É consultor e palestrante em Inovação e Estratégia

Existe vida política para além de esquerda e direita

Centro não significa em cima do muro, nem ser “isentão”. Posições firmes como democracia, economia liberal, segurança jurídica, liberdade de imprensa e cultura sem censura: esse é o caminho

Publicado em 09/11/2019 às 04h00
Atualizado em 09/11/2019 às 04h00
Esquerda e direita na política nacional. Crédito: Divulgação
Esquerda e direita na política nacional. Crédito: Divulgação

No aniversário de 30 anos da queda do Muro de Berlim, acontecido em 9/11/1989, ainda persiste um fenômeno que acomete muita gente originalmente de esquerda. Apesar de perceberem, no íntimo, que a utopia socialista não funciona, tem vergonha de admitir o engano e de serem tachados como direita, xingamento humilhante. Sem realizar o sonho de justiça social, permanecem agarrados a ele, na busca por uma alternativa que já passou pela Rússia de Stalin, pela China de Mao, pela Cuba de Fidel e até pela inexpressiva Albânia. Mas não conseguem criticar nem esses que mataram milhões, para não admitir o engano.

Mesmo que o delírio comunista só sobreviva em Cuba, Coreia do Norte, em mentes petistas e psolistas obstruídas e no ridículo socialismo bolivariano fake da Venezuela, a ficha ainda não caiu para muitos estudantes, professores e sindicalistas que, se não pregam a ditadura do proletariado mais, ainda acreditam que governos grandes é que fazem o desenvolvimento.

A desculpa para a situação precária de Cuba é o bloqueio americano, uma grande bobagem que Obama encaminhava para acabar e Trump estupidamente ressuscitou. Problema maior é a falta de liberdade de ir e vir, se comunicar e empreender (caminho seguido pela China), lá onde até recentemente mesmo os botequins eram estatais. Para essa esquerda desnorteada, Cuba é a sua Disneyworld, onde vão curtir seu passado e os sonhos de igualdade.

Para o resto do mundo, Cuba é um jardim zooideológico: todo mundo come raçãozinha (com filas), trata direitinho da saúde (é o que dizem), faz gracinha para os turistas, mas não pode sair da jaula. Os dissidentes que não fugiram para Miami estão presos ou já se acomodaram na jaula, junto com os desinformados sem acesso à variedade de informações. Esquerdistas perdidos ficam chocados ao ouvir isso. É como cuspir no prato que comeram.

Na outra ponta do espectro, há os radicais de direita que querem liberdade total e quem não consegue trabalho é vagabundo. Ora, se o Estado não conseguiu dar igualdade de oportunidades, nem acabar com a miséria, e mantém um nível absurdo de desigualdade, tem de oferecer programas sociais como uma renda mínima, defendida por nomes como Milton Friedman e Mark Zuckerberg.

O Brasil tem uma Bolsa Família, agregado de vários programas do governo FHC, criticada por quem não entende de pobreza. É só imaginar uma mãe (e são muitas) com quatro filhos, no interior do Nordeste ou no Noroeste do Espírito Santo, cujo marido sumiu ou nunca existiu e pensar como essa mulher vai conseguir emprego. Bolsa Família custa apenas 0,5% do PIB e serve principalmente para dar oportunidade aos filhos, com a obrigação de frequentarem a escola. Muitos partidários desavisados continuam atacando o Bolsa Família sem perceber que até o seu mito, surpreendentemente, já entendeu (ou se conformou) e deu 13º salário.

A direita raivosa e a esquerda atrasada dominam as redes sociais, tentando acuar as dissidências, até porque a polarização é interessante para ambas. O centro deveria se manifestar mais. Como disse recentemente o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite: “Coragem mesmo precisa quem tem a ousadia de ser ponderado”.

Centro não significa em cima do muro, nem ser “isentão”. Posições firmes como democracia, estado laico, economia liberal, bom ambiente de negócios, segurança jurídica, liberdade de imprensa, instituições fortes, justiça, educação, cultura sem censura, ciência e tecnologia, programas sociais, respeito à diversidade, acabar com a miséria e igualdade de oportunidades: esse é o caminho.

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