Publicado em 30 de janeiro de 2024 às 20:28
SÃO PAULO - O Brasil fechou 430.159 vagas formais de trabalho em dezembro, mais do que o esperado por analistas, e encerrou 2023 com saldo positivo de quase 1,5 milhão de empregos, de acordo com dados do governo federal.>
O resultado negativo do mês passado foi mais intenso do que a expectativa em pesquisa da Reuters, de fechamento líquido de 372.341 empregos, e representou forte piora frente ao saldo positivo de 125.027 de novembro — dado revisado ante 130.097 informados anteriormente.>
O balando do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) foi divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego nesta terça-feira (30).>
Segundo a pasta, o rombo do mês passado reflete ajustes sazonais realizados todos os anos no mês de dezembro. Em 2022, no mesmo período, 431.011 vagas foram fechadas.>
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João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, diz que, descartados os efeitos típicos do encerramento do ano, o saldo de dezembro ficaria positivo em 55 mil postos de trabalho.>
O último mês do ano é considerado um período de ajuste dos setores da economia.>
Lucas Assis, economista e analista da Tendências Consultoria, aponta que as contratações feitas em setembro e outubro para atender a demanda temporária de Black Friday e Natal começam a ser desfeitas nesse período.>
"Em ano normal, [o resultado de] dezembro é bem negativo. Só não foi na pandemia, porque o mercado ainda estava recompondo a força de trabalho", diz Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador sênior da área de economia aplicada do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).>
O economista Matheus Pizzani, da CM Capital, diz acreditar que o resultado de dezembro possa ser fator importante para as próximas decisões de política monetária, "uma vez que apresenta um mercado de trabalho com comportamento condizente ao momento do ciclo econômico e de juros do país".>
Apesar do rombo visto em dezembro, em 2023 como um todo o país abriu 1,48 milhão de vagas formais.>
Para Lucas Assis, da Tendências, o resultado consolidado de 2023 mostra certa resiliência do mercado de trabalho durante o ano, contrariando expectativas de uma desaceleração maior na criação de vagas.>
O resultado ficou abaixo dos 2,01 milhões de empregos criados em 2022 e dos 2,78 milhões abertos em 2021 — anos em que o mercado de trabalho estava se recuperando do impacto da pandemia.>
De janeiro a dezembro de 2023, o mercado formal de trabalho registrou 23,26 milhões de admissões e 21,77 milhões de desligamentos.>
Na avaliação do pesquisador Barbosa Filho, da FGV, a safra recorde de grãos e as medidas adotadas pelo governo federal a partir da PEC da Transição (que liberou espaço no Orçamento) mantiveram a atividade econômica aquecidas, freando os efeitos de desaceleração inicialmente previstos.>
Entre os cinco grandes setores econômicos, todos tiveram criação líquida de vagas no acumulado do ano passado, e o maior crescimento do emprego formal ocorreu nos serviços, com saldo positivo de 886.256 postos de trabalho.>
Entre os destaques desse segmento, ao longo do ano surgiram 55.846 oportunidades formais em serviços de escritório e apoio administrativo e 30.093 em limpeza em prédios e domicílios.>
O setor de comércio teve abertura de 276.528 postos de trabalho, enquanto a construção civil viu a criação de 158.940 empregos. A Indústria gerou 127.145 vagas, enquanto a Agropecuária ficou em último lugar com 34.762.>
Todas as unidades federativas registraram saldo positivo de vagas formais no acumulado de 2023, com São Paulo na liderança com 390.719 postos. O Acre foi o Estado com menor criação de empregos, de apenas 4.562.>
Para o analista da consultoria Tendências, um destaque do resultado do emprego formal em 2023 é o volume de contratos não típicos, como o de aprendizes, temporários e intermitentes. Eles respondem por 17% do saldo de janeiro a dezembro.>
"Algumas dessas modalidade criadas pela reforma trabalhista começaram a ganhar adesão depois da pandemia", diz Lucas Assis.>
Entre as regiões do país, o Sudeste criou 726.327 empregos no ano passado, seguido por Nordeste (+298.188), Sul (+197.659), Centro-Oeste (+155.956) e Norte (+106.375).>
O salário médio real de admissão no último mês de 2023 foi de R$ 2.026,33, apresentando redução de R$ 6,52 frente ao valor corrigido de novembro, de R$ 2.032,85.>
A perspectiva do mercado formal em 2024 segue positiva, mas, a exemplo de 2023, a previsão é de desaquecimento da economia, e isso deve conter o saldo de vagas.>
Para Fernando de Holanda Barbosa Filho, do FGV Ibre, é possível que durante o ano haja alta no desemprego. O saldo entre contratações e demissões deve ficar positivo ao fim dos 12 meses, mas o resultado deverá ser menor do que o 1,4 milhão de postos de trabalho de 2023.>
Lucas Assis, da Tendências, diz que as projeções da consultoria para o PIB em 2024 estão em 1,5%. Para 2023, a expectativa é de 2,8%. Diante de uma atividade econômica de fôlego menor, os empregos formais também devem arrefecer.>
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