Mariana Reis é mestranda em Sociologia Política, Administradora , TEDex, Colunista e Personal Trainer

Não sem eles (e sobretudo com eles)

O livro trata sobre o quão importante é a participação dos pais e cuidadores dos autistas para a Educação e para a Psicanálise

Publicado em 25/01/2022 às 02h02
autismo
O livro deixa evidente que a vida plena é vivida quando a todos é ofertada a condição de pertencimento, sem exclusão. Crédito: Freepik

Dar espaço a pautas que nos ajudam a tornar a inclusão algo natural e cotidiano é uma das razões pelas quais mantenho essa coluna e essa conversa semanal com você. E por saber que sua companhia me estimula e me fortalece, gostaria de compartilhar hoje um livro essencial que traz o autismo em foco.

Escrito por pesquisadores do PIPA (e rabiola), Programa de Investigação Psicanalítica do Autismo, do Núcleo de Referência e pelos professores da Rede Municipal de Educação de Vitória, o livro intitulado Não sem eles trata sobre o quão importante é a participação dos pais e cuidadores dos autistas para a Educação e para a Psicanálise.

Um roteiro para quem segue no caminho da inclusão

Ao ler essa valiosa contribuição, senti a força desses profissionais que acreditam na capacidade das pessoas com autismo, e criam espaços para a sua inclusão, autonomia e segurança. Pessoas que, com coragem e iniciativa (sem falar da competência técnica) incluem no cotidiano escolar os marcos necessários para que os relatos e experiências sejam comemorados, mas não só. É importante ter argumentação científica, pesquisas, e muito estudo para trazer determinados assuntos para a pauta. O Não sem eles é uma delas.

Temos que fazer novas perguntas. Temos que questionar nossas ausências. Temos que modificar o sentido do que é normal. Este trabalho não é o primeiro da equipe do PIPA (e rabiola), que está presente em Vitória-ES e mais quatro cidades brasileiras: Rio de Janeiro- RJ, Teresópolis- RJ, Campina Grande- PB e São Paulo- SP. Podemos afirmar que o Não sem eles é uma das obras que mais norteia o caminho da inclusão para além das leis e diagnósticos.

Em cada linha, novos encontros

O livro foi lido numa tacada de final de semana, pois tem poesia e tem humanidade em suas linhas, e não me contenho quando mergulho na existência da sutileza para tratar sobre deficiência. Os encontros da psicanálise com o autismo tornam a leitura ainda mais fascinante, deixando às claras um esforço no sentido de derrubar os estereótipos e valorizar a diversidade.

Em muitas passagens do livro, Erving Goffman (sociólogo e antropólogo canadense 1922 – 1982) esteve presente para mim, principalmente quando nos diz: “Um estigma é, então, na realidade, um tipo especial de relação entre atributo e conceito, embora eu proponha a modificação desse conceito, em parte porque há importantes atributos que em quase toda a nossa sociedade levam ao descrédito”.

Todo saber traz uma potência em si

Ao se dedicar especialmente aos “que cuidam dos que precisam de cuidados”, o livro deixa evidente que a vida plena é vivida quando a todos é ofertada a condição de pertencimento, sem exclusão.

Foi muito importante saber durante a leitura o quão profundo está o debate sobre psicanálise e educação. Os temas mesclam autismo, escola, inclusão, medicalização e diagnóstico. Aqui se percebe o quanto a psicanálise valoriza e leva em conta “a potência do saber de cada um”. O que cabe a cada um (de nós), pais, educadores, no processo de aprendizagem dos alunos autistas é a mola propulsora para a participação social e gerenciamento de vida.

Em qual modo está o seu olhar?

Quando habilitamos o nosso olhar para o modo diversidade, conseguimos perceber as diferentes formas para ocupar este mundo, podemos dar valor ao quanto somos únicos e merecemos todos a possibilidade de existir plenamente. Por muito tempo, pessoas com autismo foram tratadas como doentes, foram motivo de constrangimento para famílias que preferiam escondê-las, gerando sofrimento para todos. No livro Não sem eles esse cenário é descrito de maneira diferente, com coragem e cheio de afetos, e que vale muito a leitura.

Já vejo o livro em forma de filme

Mudar a forma de ver e abraçar a diversidade permite que crianças com autismo desenvolvam todo o potencial que elas trazem. Sem dúvida, um olhar que muda a vida não apenas da criança, mas de toda a família.

Enquanto lia, imaginava um roteiro com cenas de um documentário, quem sabe? Se nossas vidas dão um livro, o Não sem eles pode aparecer na tela do cinema. Ele é instigante, importante e necessário a todos. Sem contar que tem argumentação teórica, é denso e humano. Tem respeito, emoção e sensações nele também. E é isso que nos conecta, não é mesmo?

Serviço

Para que quiser adquirir o livro e conhecer o trabalho do Pipa (e rabiola), pode ser através do Instagram ou pelo site

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.