Administrador de Empresas (UERJ), pós-graduado em Engenharia Econômica (UERJ), certificado CFP® e Ancord. 21 anos de carreira no mercado financeiro, com passagens pelo atendimento Private, Alta Renda, Gestora de Recursos, Tesouraria e Educadoria Corporativa. Desde 2018, sócio da Pedra Azul Investimentos, escritório de assessoria de investimentos sediado em Vitória-ES.

Programa de descontos nos carros 'populares' é ação que não ajuda o país

A concessão de créditos tributários às montadoras é medida com prazo curto, custo alto e alcance limitado, beneficiando uma parte da população em detrimento dos demais

O programa de descontos idealizado pelo governo tem um alvo certo: o preço salgado dos veículos novos, que explodiram após a pandemia, muito em função da crise de suprimentos, em especial os semicondutores, essenciais para a eletrônica dos carros atuais.

Cabe lembrar que a inflação foi um fenômeno de alcance mundial, ocasionado principalmente pela queda das cadeias produtivas e logísticas nas fases mais agudas de restrições à mobilidade em meio ao avanço da Covid-19. Desde então, os carros estão entre os itens que mais se valorizaram.

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Desde a pandemia, os carros estão entre os itens que mais se valorizaram. Crédito: Shutterstock

Para resolver isso, a solução mais difícil de implementar, porém mais duradoura e que traz melhores resultados no longo prazo, é melhorar o ambiente de negócios e fortalecer o mercado de automóveis como um todo. Ao contrário do que muitos pensam, mais mercado traz mais competitividade, mais oferta de produtos e mais disputa pelo recurso escasso do consumidor, mantendo os preços baixos.

Isso passa por uma série de medidas, que nós, como país, temos sérias dificuldades de implementar, como reforma e simplificação tributária, abertura do mercado interno, redução da burocracia com melhoria dos processos públicos, incentivo à educação profissionalizante e investimentos em logística e infraestrutura, mesmo que seja por parcerias com entes privados.

Se a subida dos preços aconteceu pela ausência de mercado (quebra de cadeias, restrições de mobilidade, indisponibilidade de componentes e materiais), fortalecer o mercado com ações estruturantes é garantir que o brasileiro tenha sempre competidores ávidos para oferecer o melhor negócio e que o país passe a ser mais desejado e priorizado pelas grandes montadoras. Um mercado mais forte obriga as empresas a operarem com margem de lucro menor, buscando resultados com maior escala, assim como ocorre em mercados maduros, como os Estados Unidos.

No lugar disso, o governo decidiu pela solução fácil, mas que não muda nada além do curto prazo: usar o dinheiro público, que é meu e seu, para mostrar serviço, na obsessão de que as coisas fiquem mais baratas a qualquer custo. Isso com prazo máximo definido e limite no volume de crédito tributário concedido (leia-se desconto no imposto pago pelas montadoras). Portanto, assim que o limite total de descontos programado seja atingido, o programa é encerrado, podendo acontecer rapidamente.

No mais, é um programa que atinge uma parcela específica da população, aquela que consegue comprar um carro zero, incluindo caminhões, ônibus e vans, ou seja, uma minoria. Naturalmente, a queda nos preços dos carros novos fará cair o preço dos usados, mas quem tem um carro usado não tem qualquer incentivo para vender o carro, como as montadoras terão.

Portanto, a tendência é que o número de negócios com carros usados diminua, porque os proprietários vão preferir esperar o programa terminar para colocá-los à venda, a não ser que troquem por um carro zero e, nesse caso, entregando o carro usado por valor menor, o que anula o efeito do desconto, ao menos parcialmente.

Para as montadoras, será um fôlego para as vendas, que andam em baixa. Mas daqui a alguns meses, o Programa acaba, e tudo volta a ser como era antes, com as mesmas dificuldades que o país tem de ter um ambiente de negócios saudável, competitivo e forte, o que beneficiaria o consumidor de forma permanente.

Para pagar essa conta (sim, alguém precisa pagar a conta!), o governo vai reonerar parcialmente o diesel até o fim do ano. Ou seja, o programa de descontos beneficia as montadoras, incluindo toda a cadeia de fornecedores de peças e materiais, e a minoria da população que planeja comprar um carro zero, que, convenhamos, é um produto que está longe das pretensões da maioria.

E quem provê recursos para isso é o erário público, o dinheiro dos impostos recebidos pelo governo federal, mantido à custa de todos nós. Pensando desse jeito, o programa de descontos é mais uma maneira de transferir recursos de impostos de todos (especialmente os mais pobres) para um setor específico da economia, sem proporcionar uma melhoria duradoura.

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