Bia Brunow é uma jornalista que virou cozinheira. Por aqui vamos ter muita cozinha afetiva, viagens e histórias contadas entre uma garfada e outra

A comida de boteco e sua surpreendente complexidade

Um bom petisco exige planejamento, organização e equipe alinhada. Em minha receita para o Roda de Boteco Colatina, Porquinhos Bêbados, uso a carne suína de três formas

Publicado em 22/11/2019 às 10h00
Atualizado em 27/03/2020 às 20h02
Porquinhos Bêbados: petisco criado para o Roda de Boteco Colatina 2019 . Crédito: Bia Brunow
Porquinhos Bêbados: petisco criado para o Roda de Boteco Colatina 2019 . Crédito: Bia Brunow

Minha aventura começou há mais ou menos um ano, quando escolhi trocar a vida na cidade (mais ou menos) grande para voltar às minhas origens nessa cidadezinha calorenta do Noroeste do Estado. Voltei para Colatina decidida a fazer da gastronomia minha profissão definitiva. A ideia era assumir a cozinha da recém-inaugurada Cervejaria Liverpub, além de fazer pequenos eventos, consultorias, cursos e jantares particulares. A coisa toda era um desafio porque o Liverpub já funciona há 11 anos, mas com a tradição de ser um negócio mais voltado ao entretenimento - leia-se música ao vivo e balada.

Começamos com um cardápio enxuto, petiscos fáceis e gostosos, porém simples, e tivemos uma boa aceitação. Mas eu estava a fim de cozinhar coisas mais diferentes. Então, inventamos o Especial da Semana: uma tábua para compartilhar, com alguns petiscos inspirados em pratos da culinária mundial. Era uma chance de inserir carnes diferentes, pescados, produtos sazonais e outras preparações para a mesa da cervejaria. Foi um sucesso e atraiu um público completamente diferente. Objetivo alcançado.

Quase um ano de Especiais da Semana e eu já estava quase esgotada de ideias. Foi então que chegou a proposta de entrarmos no festival Roda de Boteco de Colatina. A oportunidade era ótima: indo na contramão da proposta do Especial da Semana, eu teria que criar uma porção pequena de um petisco que seria vendido a R$ 19,90.

Colatina é uma cidade conhecida por ter botequins maravilhosos. Mas devo confessar que petiscos de boteco não eram exatamente o meu forte, embora eu adore comê-los. Tive que buscar na minha memória afetiva o que poderia surpreender os paladares, e ainda assim imprimir a identidade da cervejaria.

Optei por trabalhar a amada carne de porco de três formas, em porções pequenas, para que quem comesse tivesse vontade de repetir. Imaginei o petisco na cabeça e nem me dei conta de que, no dia de fazer as fotos, eu ainda não tinha testado algumas receitas. Como eram só fotos e eu não precisaria me preocupar tanto com o sabor naquele momento, fiz algumas mudanças para que, visualmente, o petisco chegasse no resultado que eu queria.

A primeira ideia era uma costelinha na redução de shoyu, gengibre e mel; milanesa de porco com maionese de ervas; e barriga de porco crocante com molho agridoce. Acontece que, no dia das fotos, não tinha shoyu. Então usei o nosso chope Stout para fazer a redução, junto com suco de abacaxi fresco. A mistura ficou tão boa que me fez mudar boa parte do petisco e usar, em cada preparação, um dos chopes da casa.

"Porquinhos bêbados”, concluímos. E assim surgiu nosso petisco do Roda de Boteco: barriga de porco crocante com geleia de pitanga e cerveja IPA; costelinha glaceada com cerveja Stout e abacaxi; e milanesa de porco marinado na cerveja Pilsen com maionese da casa.

Durante o processo de concepção e execução do prato, contei com a ajuda essencial dos meus colegas de cozinha: Roseli botando ordem e dando aquele toque final de tempero, Tio comandando as fritadeiras e pururucando as barriguinhas, e Bruninho na correria do pré-preparo e das finalizações. O ritmo frenético da nossa cozinha nesses dias, especialmente em função do festival, me mostrou o quanto um bom petisco, por mais simples que seja, depende de uma equipe bem formada e uma cozinha alinhada. Portanto, tome nota: do boteco mais simples à cozinha mais sofisticada, não há resultado sem sintonia.

O petisco fica no cardápio da cervejaria até o final do Roda de Boteco, no dia 1º de dezembro, e estará na festa de encerramento, o Botecão, no dia 8 de dezembro. Mas se você não está em Colatina ou não consegue vir à minha cidade provar, pode tentar fazer em casa. Confira então a receita do petisco Porquinhos Bêbados:

Milanesa de porco

Faça bifes finos com lombinho de porco e deixe marinando por, no mínimo, 30 minutos na cerveja Pilsen. Retire da marinada, seque bem os bifes, tempere com sal e pimenta e empane primeiro no trigo, depois no ovo e em seguida na farinha panko. Frite em óleo quente.

Maionese

Junte num liquidificador um dente de alho, um maço de salsinha, um maço de coentro, algumas cebolinhas verdes, uma colher de sopa de mostarda dijon, sal, pimenta-do-reino, duas colheres de sopa de vinagre de maçã e um copo de leite gelado. Bata e vá acrescentando fios de óleo até atingir o ponto.

Costelinha glaceada

Escolha costelinhas com boa proporção de gordura e carne e corte-as em tamanhos iguais. Tempere com sal e pimenta-do-reino e sele-as numa panela quente. Em seguida acrescente 1 pint de cerveja Stout, duas garrafas de suco de abacaxi concentrado, um pedaço de gengibre e meia xícara de açúcar mascavo. Deixe cozinhar até ficarem macias. Retire as costelinhas do molho, reserve e deixe o molho reduzir até formar uma calda.

Barriguinha de porco crocante

Faça uma salmoura com água, açúcar e sal. Deixe a barriguinha marinando por três horas. Retire, seque bem, e deixe-a cozinhando em banha de porco no fogo bem baixo. Quando estiver macia, retire e leve à geladeira de um dia para o outro. Frite em óleo quente até ficar crocante.

Geleia de pitanga e IPA

Junte numa panela as pitangas frescas, uma xícara de cerveja IPA e meia xícara de açúcar mascavo e deixe reduzir. Quando levantar fervura, as sementes da pitanga vão se soltar da polpa, aí é só retirar por cima e esperar adquirir a consistência ideal.

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