Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Sky Rojo": série espanhola da Netflix é divertida e muito ágil

Do mesmo criador de "La Casa de Papel", "Sky Rojo" acompanha três prostitutas em fuga. Série também discute tráfico internacional de mulheres

Vitória
Publicado em 20/03/2021 às 19h44
Atualizado em 20/03/2021 às 19h44
Série espanhola
Série espanhola "Sky Rojo", da Netflix. Crédito: TAMARA ARRANZ/Netflix

Após o sucesso global de “La Casa de Papel”, o criador da série, Alex Pina, se tornou um dos mais influentes produtores da indústria. Séries anteriores de Pina, como “Vis a Vis”, ganharam popularidade e novas temporadas, enquanto a boa fase o credenciava para experimentos como “White Lines”, em parceria com os criadores de “The Crown”. Resumindo, Alex Pina está com moral.

“Sky Rojo”, sua nova empreitada, já disponível na Netflix, mistura a estrutura narrativa de “La Casa de Papel” a um pouco do universo de “White Lines”. Situada na paradisíaca Tenerife, na Espanha, a série mergulha na vida de três profissionais do sexo, a espanhola Coral (Verónica Sánchez), a argentina Wendy (Lali Espósito) e a cubana Gina (Yay Prado). Por motivos diferentes, todas acabaram no clube controlado pelo cafetão Romeo (Asier Etxeandia, de “Dor e Glória”).

O primeiro episódio é frenético. As três protagonistas têm que fugir do clube após alguns acontecimentos (sem spoilers) e passam a ser perseguidas por Moisés (Miguel Ángel Silvestre, de “Sense 8”), capanga de Romeo. Elas partem, então, na jornada de crimes, assassinatos e drogas que acompanhamos durante os oito episódios de cerce de 25 minutos da primeira temporada.

“Sky Rojo”, como dito anteriormente, tem estrutura narrativa bem similar à de “La Casa de Papel”. A maior parte dos episódios é narrada por Coral intercalando o presente e os acontecimentos que a levaram até ali. Coral, ao contrário de suas colegas, trabalha como stripper por opção. Aos poucos, vamos entendendo o que aconteceu com ela e como desenvolveu seu vício em drogas.

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Série espanhola "Sky Rojo", da Netflix. Crédito: TAMARA ARRANZ/Netflix

Alguns outros episódios são narrados pelas outras duas protagonistas, e é quando entendemos que elas fazem parte de um esquema de tráfico internacional de mulheres - são recrutadas em seus países, normalmente em comunidades pobres, com a promessa de enriquecer na Espanha. Chegando lá, têm uma dívida com o cafetão e passam a trabalhar praticamente para pagar essa impagável dívida.

Colocar essa questão em pauta é interessante, uma vez que a Espanha é o terceiro país do mundo em consumo de prostituição, o primeiro da Europa, e boa parte das profissionais do sexo de lá vem de países da América Latina. “Sky Rojo” tira da profissão qualquer glamour que Hollywood possa ter dado a ela em outras produções: “você assistiu a ‘Uma Linda Mulher” e achou que poderia se apaixonar por um cliente?”, questiona uma das meninas em determinado momento.

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Série espanhola "Sky Rojo", da Netflix. Crédito: TAMARA ARRANZ/Netflix

Com uma temporada curta e episódios que raramente ultrapassam 30 minutos, “Sky Rojo” é uma série urgente do início ao fim. Todos os acontecimentos têm peso e se encadeiam de maneira a formar uma narrativa ágil e sempre em movimento. Mesmo quando o roteiro dá uma desacelerada e leva o espectador ao passado de uma das mulheres, ele intercala esses momentos com perseguições, viagens lisérgicas ou traça paralelos de situações passadas com a ação do presente.

A diversão rápida e sem grande profundidade aproxima “Sky Rojo” das obras de literatura “pulp”, revistas feitas com papel barato e marcadas por entretenimento simples, sem grandes pretensões artísticas. É interessante, assim, que o texto ainda busque profundidade não apenas às protagonistas, mas também aos vilões, principalmente Romeo e Moisés.

Série espanhola
Série espanhola "Sky Rojo", da Netflix. Crédito: TAMARA ARRANZ/Netflix

É interessante percebermos que os limites morais da série vão além do que o espectador imagina, mas como cobrar algum tipo de comportamento de mulheres que são vendidas a dezenas de homens por dia para realizar alguns fetiches inimagináveis? Como elas mesmas reforçam, seus limites já foram há muito tempo ultrapassados, o sexo e tudo o que o envolve é apenas um detalhe que a trama trata de maneira paradoxal - existe uma certe fetichização, mas o texto faz questão de mostrar tudo também pelo lado das mulheres.

“Sky Rojo” abraça a estética pop e faz ótimo uso da trilha sonora - de Joe Strummer a Beyoncé. A série mostra uma Tenerife distante do olhar do turista e tem edição que se assemelha a de um vídeo clipe. O elenco internacional (as atrizes são da nacionalidade das personagens) deve garantir a popularidade da série no grande mercado de língua espanhola. Há, sim, alguns momentos com excesso de didatismo - todos os planos são destrinchados detalhe a detalhe antes de sua execução, mas não chega a ser um incômodo em virtude da agilidade do texto.

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Série espanhola "Sky Rojo", da Netflix. Crédito: TAMARA ARRANZ/Netflix

A série de Alex Pina e Esther Martínez Lobato subverte o glamour que se espera de uma trama similar e investe no rasteiro - “Sky Rojo” é simples em sua linguagem e entrega diversão pop sem grandes complicações. Apesar disso, a série finca seus pés na realidade e faz de sua premissa uma denúncia.

Quando o oitavo episódio chega ao fim, o espectador já está tão preso àqueles acontecimentos que chega a ser frustrante quando o botão de “próximo episódio” não aparece em tela. “Sky Rojo” é empolgante e, principalmente, divertida, uma prova de que a dramaturgia pop espanhola tem se tornado uma das mais relevantes do mundo.

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