Acompanhe os bastidores da folia, conheça os personagens que fazem a magia acontecer e descubra curiosidades da festa que enche a ilha de cor e som com Any Cometti, comentarista do Carnaval de Vitória

Em desfile de alto nível, sai prejudicado quem tem mais penalidades

Das sete escolas do Grupo Especial, três podem ser penalizadas por exceder o tempo e uma por problemas em alegoria. Campeã sai na quarta-feira (15)

Vitória
Publicado em 13/02/2023 às 15h52
MUG desfila no Sambão do Povo no Carnaval de Vitória 2023
Carnaval de Vitória está em uma crescente exponencial da qualidade técnica. Crédito: Fernando Madeira

Eu sei, querido leitor, que você esperava que eu desse aqui meu palpite das campeãs pra este carnaval. Porém, o que eu aprendi em quase 20 anos de escolas de samba é que, tanto quanto uma premiação pode ser óbvia, ela também pode ser completamente imprevisível. Cabeça de jurado é terra onde ninguém se cria e onde regulamento manda. Então, prefiro aguardar, e guardar meus palpites para mim mesma.

Dito isso, ponho que é difícil destacar uma escola favorita quando o nível dos desfiles é muito bom. De fato, o que vimos vindo nos últimos anos no Carnaval de Vitória é uma crescente exponencial da qualidade técnica, do fazer plástico e intelectual dos enredos e sambas, além de emoções que se ampliam — e atingem cada vez mais pessoas — com a popularização dos nossos desfiles.

Tem que desapegar

Logicamente, temos escolas de samba com níveis diferentes de gestão, tradição, tradicionalismo e inovação.

Se de um lado, agremiações com boas gestões de diretoria e presidentes se destacam por unir suas comunidades — e, principalmente, as panelinhas —, do outro temos as que se destacam justamente pelo contrário: dificuldade de lidar com novas posturas, com novos tempos e com novas gerações que demandam mudanças nos comportamentos.

"A tradição é lanterna", cantam Zeca Pagodinho e Diogo Nogueira na canção de Moacyr Luz. Pois é: lanterna. Não corrente, nem bússola.

Tradição é valor imensurável, mas o apego excessivo a ela não é virtude. Tudo o que dialoga com o novo, cai no esquecimento. Vira peça de museu: lindo de olhar e lembrar, mas sem qualquer utilidade.

Pagando bem, gente boa tem

Digo isso porque, no processo pré-carnavalesco, algumas agremiações perderam quesitos excelentes por acreditar que o "amor" ao samba deve prevalecer em relação aos estudos, técnica e aperfeiçoamento.

Escolas com quesitos padrão ouro perderam seus profissionais porque não quiseram aumentar o pagamento. Em outras agremiações, os mesmos profissionais atingiram níveis elevados e remunerações compatíveis. "Aumentaram o passe", e deram retorno.

O que muitos gestores ainda arraigados precisam entender é que tudo custa dinheiro. Um mestre-sala e uma porta-bandeira precisam ir à academia para adequar o corpo ao objetivo da dança. Precisam de sapatos para treinar. Precisam de vale-transporte para ensaiar.

Um carnavalesco precisa comprar livros, precisa ter acesso à internet e fazer cursos de redação para redigir um bom enredo, além de estudar plástica, costura e artesanato para produzir boas fantasias, de fácil reprodução e que caibam no orçamento da escola. Comissões de frente precisam de aulas de dança, de lugar para ensaios, de transporte e de mantimentos. E assim por diante, em cada um dos nove quesitos.

Perde quem não investe nos seus, quem não reconhece os talentos que desabrocham e quem não valoriza o renascimento e desabrochar a cada sinal verde na avenida.

Penalizações

Neste carnaval, com desfiles que estão praticamente pau a pau, ganha quem comete menos erros e apresenta um desfile mais coeso.

É claro que uma escola que foi penalizada pode ficar à frente de outra, que não teve nenhuma penalidade, se os quesitos julgados obtiverem uma pontuação melhor. É possível que, na apuração, quem foi penalizado se iguale ou até supere a pontuação de escolas que foram menos pontuadas em cada quesito. No entanto, dessa vez, pelo menos metade das escolas deve chegar na apuração com décimos — e até pontos — a menos em relação às outras.

Detalhes

A primeira escola a entrar na avenida, a mais antiga e por isso tida como "mais querida" pelos sambistas, a Unidos da Piedade teve problemas em um dos carros alegóricos. A alegoria apresentou problemas desde a concentração, pendendo para os lados quando era empurrada. Como a escola continuou entrando na avenida, o desfile abriu um "buraco" antes da primeira cabine de jurados.

Além dos pontos em evolução que pode perder por causa disso, a escola pode ainda largar na apuração com, pelo menos, meio ponto a menos em relação às outras escolas por ter extrapolado o tempo de desfile.

O regulamento da Liga das Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesge) prevê que a escola será penalizada em 0,1 por minuto ou fração de minuto extrapolado. A Piedade desfilou com 4 minutos e 57 segundos a mais em relação ao tempo máximo, que é de 62 minutos.

Sob o mesmo problema, a Unidos de Jucutuquara pode perder 0,2 por extrapolar o tempo de desfile, já que saiu da avenida com 63 minutos e 26 segundos. A escola também pode perder pontos em evolução na última cabine de jurados, já que apertou o passo para tentar passar dentro do tempo.

Novo Império também extrapolou o tempo limite em 1 minuto e 23 segundos, o que pode render uma penalidade de 0,2 ponto.

Uma das maiores penalidades pode recair sobre a Andaraí, que adentrou a avenida com o abre-alas desacoplado. Sem estarem ligadas, as duas partes são contadas como dois carros. A liga prevê que todas as escolas têm que ter três carros. O excesso ou ausência implicam em perna de pontuação. No caso da verde e rosa de Santa Martha, pode lhe custar um ponto.

Boa VistaMUG e Chegou o que Faltava passaram dentro do tempo previsto — máximo de 62 e mínimo de 52 minutos de desfile.

Cabe recurso

A Liesge deve comunicar as penalidades às escolas ainda nesta segunda-feira (13). Cabe recurso.

Apuração

Com um corpo de jurados 100% carioca, os desfiles são avaliados em nove quesitos: mestre-sala e porta-bandeira, harmonia, evolução, alegorias e adereços, comissão de frente, fantasias, enredo, samba-enredo e bateria.

Na quarta-feira (15), a partir das 15h30, saberemos qual escola levou os melhores quesitos para a avenida. E, principalmente, se a excelência será suficiente para superar as penalidades.

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