido ao desempenho do ecommerce, avaliam especialistas do segmento. Dados divulgados nesta quarta-feira (22) pela Neotrust/Compre&Confie, empresa de inteligência de mercado, dimensionam o movimento do consumidor.>
Entre abril e junho, no pico do distanciamento, 5,7 milhões de clientes fizeram a primeira compra pela internet. Segundo a empresa, trata-se de uma aceleração em relação aos novos consumidores do segundo trimestre de 2019, período comparável. Naquele momento, 4,3 milhões aderiram ao comércio digital.>
Essa parcela do consumo no Brasil ainda tem muito para crescer e nem todos são fiéis. Quem compra uma vez nem sempre volta a gastar na internet. No balanço de 2019, as vendas online atraíram 31,4 milhões de clientes únicos.>
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Apesar de as vendas presenciais estarem reagindo, a projeção em redes como Magazine Luiza, Via Varejo, Carrefour e mesmo Renner, do setor de vestuário, fortemente afetado pela retração, é que esses novos consumidores vão colocar o ecommerce em um nível maior do que o já registrado.>
Especialistas estimam que o comércio eletrônico cresceu cerca de 45% ao mês durante a pandemia. De acordo com a Cielo, cujo índice de varejo monitora transações de cartões de débito e crédito, em março, as vendas online subiram 0,4% na comparação a fevereiro --último mês sem medidas de restrição social.>
Comparando o desemprenho em meados de julho com fevereiro, as vendas online registram avanço de 41,5%.>
Os dados gerais ainda são desalentadores. A Cielo mostra queda de 15% na receita do varejo na pandemia, mas como a retração já foi mais que o dobro, o fôlego rumo a recuperação, com redução das perdas, é considerado positivo.>
É preciso considerar que o comércio não tem um desempenho linear. Enquanto supermercados e o setor de materiais de construção registram vendas até superiores na comparação com o ano passado, os segmentos de restaurantes e de vestuário têm uma longa recuperação pela frente.>
Nessa retomada, analistas veem como crucial a manutenção de investimento no comércio digital, mesmo que sua fatia no consumo ainda tenha baixa representação (menos de 5% antes da pandemia).>
"A abertura das lojas vai gerar uma migração contrária, mas os frutos desse empurrão rumo aos canais digitais que o consumidor viveu nos últimos meses vão se manter", diz Eduardo Yamashita, chefe de operações da consultoria Gouvêa Ecosystem.>
Ele projeta que, em cinco anos, o nível de presença dos canais digitais no varejo do Brasil alcance o mesmo patamar que se vê hoje nos EUA.>
No mercado americano, o ecommerce representava quase 11% do consumo em 2019. No Brasil, a participação do digital era de de 4,8% no pré-coronavírus. "Nas nossas projeções, o país chegaria a 11% em 2029, mas com a aceleração impulsionada pela Covid, isso deve acontecer até 2025", diz.>
As grandes companhias que conseguiram sustentar a operação pela internet também enxergam a tendência de um novo padrão de consumo no pós-crise, graças à captação de clientes e a ampliação no uso de plataformas populares no Brasil, como o WhatsApp.>
"Quem comprava no ecommerce eram consumidores com maior poder aquisitivo, era a Faria Lima, Copacabana, agora, o online está chegando nas classes C e D", diz Abel Ornelas, chefe de operações da Via Varejo, dona das Casas Bahia e Pontofrio, que tem 70% das lojas já abertas.>
A empresa diz ter 20 mil vendedores comercializando pelo WhatsApp. A operação via aplicativo ocorre até mesmo pelos vendedores que atuam no interior das lojas. Antes do coronavírus, o ecommerce representava 30% do faturamento empresa. A participação foi para 80% em abril, e a projeção é que empate com a venda física após a pandemia.>
Na segunda (20), a empresa publicou mensagens no Twitter, depois apagadas, dizendo que o isolamento provocou "mudanças na rotina de casa e, por consequência, nos hábitos de consumo online".>
Citou alta de mais de 2.500% nas vendas de games e câmeras, 1.900% nas de televisores e 1.400% nas de itens de informática e escritório de maio a junho. As publicações levaram a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) a abrir um processo administrativo para investigação. A companhia não comenta.>
O setor de super e hipermercados, que acumula alta de 16% desde março, foi um dos destaques positivos em vendas no período da pandemia. Como permaneceu com portas abertas, também vendeu itens de ticket médio maior, como eletrodomésticos.>
O ecommerce acompanhou esse cenário, com crescimento de pedidos no ramo alimentar e não alimentar, que segundo especialistas era inexpressivo no Brasil.>
O Carrefour contratou cerca de 5.000 pessoas em quatro meses, sendo 1.500 para atender a demanda de canais digitais, antecedendo mudanças que planejava fazer até 2022.>
"Revemos preços, oferta de produtos, ampliamos o market place, com produtos alimentares e perecíveis. Clientes que não estavam acostumados migraram para o ecommerce para buscar mais segurança. O setor alimentar não deve mudar esse comportamento", afirma Stéphane Engelhard, vice-presidente do Carrefour.>
Segundo ele, o auxílio emergencial de R$ 600 do governo e a parceria com aplicativos de entrega como a Rappi ajudaram a propelir o consumo e a captar consumidores. De forma geral, empresas menores do setor alimentício, como mercearias e mercados de bairro, também registraram aumento nas vendas.>
A lenta retomada econômica do varejo também é justificada pelos negócios que precisaram encerrar as atividades nos últimos meses.>
Além da impossibilidade do consumo em loja física, muitos tiveram problemas para acessar linhas de crédito, fizeram demissões ou ficaram impedidos de operar no curto prazo, como o setor de turismo e transporte, que amarga a pior queda de faturamento nos últimos meses, segundo a Cielo.>
Além disso, as grandes empresas que sustentaram bom desempenho na Bolsa de Valores diante da crise iniciaram o processo de adaptação digital há, no mínimo, três anos.>
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